São Paulo, Quinta-feira, 02 de Setembro de 1999 |
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Abra os olhos para Kubrick
SÉRGIO DÁVILA Editor da Ilustrada Começa com a bunda nua de Nicole Kidman e termina com a palavra "fuck" ("transa", digamos assim, em inglês). "De Olhos Bem Fechados", de Stanley Kubrick, o filme mais quente do ano, estréia amanhã no Brasil depois de fracassar nos Estados Unidos e suscitar pelo menos duas polêmicas, uma delas longe de ser resolvida. O 13º e último longa do norte-americano Kubrick, que abre em 130 salas pelo Brasil, 31 em São Paulo (contra 48 de "Matrix" e 74 de "Star Wars"), não foi bem lá fora. Arrecadou US$ 54,5 milhões em 45 dias, US$ 10 mi menos do que custou e metade do que conseguiu no mesmo período o filme-sensação "A Bruxa de Blair" (custo de incríveis US$ 15 mil). A primeira polêmica não atinge diretamente os brasileiros. Para conseguir o certificado R, que permite que menores acompanhados dos pais vejam o filme, e não o temido NC-17, que proíbe e torna o filme boicotado em algumas redes de cinema e páginas de jornais, 65 segundos foram modificados digitalmente. Pessoas e objetos foram colocados sobre casais que simulam estar transando no ápice do filme, a já famosa orgia. A cópia que estréia aqui, no entanto, é sem a tola censura, tal qual a imaginou Kubrick. Mas é mesmo? Aí mora a segunda polêmica, que revive a cada grande praça a que o filme chega: teria o diretor ele-mesmo editado o filme? A história oficial é quase de conto de fadas: Kubrick entregou o filme do jeito que está ao estúdio Warner quatro dias antes de morrer, em 7 de março deste ano. Tom Cruise garante que lutou como um cão de guarda para que o desejo de "Stan" fosse cumprido e a obra ficasse intocada; a filha e herdeira do diretor, Christine, diz que tudo não passa de intriga de desocupados. Alguns críticos, porém, sentiram falta da mão do mestre na trilha sonora, na edição dos diálogos, em cenas redundantes, que poderiam ser cortadas. Talvez seja mesmo tudo elucubração, e "De Olhos Bem Fechados" seja "2001" sem a ficção científica ou "O Iluminado" sem o terror, apenas um belíssimo filme sobre "um casal em crise", como resumiu o próprio Kubrick. Lembre-se: começa com a bunda nua de Nicole. Termina com a palavra "fuck". E pode ser que Kubrick nem quisesse assim... Texto Anterior: Programação de TV Próximo Texto: Talento demais, cinema de menos Índice |
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