São Paulo, Quinta-feira, 02 de Setembro de 1999
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VENEZA
Scorsese adianta contornos de seu "sonho italiano"

do enviado a Veneza

Martin Scorsese não se conteve. Adiantou à imprensa italiana o formato geral de seu "Il Dolce Cinema" ("O Doce Cinema"), que conclui esta 56ª mostra no próximo dia 11. O diretor de "Taxi Driver" escreveu um breve artigo ("Mio Sogno Italiano", "Meu Sonho Italiano") para o jornal romano "La Repubblica" e concedeu um longo depoimento ao diário milanês "Corriere della Sera".
"Il Dolce Cinema" é o título provisório do documentário dedicado por Scorsese ao cinema italiano. "Concentrei-me no que foi mais pessoal, mais significativo para mim", afirmou o cineasta. ""Il Dolce Cinema" pesquisa também a ligação que sempre tive com meu pai, Charlie, e minha mãe, Catherine. Para mim", prossegue Scorsese, "esse documentário tem o significado de uma confissão pública, íntima".
Veneza vai assistir à primeira versão, ainda em vídeo, do capítulo inaugural da série. A duração é de noventa minutos, igual à da segunda e última parte. Scorsese a roteirizou ao lado dos italianos Suso Cecchi d'Amico e Raffaele Donato e do americano Kent Jones. Todo o material foi editado por sua tradicional montadora, Thelma Schoonmaker.
O clássico neo-realista "Paisà" (1947), de Roberto Rossellini, abre e fecha "Il Dolce Cinema". "Tinha 6 anos quando o vi pela primeira vez na televisão, ao lado de toda a família", lembra o diretor. "Desde então os filmes italianos tornaram-se elementos essenciais de minha formação."
Nada menos que nove filmes de Rossellini são celebrados pelo documentário: "Fantasia Sottomarina", "La Nave Bianca", "Roma, Cidade Aberta", "Paisà", "Alemanha Ano Zero", "O Milagre", "Francesco Giulare di Dio", "Stromboli" e "Viaggio in Italia".
"Il Dolce Cinema" apresenta trechos de cerca de 130 filmes, do clássico épico mudo "Cabíria" (1914) aos filmes de Bernardo Bertolucci. Scorsese deixou de fora os autores "contemporâneos demais de minha geração". "Se tivesse de apontar o nome de meus mestres, não hesitaria: Rossellini, De Sica, Antonioni, Pasolini. Num lugar à parte, todo seu, Fellini, e, num lugar de honra, "La Terra Trema", de Visconti."
"Pensei em "Accattone", de Pasolini, e em "Os Boas-Vidas", de Fellini, quando comecei a rodar "Caminhos Perigosos" em 1973", reconhece. "A Aventura", de Antonioni, "ensinou-me a leveza e o mistério do sentido do tempo."
A versão completa e cinematográfica de "Il Dolce Cinema" deve ficar pronta em meados do ano que vem. Não surpreenderá ninguém se for lançada em Cannes 2000. O festival francês teve a primazia de lançar o documentário anterior de Scorsese, dedicado à história do cinema americano e disponível em vídeo no Brasil. Não há previsão para o lançamento nacional de "Il Dolce Cinema". (AMIR LABAKI)


O crítico Amir Labaki viaja a Veneza a convite da organização do festival.


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