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São Paulo, quinta-feira, 02 de outubro de 2003

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MÚSICA

Um dos maiores em seu segmento, cantor americano executará canções brasileiras nos shows no Bourbon Street

Mark Murphy personifica a sobrevida do jazz vocal

EDSON FRANCO
EDITOR DE VEÍCULOS E CONSTRUÇÃO

Dá para contar nos dedos de uma mão os cantores de jazz contemporâneos que têm relevância. Pois bem, Mark Murphy, 71, o "indicador" desse grupo restrito, sobe hoje ao palco do Bourbon Street, em show que integra a série Diners Jazz.
Não é do feitio dele jogar confete sobre a própria cabeça. Mas, na hora de citar as grandes vozes contemporâneas, os músicos do estilo fazem coro para louvar o cantor e citá-lo como influência.
E a modéstia faz com que algumas criaturas recebam as luzes que seriam do criador. "Kurt Elling [cantor norte-americano de 35 anos] é um dos meus protegidos. Só que ele acaba roubando as minhas oportunidades de trabalho", disse Murphy, por telefone, em tom de brincadeira.
Mas a falta de espaço para o jazz vocal até nos EUA é coisa séria. Tanto que, apesar do reconhecimento desde 1961 -quando lançou o LP "Rah", o sexto da sua carreira-, o cantor se viu obrigado a procurar "asilo" na Europa no final daquela década.
"Não chegaria a dizer que os europeus entendem a minha música melhor do que meus compatriotas, mas o fato é que muitos discos meus só são encontrados em versões britânicas, belgas, holandesas e austríacas."
De volta aos EUA na década seguinte, ele assumiu o status de músico respeitado por seus pares e de dono de uma platéia seleta, mas restrita. "Esse é um problema mundial. Canto apenas para os reais aficionados do jazz."
Para afunilar ainda mais o acesso a sua obra, Murphy é adepto e difusor dos vocalises (técnica de criar e cantar letras sobre composições que foram concebidas como instrumentais).
Se por um lado essas músicas são terreno fértil para que ele espalhe a sua exuberância vocal, por outro desperta a ira dos jazzófilos, resistentes à audição de melodias originalmente executadas por trompete, saxofone ou piano.

Primeiro standard
Murphy começou a lapidar seus dotes vocais em casa, reproduzindo o que ouvia sair das bocas do pai e da mãe, ambos cantores. "Depois de um tempo, minha mãe parou, mas meu pai cantou até morrer, aos 57 anos."
Veio de casa também o primeiro contato com o jazz. Dessa vez, uma tia ensinou o menino a cantar seu primeiro standard, "Lullaby in Rhythm".
Depois, além das "aulas" que teve em discos de gente como Mel Tormé (1925-99) e Joe Williams (1918-99), Murphy passou a incorporar em seu repertório a música brasileira. Tanto que "Desafinado" faz parte de seu primeiro disco, "Meet Mark Murphy". Hoje ele se diz numa fase mais argentina, em que vem explorando a música de Astor Piazzola.
Para ajudar a diminuir a distância que separa a voz dos demais instrumentos, passou a ter aulas de piano. "Ainda toco, mas você não iria gostar de ouvir. Uso mais para compor."
Apesar de ter lançado em agosto passado o CD "Memories of You", Murphy diz que é impossível prever qual será o mote principal do repertório de hoje.
"Mas estou querendo cantar algumas músicas brasileiras. Para tanto, aproveito a nossa conversa para pedir licença às platéias daí."
Para ajudá-lo na empreitada, sobem ao palco Misha Piatigorsky (piano), Hans Dieter Glawischnig (baixo) e Gilad Dobreck (percussão).


MARK MURPHY. Show. Onde: Bourbon Street Music Club (r. dos Chanés, 127, Moema, São Paulo, tel. 0/xx/11/5095-6100). Quando: hoje, às 21h. Quanto: de R$ 65 a R$ 95.


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