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ARQUITETURA
Em sua quinta edição, evento se firma com regularidade e fluxo de arquitetos brasileiros e estrangeiros
Bienal reflete novos tempos de intercâmbio
Lalo de Almeida/Folha Imagem
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Visitantes deitados sobre foto de satélite da cidade de São Paulo, exposta na 5ª Bienal Internacional de Arquitetura e Design |
GUILHERME WISNIK
CRÍITICO DA FOLHA
Chegando à sua 5ª edição
em 2003, a Bienal Internacional de Arquitetura (BIA) completa um período de dez anos de
existência razoavelmente contínua. A mostra tornou-se independente da Bienal de Artes em
1973, em plena ditadura militar, e
sofreu uma interrupção de 20
anos até a segunda edição, em 93.
Nos últimos dez anos, além das
três edições seguintes da BIA
(1997, 99 e 2003), houve uma reativação na área de arquitetura. É
surpreendente constatar que, à
exceção de Oscar Niemeyer, praticamente todos os livros sobre
arquitetos brasileiros foram publicados a partir de 1990 (Lina
Bardi, Artigas, Oswaldo Bratke,
Lucio Costa, Reidy etc).
Também é recente o interesse
internacional pela produção brasileira pós-60, quase desconhecida fora do país até os anos 80, ou
seja, 20 anos. Desde Brasília não
se viam tantos arquitetos estrangeiros circulando aqui e arquitetos brasileiros participando de encontros e premiações no exterior.
Mas o país também mudou. Houve um redirecionamento das políticas públicas nas intervenções
urbanas e no enfrentamento da
pobreza.
Mais do que comentar as especificidades da atual BIA isoladamente, interessa nesse momento,
fazer um balanço do significado
das últimas bienais. A Folha entrevistou a historiadora de arquitetura Sophia Telles, integrante da
Comissão Executiva que conceituou a 2ª BIA, em 1993, e o arquiteto e historiador Lucio Gomes
Machado, curador, ao lado de
Luiz Fisberg, da 3ª e 4ª BIA (97 e
99).
Segundo Sophia Telles, esse
trânsito dos arquitetos deve-se
em parte, à abertura, na última
década, de áreas de pesquisa e
convênios que provocaram um
inédito intercâmbio acadêmico
com o exterior. Hoje é frequente o
contato com europeus e latino-americanos via universidade.
"Para ter idéia da situação fechada em que nos encontrávamos, a
exposição de Peter Eisenmann
trazida pelo Masp em 1993, mesmo ano da 2ª BIA, suscitou uma
reação, muito provinciana, aliás,
em defesa da "arquitetura nacional". Dez anos depois, sequer nos
preocupamos com os projetos de
Nova York na 5ª BIA, onde está o
mesmo Eisenmann. O trânsito de
mão dupla que vamos pouco a
pouco conquistando tem o enorme mérito de nos desprovincianizar, quer dizer, permite uma medida mais tranquila das coisas, lá e
aqui." E observa que na 2ª BIA
apontava-se a mudança de foco
para os problemas urbanos no
núcleo "Cidade e Território", que
tinha como idéia central contrapor as experiências de revitalização de cidades como Paris, Londres e Lisboa ao problema da periferia no Brasil, à nossa urbanização avassaladora pós-60. Mudança que só se realiza completamente agora, na 5ª BIA.
Para Gomes Machado, que assumiu a curadoria das duas edições seguintes, a Bienal ainda
cumpre o importante papel de suprir uma lacuna de informação
no meio profissional: "A revista
"Projeto" tira 20 mil exemplares, a
"AU" tira 15 mil, e a "Construção"
tira 70 mil. Se você pegar todos os
engenheiros e arquitetos que existem no Brasil, você vai ver que, no
máximo, 20% talvez leia uma revista. Isso é uma tragédia e explica
a arquitetura que está se produzindo. A Bienal é importante porque, como ela aparece na grande
mídia, dá uma balançada nisso".
Bienal Internacional de Arquitetura e Design
Onde: pavilhão da Bienal (parque
Ibirapuera, portão 3, São Paulo, tel. 0/
xx/11/5574-5922)
Quando: de seg. a qui., das 9h30 às 23h;
de sex. a dom., das 9h30 às 24h;
até 2/11
Quanto: R$ 10
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