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"STEAMBOY"
Dirigida por Katsuhiro Otomo, mais cara animação japonesa sai no Brasil
Desenho retrata era vitoriana e conflito entre homem e ciência
MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DA REPORTAGEM LOCAL
"Uma invenção que não tem
uma filosofia por trás de si
é uma maldição." A frase, do personagem dr. Lloyd Steam, evoca o
secular conflito entre homem e
ciência, tema central da animação
japonesa "Steamboy" (2004), dirigida por um dos mestres do gênero, Katsuhiro Otomo (de "Akira"), e recém-lançada em DVD.
A temática não é nova. Do
"Frankenstein" de Mary Shelley
às máquinas e ciborgues de Philip
K. Dick (autor dos textos que deram origem a "Blade Runner" e
"Minority Report"), os dilemas
das descobertas científicas, facas
de dois gumes na maioria dos casos, serviram de base para a ficção
em inúmeras ocasiões.
Em "Steamboy", que levou dez
anos para ficar pronta e é a mais
cara animação japonesa (custou
US$ 22 milhões) já feita, Otomo
leva o dilema ao momento em
que ele começou a fervilhar: a era
vitoriana da segunda metade do
século 19, quando a Revolução Industrial estava entrando em sua
segunda fase, e as invenções científicas, das mais práticas às mais
estapafúrdias, proliferavam.
Lloyd Steam e seu filho Edward
são pesquisadores que, financiados por uma corporação norte-americana, a Fundação O'Hara,
criaram uma espécie de motor superpoderoso -a "steam ball"-,
capaz de dar energia a máquinas
gigantescas e revolucionárias.
Um acidente -e a descoberta
de que a fundação utiliza a tecnologia para fabricar armas- acaba
colocando pai e filho em campos
opostos. Enquanto Edward segue
produzindo para os americanos,
o velho dr. Lloyd recorre a seu neto Ray para guardar uma das
"steam balls" e impedir que a
Fundação O'Hara continue a utilizar a ciência para o mal.
Duas gerações de pais e filhos
irão, assim, duelar -e o embate é
particularmente fascinante porque travado entre pessoas apaixonadas pela ciência e pelo avanço
da tecnologia em prol da humanidade; o ponto de discórdia é justamente o que pode ser definido como "avanço" e como se determina se algo é feito "em prol da humanidade".
O dinheiro e o tempo investidos
na animação são visíveis no resultado final: os cenários são deslumbrantes, e a Inglaterra de 1866
é reproduzida em detalhes -ainda que, inexplicavelmente, existam alguns anacronismos gerados por datas incorretas, como a
da Grande Exposição de Londres,
que aconteceu em 1851.
Nos extras do DVD, destaque
para uma das raras entrevistas do
diretor, que fala sobre o projeto.
Steamboy
Direção: Katsuhiro Otomo
Distribuidora: Sony; só para locação
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