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"Nova dramaturgia" contesta críticas
Sérgio Roveri, Mário Bortolotto e Newton Moreno respondem a comentários de que faltam "tendências e modernidade" na produção atual
Amir Haddad e Alcione Araújo apontaram suposta platitude do teatro brasileiro contemporâneo como razão do "boom" de remontagens
LUCAS NEVES
DA REPORTAGEM LOCAL
Os comentários do diretor
Amir Haddad e do escritor Alcione Araújo sobre a suposta
platitude da dramaturgia brasileira contemporânea, publicados anteontem na Ilustrada,
geraram contestações veementes de escritores e atores.
Ao elencar as possíveis causas para um "boom" de remontagens de comédias dos anos
80 (há três em cartaz em São
Paulo), o primeiro observou
que "faltam textos novos que a
gente se sinta estimulado a
montar". Já Araújo avaliou que
"as pessoas que têm algum talento para a escrita e para a
narrativa dramática estão optando pela TV ou pelo cinema".
Haddad, que assina a dramaturgia de "Brincando em Cima
Daquilo" (uma das peças do revival oitentista), viu na nova
versão de "Doce Deleite" "um
vazio dramatúrgico absoluto".
E julgou que a recém-estreada
releitura de "O Mistério de Irma Vap" "jamais será o acontecimento que foi naquela época
[86-97] por causa de dois atores maravilhosos [Marco Nanini e Ney Latorraca]".
Em e-mail, o ator Marcelo
Médici, que está em "Irma", diz
que seu intento "nunca será o
de participar de "acontecimentos" teatrais": "Se fosse assim,
ninguém poderia interpretar
Hamlet, Molière ou qualquer
espetáculo que já foi feito por
Procópio Ferreira, Sérgio Cardoso, Fernanda Montenegro,
Paulo Autran".
Riscos
Ele também responde à afirmação de Haddad de que "o sistema de estrelas se implantou
sem responsabilidade [...] A coisa brasileira ficou "farinha pouca, meu pirão primeiro'":
"Esse senhor não me conhece, não conhece meu trabalho,
assim como eu não o conheço,
tampouco seu trabalho. Portanto, o comentário não me cabe, e
a opinião dele pode ser leviana.
Qual a vantagem de parar meu
solo (autoral) "Cada um com
Seus Pobrema", em que tinha ingressos esgotados com dois meses de antecedência, e começar
um novo projeto, sem patrocínio, com todas as inseguranças,
dificuldades?".
Para Sérgio Roveri, indicado
ao Shell-SP 2008 de melhor autor por "A Coleira de Bóris", é
uma inverdade dizer que faltam
bons textos inéditos. "São Paulo
dá exemplos diários de que há,
sim, eventos e festivais baseados
em novos autores. Existe quantidade; pesquisando, descobre-se a qualidade."
O autor acha que falta disposição para correr riscos. "É mais
importante o desafio que traga
um ar de novidade, que empur-
re o teatro adiante do que a
aposta certa que não leve a lugar
nenhum, não mexe em estruturas. Como esperar que o teatro
tenha inovação, respiro, que caminhe, se você parte do princípio de que ele não tem nada de
bom agora e fica só atrás de sucessos comprovados, fórmulas
antigas?"
A réplica do dramaturgo e diretor Antonio Rocco a quem crê
faltar renovação na dramaturgia
brasileira virá durante o 1º Festival do Teatro Grotesco de São
Paulo (de 17/10 a 9/11), que ele
organiza. Da programação constam dez peças atuais.
"Remontar sob o argumento
de que não há nada novo de qualidade? Isso é um absurdo, coisa
de quem não pesquisou. Já há
algum tempo a dramaturgia voltou com tudo, principalmente
nas salas pequenas, onde é possível experimentar."
O tempo dirá
Em e-mail, o dramaturgo e
ator Mário Bortolotto, um dos
mais encenados no teatro paulistano atual, diz que "Doce Deleite", "Irma Vap" e "Brincando..." "buscam o entretenimento, pura e simplesmente":
"Não tenho nada contra [...]
Mas não pretendo mudar uma
vírgula na minha dramaturgia.
Se, por causa disso, quiserem
duvidar de sua qualidade, fiquem à vontade [...] Cada um na
sua, né? O tempo é que vai dizer
quem é que está certo".
Também por e-mail, Newton
Moreno, duas vezes vencedor
do prêmio Shell de melhor autor nos últimos quatro anos,
afirma perceber "um fortalecimento do dramaturgo contemporâneo": "O processo colaborativo solicitou sua presença, e
ele prontamente tem agido para organizar um discurso antenado com as questões de nosso
tempo e lugar".
Moreno frisa que "os clássicos devem ser sempre montados, e precisamos reverenciar e
aprender com os mestres", mas
que é necessário lembrar "que
faltam mais espaços para a formação do profissional".
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