|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
COMIDA
mi casa, su casa
Chefs abrem as portas da própria casa para jantares marcados pela informalidade
JANAINA FIDALGO
DA REPORTAGEM LOCAL
Na porta, não há valet, tampouco hostess. Você toca a
campainha, entra e encontra
gente conversando e bebericando em volta do sofá. Olha ao
lado e vê uma estante com livros, discos e objetos pessoais.
Eis que o cozinheiro vem dar
um oi para as "visitas", que se
sentam à mesa no lugar em que
quiserem. Tudo informal, como se fosse a casa de um amigo.
É essa atmosfera, que em nada lembra um restaurante, a
não ser pela comida e pelo fato
de que se paga pela refeição, o
diferencial dos restaurantes de
portas fechadas. Abrir a própria
casa para dar de comer aos amigos, aos amigos dos amigos e
até a desconhecidos é uma prática que conquistou novos
adeptos nos últimos meses.
Desde agosto, os chefs Demian Figueiredo e Pila Zucca
resolveram extrapolar as fronteiras do seu bufê, o Les Amis.
"No bufê, você tem de se adaptar à festa da pessoa, às restrições dela. Queríamos voltar a
cozinhar para poucos, arriscar
uma receita, ter mais controle
da situação", diz Demian.
Foi a partir dessa idéia e inspirado numa experiência portenha, a Casa Salt Shaker, que o
Les Amis de Portas Fechadas
nasceu. A cada mês, Demian
abre as portas do apartamento
onde mora para fazer quatro
jantares temáticos para apenas
12 pessoas (R$ 120 cada). Neste
mês, eles acontecem dias 9, 10,
23 e 24 e têm um pé na China.
"Tinha medo de não dar certo porque o brasileiro não tem a
cultura de ligar para reservar."
Aqui, esse é um capítulo à
parte, já que não há um telefone. Os jantares são divulgados
para um mailing. Quem quiser
tentar uma vaga, pode escrever
para o deportasfechadas@lesamiscozinha.com.br se
apresentando, "contando o que
gosta de comer". "Essa "dificuldade" filtra um perfil parecido."
"O que chamou a atenção foi
o formato não-convencional",
diz Cristian Resende, diretor
criativo da loja Doc Dog, que ficou sabendo dos jantares "por
e-mails de amigos". "É informal, mas, ao mesmo tempo,
tem essa formalidade de sentar
à mesa. Poderia ser um ritual
chato, mas não. É uma volta às
origens com uma cara nova."
Petit comité
Há cerca de um mês, as portas do sobrado da chef Roseli
Tejada já não se abrem só para
receber os amigos. Se alguém
tiver desejo de comer um prato
de família que ninguém mais
sabe fazer ou não quiser pensar
num cardápio, é só chamá-la.
Ex-chef dos restaurantes Colher de Pau e St. Tropez de Todos os Santos, ela recebe em casa pequenos grupos, de até seis
pessoas: "Queria ter espaço para fazer um laboratório, para
me manter atualizada e para
servir o que quiserem comer.
Se você contrata alguém para
cozinhar na sua casa, ainda é a
sua casa. Você fica comprometido em dar atenção. Na minha
casa, não. Quem vem aqui não
tem a obrigação de ser anfitriã".
Personalizados, os jantares
custam a partir de R$ 60 por
pessoa, de acordo com o número de pratos, ingredientes etc.
Quer jantar na casa da chef? É
só escrever para ela: jantando
comachef@ymail.com.
Uma casa mexicana
Há dois anos, a animada casa
da cozinheira Lourdes Hernández-Fuentes e do artista plástico Felipe Ehrenberg se abre periodicamente para uns poucos
sortudos. Esqueça os tex-mex
espalhados por aí. O que impera lá é comida mexicana de verdade, temperada com a hospitalidade do casal e uns bons tragos de tequila e mezcal -os encontros custam cerca de R$ 50.
Antes de se mudar para cá,
em 2001, Lourdes tinha no México um restaurante contíguo à
sua casa, "bem conhecido"
-por ele passaram de Lila
Downs a Pedro Almodóvar. À
época, dedicava-se às cozinhas
thai, indiana, vietnamita.
"Nunca tinha pensado na comida mexicana como fonte de
conhecimento para mim. O
Brasil me deu essa possibilidade", diz Lourdes, a "cozinheira
atrevida" -alcunha emprestada da coluna que escrevia em
seu país, ligando comida e sexo.
Os almoços ou jantares são
freqüentados por figuras conhecidas, como os cineastas
Fernando Mereilles e Beto
Brant, e não têm data certa para
ocorrer. "Depende do meu estado de ânimo", diz. O ânimo
pode vir da chegada de uma remessa de chili fresco.
Conseguir um horário num
dos dois "turnos", com só 26 lugares, é tarefa árdua -o próximo acontece domingo. Exímia
escritora, Lourdes dá uma dica:
"Quando chegam muitos "correios", dou preferência àqueles
simpáticos". Quer tentar?
guisandeira@gmail.com.
Texto Anterior: Crítica/teatro/"O Mistério de Irma Vap": Encenação virtuosa sobrevive à sombra do passado Próximo Texto: Crítica: Anita cativa com frango de "televisão de cachorro", em cozinha popular e saudosa Índice
|