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Crítica
Wenders vence barreira do tempo em "Tokyo-Ga"
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Uma dúvida que se instalou
desde que Wim Wenders filmou a morte de Nicholas Ray é:
quando se aproxima de um
grande cineasta, Wenders trabalha para conhecê-lo ou, ao
contrário, como um vampiro,
alimenta-se de sangue alheio?
É uma questão a não ser colocada com ligeireza, porque envolve pressupostos éticos e não
é possível julgar a sinceridade
de alguém. Mas a dúvida tende
a se instalar, quando vemos
"Tokyo-Ga" (TC Cult, 0h30;
não recomendado para menores de 12 anos), documentário
sobre o japonês Yasujiro Ozu.
Talvez não seja por culpa de
Wenders, mas de Tóquio. O fato é que Ozu retratou as mudanças no Japão com enorme
sensibilidade, sobretudo entre
o fim da guerra (1945) e sua
morte (1963). Mas o fez reservadamente, mostrando um Japão íntimo. Wenders chega a
uma Tóquio já muito mudada,
em 1985, e como estrangeiro.
Talvez o aspecto mais interessante do filme seja aquele
que é mais profundo em Wenders, sua cinefilia, que vence
até as barreiras do tempo.
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