São Paulo, sexta-feira, 02 de outubro de 2009

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Última Moda

ALCINO LEITE NETO, em Milão - ultima.moda@grupofolha.com.br

Escândalo em Milão

Jornalistas dizem que vulgaridade da era Berlusconi inspirou semana de desfiles italiana

Nos últimos dias da semana de moda de Milão, explodiu a polêmica. Críticas publicadas nos jornais "International Herald Tribune" e "Financial Times" chamaram de vulgar o sensualismo de alguns desfiles e atribuíram o fenômeno à influência exercida sobre os estilistas pelas aventuras sexuais do premiê Silvio Berlusconi.
"Há muitos vestidos picantes, audaciosos e sexies para vestir convidadas das famosas festas de Silvio Berlusconi", escreveu Suzy Menkes, do "International Herald Tribune".
"Não se sabe se conscientemente ou não, mas o verão de sexo do primeiro-ministro italiano entrou na imaginação dos estilistas e, dali, foi parar nas passarelas", observou a jornalista Vanessa Friedman, do "Financial Times".
Fotos divulgadas recentemente mostraram Berlusconi e amigos junto de prostitutas de luxo. O primeiro-ministro é também dono de redes de TV que adoram exibir jovens vestidas de maneira bem sexy durante a programação.
As críticas tiveram o efeito de mísseis atômicos sobre o meio fashion do país, já que as grifes pretendem vender outra imagem: a de uma moda elegante e sofisticada. "É um ataque incompreensível, fruto da inveja, porque, apesar da crise, a Itália é ainda o país líder da moda", respondeu Mario Boselli, presidente da Câmara Italiana de Moda. Não é a primeira vez que a crítica anglo-saxã ataca as vertigens sensuais dos estilistas italianos.
Para piorar, até mesmo Armani, que raramente faz concessões nessa direção, surpreendeu com alguns looks bem ousados na Emporio Armani e também na sua marca principal, a Giorgio Armani, cuja coleção foi inspirada... na escola Bauhaus.
Muito sexy também foi a Versace -o que era de se esperar, já que a grife sempre apostou nesse estilo. Mas é bom dizer que foi a melhor coleção da marca nos últimos três anos.
Baseada em "Alice no País das Maravilhas", a coleção subverteu amplamente as imagens vitorianas da personagem de Lewis Carroll. Ofereceu nas passarelas, na verdade, não belas Alices, mas deliciosas lolitas, em vestidos curtíssimos e justíssimos, em cores e estampas vertiginosas, com um notável arsenal técnico no que se refere aos materiais utilizados.
A Gucci, que também gosta de formas sedutoras, não negou a fama. Arriscou-se numa coleção difícil, baseada na roupa esportiva contemporânea, experimentando bastante com as modelagens. A estilista Frida Giannini ousou em cortes e desenhos geométricos e no interessante trabalho com canutilhos metálicos. O conjunto foi bem sucedido, produzindo uma espécie de imagem tecnoerótica muito provocativa.
Nem mesmo a Prada evitou o sensualismo, chegando a mostrar, talvez, os shortinhos mais curtos da temporada. Tão curtos, que alguém os confundiria com calcinhas. Decerto que na Prada tudo é feito com algum viés crítico, conforme o costume da grife, e o sexy não se impõe por si mesmo, mas como resultado de uma reflexão ou de uma provocação, digamos, de fundo intelectual.
A Dolce & Gabbana igualmente fez uma coleção muito sensual e bem sucedida. Paradoxalmente, sem explorar em demasia a nudez.
O erotismo veio mais da intensidade das formas -que reviram as referências sicilianas do passado da marca-, com looks de renda, passionais composições em preto e vermelho, energéticas estampas florais, além de ternos justos que davam às mulheres uma empáfia masculina muito insinuante.
A DSquared2 deixou a cidade e foi ao campo em busca de inspiração -ou melhor, ao camping. As referências à roupa de acampamento, no entanto, vieram mescladas com estilos mais citadinos, numa coleção debochada e muito versátil, com algumas boas ideias -como o uso do plástico em vestidos e o jeans mesclado de amarelo, como se a calça tivesse sido pintada da barra ao joelho.
Nem Armani, nem Prada, nem Dolce & Gabbana inovaram muito nos temas e nas formas, mas mostraram coleções fortes e fascinantes, determinadas a conquistar a laço as mulheres em tempos de crise.
Foi esse, aliás, o tom geral dos desfiles italianos, que deram expressão mais coerente a fórmulas que já haviam pontuado as semanas mais puritanas de Nova York e Londres.
Se depender dessas três fashion weeks, o próximo verão será decisivamente sexy e muito jovial, com vestidos curtos ou curtíssimos, shorts minúsculos, decotes generosos, cortes e recortes bem assanhados -quer queiram ou não os críticos de moda.

com VIVIAN WHITEMAN



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