|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Última Moda
ALCINO LEITE NETO, em Milão - ultima.moda@grupofolha.com.br
Escândalo em Milão
Jornalistas dizem que vulgaridade da era Berlusconi inspirou semana de desfiles italiana
Nos últimos dias da semana
de moda de Milão, explodiu a
polêmica. Críticas publicadas
nos jornais "International Herald Tribune" e "Financial Times" chamaram de vulgar o
sensualismo de alguns desfiles
e atribuíram o fenômeno à influência exercida sobre os estilistas pelas aventuras sexuais
do premiê Silvio Berlusconi.
"Há muitos vestidos picantes, audaciosos e sexies para
vestir convidadas das famosas
festas de Silvio Berlusconi", escreveu Suzy Menkes, do "International Herald Tribune".
"Não se sabe se conscientemente ou não, mas o verão de
sexo do primeiro-ministro italiano entrou na imaginação dos
estilistas e, dali, foi parar nas
passarelas", observou a jornalista Vanessa Friedman, do "Financial Times".
Fotos divulgadas recentemente mostraram Berlusconi e
amigos junto de prostitutas de
luxo. O primeiro-ministro é
também dono de redes de TV
que adoram exibir jovens vestidas de maneira bem sexy durante a programação.
As críticas tiveram o efeito de
mísseis atômicos sobre o meio
fashion do país, já que as grifes
pretendem vender outra imagem: a de uma moda elegante e
sofisticada. "É um ataque incompreensível, fruto da inveja,
porque, apesar da crise, a Itália
é ainda o país líder da moda",
respondeu Mario Boselli, presidente da Câmara Italiana de
Moda. Não é a primeira vez que
a crítica anglo-saxã ataca as
vertigens sensuais dos estilistas italianos.
Para piorar, até mesmo Armani, que raramente faz concessões nessa direção, surpreendeu com alguns looks
bem ousados na Emporio Armani e também na sua marca
principal, a Giorgio Armani, cuja coleção foi inspirada... na escola Bauhaus.
Muito sexy também foi a
Versace -o que era de se esperar, já que a grife sempre apostou nesse estilo. Mas é bom dizer que foi a melhor coleção da
marca nos últimos três anos.
Baseada em "Alice no País
das Maravilhas", a coleção subverteu amplamente as imagens
vitorianas da personagem de
Lewis Carroll. Ofereceu nas
passarelas, na verdade, não belas Alices, mas deliciosas lolitas, em vestidos curtíssimos e
justíssimos, em cores e estampas vertiginosas, com um notável arsenal técnico no que se refere aos materiais utilizados.
A Gucci, que também gosta
de formas sedutoras, não negou
a fama. Arriscou-se numa coleção difícil, baseada na roupa esportiva contemporânea, experimentando bastante com as
modelagens. A estilista Frida
Giannini ousou em cortes e desenhos geométricos e no interessante trabalho com canutilhos metálicos. O conjunto foi
bem sucedido, produzindo
uma espécie de imagem tecnoerótica muito provocativa.
Nem mesmo a Prada evitou o
sensualismo, chegando a mostrar, talvez, os shortinhos mais
curtos da temporada. Tão curtos, que alguém os confundiria
com calcinhas. Decerto que na
Prada tudo é feito com algum
viés crítico, conforme o costume da grife, e o sexy não se impõe por si mesmo, mas como
resultado de uma reflexão ou
de uma provocação, digamos,
de fundo intelectual.
A Dolce & Gabbana igualmente fez uma coleção muito
sensual e bem sucedida. Paradoxalmente, sem explorar em
demasia a nudez.
O erotismo veio mais da intensidade das formas -que reviram as referências sicilianas
do passado da marca-, com
looks de renda, passionais composições em preto e vermelho,
energéticas estampas florais,
além de ternos justos que davam às mulheres uma empáfia
masculina muito insinuante.
A DSquared2 deixou a cidade
e foi ao campo em busca de inspiração -ou melhor, ao camping. As referências à roupa de
acampamento, no entanto, vieram mescladas com estilos
mais citadinos, numa coleção
debochada e muito versátil,
com algumas boas ideias -como o uso do plástico em vestidos e o jeans mesclado de amarelo, como se a calça tivesse sido pintada da barra ao joelho.
Nem Armani, nem Prada,
nem Dolce & Gabbana inovaram muito nos temas e nas formas, mas mostraram coleções
fortes e fascinantes, determinadas a conquistar a laço as
mulheres em tempos de crise.
Foi esse, aliás, o tom geral
dos desfiles italianos, que deram expressão mais coerente a
fórmulas que já haviam pontuado as semanas mais puritanas de Nova York e Londres.
Se depender dessas três fashion weeks, o próximo verão
será decisivamente sexy e muito jovial, com vestidos curtos
ou curtíssimos, shorts minúsculos, decotes generosos, cortes e recortes bem assanhados
-quer queiram ou não os críticos de moda.
com VIVIAN WHITEMAN
Texto Anterior: Documentário "Brega S/A" registra a variedade da cena musical de Belém Próximo Texto: Destroços do prêt-à-porter inspiram coleção da Jil Sander Índice
|