São Paulo, sexta-feira, 02 de outubro de 2009

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CINEMA/ESTREIAS

Crítica/"Salve Geral"

Obra de Rezende é apenas uma boa aula sobre o PCC

"Salve Geral" trata de facção e do dia em que seus integrantes aterrorizaram SP

RICARDO CALIL
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

"Salve Geral - O Dia em que São Paulo Parou" é um filme sobre a relação de uma mãe (Andréa Beltrão) com o filho (Lee Thalor) que vai parar em uma cadeia paulistana. Depois, vira um filme sobre a relação dessa mãe com a advogada da organização criminosa Primeiro Comando da Capital (Denise Weinberg), que pode ajudá-la a tirar o garoto da prisão. Por momentos, parece ser sobre a paixão da mãe pelo líder do PCC (Bruno Perillo). Ou sobre a amizade do filho com um colega de cadeia (Michel Gomes).
Em meio a isso, é também um filme sobre os bastidores do PCC, da luta contra o poder e de como esse embate levou ao dia em que seus integrantes aterrorizaram São Paulo, em 2006.
Cada uma dessas premissas renderia um bom filme. Somadas, resultam num produto que não chega a ser desinteressante e se segura nas interpretações de Beltrão e Weinberg, mas que se mostra um tanto disperso e não oferece tempo para o espectador se sensibilizar com os laços que se formam ou se rompem entre personagens.
"Salve Geral", que representa o Brasil no Oscar, vem sendo acusado de apologia do PCC, num processo condenatório semelhante ao que ocorreu com "Tropa de Elite", mas com polos invertidos. Pelo viés cinematográfico (não ideológico), seria melhor que fosse assim.
Pelo menos o filme teria um ponto de vista mais claro, como havia em "Tropa". O problema de "Salve Geral" é recorrente no cinema brasileiro: a tentativa de explicar o Brasil -projeto fadado ao fracasso. O filme quer "apenas" dar conta da questão da segurança pública em SP, do funcionamento de uma organização criminosa e da falência do sistema carcerário.
Para que isso aconteça, é preciso que os personagens sirvam à trama -e não o contrário. Por isso, os protagonistas são "exemplares": uma mãe que mostra como funciona o PCC fora da cadeia, um filho que mostra como a organização é por dentro; os dois da classe média, o que facilita a identificação com o público (em papel de intermediação parecido com o do médico de "Carandiru").
É preciso ainda diálogos didáticos, que personagens falem como se discursassem. Um paradoxo interessante permeia a obra de Rezende. Há um enorme investimento na ideia de um cinema espetacular.
Em "Salve Geral", isso se traduz em tiroteios, explosões -cenas de ação filmadas com uma competência acima da média no Brasil. Mas também há uma estranha falta de fé no poder da imagem e do som, uma insistência em recorrer à palavra.
Conhecido por produções históricas como "Guerra de Canudos" (97) e "Zuzu Angel" (06), Rezende saiu de sua zona de conforto para encarar um episódio recente e polêmico.
Mas o filme ganha tratamento parecido ao do restante de sua obra: uma ilustração bem produzida de um personagem ou momento excepcional da vida brasileira. Da exibição de "Salve Geral" pode-se sair dizendo que foi uma aula de história. Mais difícil será afirmar que se viu um grande filme.


SALVE GERAL

Direção: Sérgio Rezende
Produção: Brasil, 2009
Com: Andréa Beltrão, Lee Thalor
Onde: Anália Franco, Bristol, Eldorado, Jardim Sul e circuito
Classificação: 16 anos
Avaliação: regular


Veja o trailer do filme e trechos de debate com o diretor, Sérgio Rezende

www.folha.com.br/092741


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