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CINEMA/ESTREIAS
Crítica/"Salve Geral"
Obra de Rezende é apenas uma boa aula sobre o PCC
"Salve Geral" trata de facção e do dia em que seus integrantes aterrorizaram SP
RICARDO CALIL
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
"Salve Geral - O Dia em
que São Paulo Parou" é um filme sobre a relação de uma mãe (Andréa Beltrão) com o filho (Lee
Thalor) que vai parar em uma
cadeia paulistana. Depois, vira
um filme sobre a relação dessa
mãe com a advogada da organização criminosa Primeiro Comando da Capital (Denise
Weinberg), que pode ajudá-la a
tirar o garoto da prisão. Por
momentos, parece ser sobre a
paixão da mãe pelo líder do
PCC (Bruno Perillo). Ou sobre
a amizade do filho com um colega de cadeia (Michel Gomes).
Em meio a isso, é também um
filme sobre os bastidores do
PCC, da luta contra o poder e de
como esse embate levou ao dia
em que seus integrantes aterrorizaram São Paulo, em 2006.
Cada uma dessas premissas
renderia um bom filme. Somadas, resultam num produto que
não chega a ser desinteressante
e se segura nas interpretações
de Beltrão e Weinberg, mas que
se mostra um tanto disperso e
não oferece tempo para o espectador se sensibilizar com os
laços que se formam ou se rompem entre personagens.
"Salve Geral", que representa
o Brasil no Oscar, vem sendo
acusado de apologia do PCC,
num processo condenatório semelhante ao que ocorreu com
"Tropa de Elite", mas com polos invertidos. Pelo viés cinematográfico (não ideológico),
seria melhor que fosse assim.
Pelo menos o filme teria um
ponto de vista mais claro, como
havia em "Tropa".
O problema de "Salve Geral"
é recorrente no cinema brasileiro: a tentativa de explicar o
Brasil -projeto fadado ao fracasso. O filme quer "apenas"
dar conta da questão da segurança pública em SP, do funcionamento de uma organização
criminosa e da falência do sistema carcerário.
Para que isso aconteça, é preciso que os personagens sirvam
à trama -e não o contrário. Por
isso, os protagonistas são
"exemplares": uma mãe que
mostra como funciona o PCC
fora da cadeia, um filho que
mostra como a organização é
por dentro; os dois da classe
média, o que facilita a identificação com o público (em papel
de intermediação parecido com
o do médico de "Carandiru").
É
preciso ainda diálogos didáticos, que personagens falem como se discursassem.
Um paradoxo interessante
permeia a obra de Rezende. Há
um enorme investimento na
ideia de um cinema espetacular.
Em "Salve Geral", isso se
traduz em tiroteios, explosões
-cenas de ação filmadas com
uma competência acima da
média no Brasil. Mas também
há uma estranha falta de fé no
poder da imagem e do som,
uma insistência em recorrer à
palavra.
Conhecido por produções
históricas como "Guerra de Canudos" (97) e "Zuzu Angel"
(06), Rezende saiu de sua zona
de conforto para encarar um
episódio recente e polêmico.
Mas o filme ganha tratamento
parecido ao do restante de sua
obra: uma ilustração bem produzida de um personagem ou
momento excepcional da vida
brasileira. Da exibição de "Salve Geral" pode-se sair dizendo
que foi uma aula de história.
Mais difícil será afirmar que se
viu um grande filme.
SALVE GERAL
Direção: Sérgio Rezende
Produção: Brasil, 2009
Com: Andréa Beltrão, Lee Thalor
Onde: Anália Franco, Bristol, Eldorado, Jardim Sul e circuito
Classificação: 16 anos
Avaliação: regular
Veja o trailer do filme e
trechos de debate com o
diretor, Sérgio Rezende
www.folha.com.br/092741
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