São Paulo, domingo, 02 de outubro de 2011

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Artista faz árvore de bronze em Inhotim

Giuseppe Penone rodeou escultura com plantas reais que vão incorporar obra à paisagem real de Minas Gerais

Italiano integrou a 'arte povera', movimento italiano dos anos 70 conhecido pelo uso de materiais precários

SILAS MARTÍ
ENVIADO ESPECIAL A BRUMADINHO (MG)

Debaixo de uma tenda, Giuseppe Penone foge do sol e olha para sua árvore de bronze. Ela está suspensa por hastes metálicas entre cinco plantas de verdade num descampado de terra vermelha.
Sua ideia é que as copas das árvores reais em torno da sua artificial acabem engolindo a escultura e fundindo as formas naturais às pensadas pelo homem, numa espécie de arquitetura ao contrário.
"Usei a árvore como matéria que se plasma no tempo", diz o artista italiano, que acaba de construir o trabalho no Instituto Inhotim, em Brumadinho, no interior mineiro. "É um material fluido."
Não é a primeira vez que ele usa árvores em seus trabalhos, mas, no caso do Inhotim,paraíso do magnata Bernardo Paz que mistura selva e arte contemporânea, a obra do artista se transforma.
Penone integrou a escola estética da "arte povera" (arte pobre) surgida na Itália nos anos 70. Pertenceu à geração de artistas que via na natureza ou em descartes do cotidiano as formas quase prontas de seus trabalhos. Uma ideia de que arte se constrói com nada ou quase nada.
Os conceitos do movimento ganham outras dimensões ao entrar em contato com a paisagem local, que vai dos descampados ainda não ocupados por obras aos jardins transformados por artistas como Doug Aitken, Cildo Meireles e Adriana Varejão.

IMAGENS AUTOMÁTICAS
"São imagens automáticas da nossa existência, toda obra parte da ideia de que ela é já existente", diz Penone. "Quando faço uma escultura, estou mostrando seu processo de fatura, é esse processo que se torna o conteúdo."
Em seus primeiros trabalhos, por exemplo, o artista interferia no crescimento das árvores, pregando objetos aos troncos para que fossem engolidos no desenvolvimento da planta.
Também embaralhou as raízes de três árvores, para que crescessem juntas.
Penone começa sem saber o resultado final, pensando a escultura como ato em transformação ao longo dos anos, da mesma forma que o corpo humano cresce e definha.
Seu próprio corpo está em muitos trabalhos. Ele chegou a replicar as formas das mãos e dos pés em argila e a estampar em chapas de vidro toda a extensão da própria pele num trabalho dos anos 70.
Duas décadas depois, reproduziu a textura da casca de árvores em pedaços de couro, na tentativa de mesclar peles vegetal e animal.
"São todas motivações ligadas à ideia de escultura, formas que ocupam um espaço", diz Penone. "Até a respiração produz formas diretas."
Essa ideia ele explorou em outra série, feita de vasos de argila com o mesmo volume de ar que ele calculou caber em sua boca. Agora, espera ver surgir, nas copas de suas árvores, uma espécie de catedral de folhas.

O jornalista SILAS MARTÍ viajou a convite do Instituto Inhotim.


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