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Cinema
Michel e Dani curtem vida de astros
Aos 11, os inexperientes atores de "O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias" são elogiados pela crítica e por coleguinhas
Finalista da Mostra de SP, filme estréia hoje; garotos foram selecionados em escolas judaicas paulistanas dentre mais de mil crianças
LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
"O Cao pediu para esquecer,
mas vou lembrar só desta vez.
No Rio, nossa, a gente chegou
e... flashes. Parecia metralhadora de luz branca, trururururu. A gente ficou cego."
Cao é Cao Hamburger, diretor de "O Ano em que Meus
Pais Saíram de Férias", que estréia hoje e é um dos finalistas
ao prêmio de melhor filme da
30ª Mostra Internacional de
Cinema de São Paulo.
Quem
transgride
sua "ordem"
de deixar para
trás os holofotes da pré-estréia do longa-metragem no Festival do
Rio é o estreante Michel Joelsas, 11, elogiado pela atuação
como o protagonista Mauro.
"A gente tem que esquecer
porque depois de dois dias ninguém mais lembra. É para não
subir à cabeça. Tem gente que
acha que tirou foto, virou top",
explica Daniela Piepszyk, 11,
que também nunca havia atuado e coleciona elogios da crítica
como intérprete da expressiva
Hannah, amiga de Mauro.
Michel e Daniela foram selecionados dentre mais de mil
crianças testadas em colégios
judaicos. No filme, ambientado
na Copa de 1970, Mauro é deixado pelos pais na casa do avô,
no Bom Retiro, e passa a conviver com Hannah e a tradicional
cultura judaica, que antes não
faziam parte de sua vida.
Mesmo antes da estréia em
circuito comercial, "O Ano em
que Meus Pais Saíram de Férias" mudou completamente a
rotina dos dois garotos paulistanos. Alçados repentinamente
ao "estrelato", eles agora dão
entrevistas e autógrafos. "Muita gente fala parabéns, é muito
diferente de uma vida normal.
Agora que colocaram pôster na
escola, nossa, o pessoal fala sem
parar", conta Michel, aluno do
colégio Peretz, na Vila Mariana,
na zona sul de São Paulo.
Mas nem tudo são louros.
"Tem gente mais velha, tipo da
sexta, sétima série, que fica
zoando: "Nossa, esse filme vai
ser uma porcaria'", diz Daniela,
estudante do Bialik, em Pinheiros (zona oeste da capital).
""Porcaria é a sua cara", responde pra eles", aconselha Michel, indignado. "Teve gente
que disse: "Ih, filme brasileiro...
Vai ser horrível". Eu respondo
que a gente já ganhou prêmio.
Respondo mesmo. Não é porque é brasileiro que é ruim.
Porque o governo dá menos dinheiro para cinema, pelo que
eu entendi", fala o pequeno astro, que depois de fazer o filme
decidiu que quer ser diretor de
fotografia quando crescer.
Daniela quer ser atriz ou artista plástica. "Nossa, é perfeito
o desenho dela, você tem que
ver", derrete-se o menino.
Antes do filme, os dois nem
se conheciam. Após as filmagens, tornaram-se amigos e
combinam de fazer teatro juntos no clube Hebraica. No longa, a amizade entre as duas
crianças desperta o primeiro
amor platônico pré-adolescente. Na vida real, Daniela nunca
teve namorado. Já Michel,
duas, "uma na época das filmagens e outra agora há pouco".
Namorados dessa idade dão
beijo na boca "uma vez a cada
ano, mas não de língua", conta
Michel. "Não vou falar mentira,
eu já selei. Tirei meu BVS [boca
virgem de selinho]. Achei que
estava na hora, era uma pessoa
que eu gostava muito."
Na nova vida de celebridade,
eles têm de perder aulas, mas
dizem ter aprendido com o filme. "Aprendi o que é solidariedade e que cinema é um trabalho que não é só você, tem muita gente, cada um numa área."
Daniela aprendeu que "nem
sempre o trabalho de atores é
reconhecido e que fazer cinema
não é brincadeira". Michel concorda: "É superdivertido, mas
com responsabilidade. A gente
se diverte trabalhando. Imagine se o mundo fosse assim: ganhar dinheiro brincando!".
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