São Paulo, quinta-feira, 02 de novembro de 2006

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Cinema

Michel e Dani curtem vida de astros

Aos 11, os inexperientes atores de "O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias" são elogiados pela crítica e por coleguinhas

Finalista da Mostra de SP, filme estréia hoje; garotos foram selecionados em escolas judaicas paulistanas dentre mais de mil crianças

LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

"O Cao pediu para esquecer, mas vou lembrar só desta vez. No Rio, nossa, a gente chegou e... flashes. Parecia metralhadora de luz branca, trururururu. A gente ficou cego."
Cao é Cao Hamburger, diretor de "O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias", que estréia hoje e é um dos finalistas ao prêmio de melhor filme da 30ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.
Quem transgride sua "ordem" de deixar para trás os holofotes da pré-estréia do longa-metragem no Festival do Rio é o estreante Michel Joelsas, 11, elogiado pela atuação como o protagonista Mauro.
"A gente tem que esquecer porque depois de dois dias ninguém mais lembra. É para não subir à cabeça. Tem gente que acha que tirou foto, virou top", explica Daniela Piepszyk, 11, que também nunca havia atuado e coleciona elogios da crítica como intérprete da expressiva Hannah, amiga de Mauro.
Michel e Daniela foram selecionados dentre mais de mil crianças testadas em colégios judaicos. No filme, ambientado na Copa de 1970, Mauro é deixado pelos pais na casa do avô, no Bom Retiro, e passa a conviver com Hannah e a tradicional cultura judaica, que antes não faziam parte de sua vida.
Mesmo antes da estréia em circuito comercial, "O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias" mudou completamente a rotina dos dois garotos paulistanos. Alçados repentinamente ao "estrelato", eles agora dão entrevistas e autógrafos. "Muita gente fala parabéns, é muito diferente de uma vida normal. Agora que colocaram pôster na escola, nossa, o pessoal fala sem parar", conta Michel, aluno do colégio Peretz, na Vila Mariana, na zona sul de São Paulo.
Mas nem tudo são louros. "Tem gente mais velha, tipo da sexta, sétima série, que fica zoando: "Nossa, esse filme vai ser uma porcaria'", diz Daniela, estudante do Bialik, em Pinheiros (zona oeste da capital).
""Porcaria é a sua cara", responde pra eles", aconselha Michel, indignado. "Teve gente que disse: "Ih, filme brasileiro... Vai ser horrível". Eu respondo que a gente já ganhou prêmio. Respondo mesmo. Não é porque é brasileiro que é ruim. Porque o governo dá menos dinheiro para cinema, pelo que eu entendi", fala o pequeno astro, que depois de fazer o filme decidiu que quer ser diretor de fotografia quando crescer.
Daniela quer ser atriz ou artista plástica. "Nossa, é perfeito o desenho dela, você tem que ver", derrete-se o menino.
Antes do filme, os dois nem se conheciam. Após as filmagens, tornaram-se amigos e combinam de fazer teatro juntos no clube Hebraica. No longa, a amizade entre as duas crianças desperta o primeiro amor platônico pré-adolescente. Na vida real, Daniela nunca teve namorado. Já Michel, duas, "uma na época das filmagens e outra agora há pouco".
Namorados dessa idade dão beijo na boca "uma vez a cada ano, mas não de língua", conta Michel. "Não vou falar mentira, eu já selei. Tirei meu BVS [boca virgem de selinho]. Achei que estava na hora, era uma pessoa que eu gostava muito."
Na nova vida de celebridade, eles têm de perder aulas, mas dizem ter aprendido com o filme. "Aprendi o que é solidariedade e que cinema é um trabalho que não é só você, tem muita gente, cada um numa área."
Daniela aprendeu que "nem sempre o trabalho de atores é reconhecido e que fazer cinema não é brincadeira". Michel concorda: "É superdivertido, mas com responsabilidade. A gente se diverte trabalhando. Imagine se o mundo fosse assim: ganhar dinheiro brincando!".


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