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Crítica/"O Preço da Coragem"
Drama tropeça em tom piedoso
Dirigido por Michael Winterbottom, "O Preço da Coragem" conta história de jornalista morto no Paquistão
PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA
Em maio passado, quando "O Preço da Coragem" foi exibido em
sessão de gala no Festival de
Cannes, fora de competição,
Angelina Jolie e Mariane Pearl
atravessaram juntas o tapete
vermelho.
Foi no mínimo curioso ver
atriz e personagem desfilando
lado a lado, diante de um mar
de fotógrafos.
Havia naquele ritual uma
aliança simbólica, uma espécie
de escambo de prestígio e fama.
Mariane Pearl, autora do livro
que inspirou o filme, emprestava sua história (real) em troca
de uma exposição inigualável;
Angelina Jolie (dizem por aí, a
mulher mais fotografada do
mundo) somava prestígio à sua
carreira e iniciava uma campanha para o Oscar de atriz.
Enquanto isso, o Festival de
Cannes ganhava o tão desejado
tumulto de fãs na porta do cinema, com direito a um brinde:
Brad Pitt, co-produtor e marido da estrela.
"O Preço da Coragem" conta
os dias de agonia entre o seqüestro e a morte de Daniel
Pearl, repórter do "Wall Street
Journal", marido de Mariane. O casal
de jornalistas cobriu o ataque
dos Estados Unidos ao Afeganistão após o atentado de 11 de
setembro e, mais tarde, mudou-se para o Paquistão.
Lá, certo dia, Daniel Pearl
(Dan Futterman) saiu de casa
para entrevistar um suposto financiador de terroristas e nunca mais voltou.
Cinco semanas depois, foi
decapitado pelo grupo que o
havia seqüestrado. Sua morte
foi gravada em vídeo.
Mas o horror da situação passa ao largo do filme. "O Preço da
Coragem" relata os dias do seqüestro do ponto de vista de
sua mulher e dos que tentaram
ajudá-la a encontrar e salvar
Daniel Pearl.
Michael Winterbottom, o
mesmo diretor de "Nesse Mundo" e "Caminho para Guantánamo", tenta compensar o fato
de já se saber o desfecho investindo nas minúcias da investigação (fracassada) e em sua câmera nervosa, dando aquele
tom de filme-reportagem e denúncia política que se tornou
sua marca registrada.
Nada, porém, consegue tirar
do filme o tom auto-piedoso e
auto-congratulatório das duas
partes: de Mariane Pearl, ao
mesmo tempo autora e heroína, e de Angelina Jolie, transformada pelo cabelo e pela maquiagem, economizando energias para "a grande cena do filme", quando chega a notícia da
morte do marido.
Em "O Preço da Coragem",
filme e evento não se separam,
com prejuízo para ambos. O
projeto de prestígio, o veículo
para seus criadores e a couraça
do discurso do "filme de qualidade" não escondem a fragilidade do filme em si, em que até
mesmo o nome de Michael
Winterbottom nos créditos é
apenas uma grife.
O PREÇO DA CORAGEM
Direção: Michael Winterbottom
Produção: EUA, Inglaterra/ 2007
Com: Angelina Jolie, Dan Futterman e Archie Panjabi
Quando: estréia hoje no Espaço Unibanco, Kinoplex Itaim, Pátio Higienópolis e circuito
Avaliação: regular
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