|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ARTIGO
Meu tipo "unforgettable"
WASHINGTON OLIVETTO
Ele nasceu no ano de 1938,
em Chicago, nos EUA.
Aos 15 anos, abandonou a escola e arrumou um empreguinho na McCann Erickson local.
Com 21, mudou-se para Nova
York. Aos 27, já era capa da revista "New Yorker" e tinha mesa cativa no Four Seasons. E,
com 34 anos, foi o mais jovem
eleito da história do Copywriters" Hall of Fame. No seu discurso de agradecimento, disse:
"Comecei no negócio da publicidade como office-boy, mas,
quando percebi que os melhores salários e as melhores mulheres ficavam com os caras da
criação, mudei para lá".
Seu nome é Ed McCabe.
Encontrei-o pela primeira
vez em setembro de 1975, no 1º
Festival Internacional do Filme Publicitário, no Rio.
Naquela época, Ed era dono
da Scali, McCabe, Sloves, agência que chegou a faturar US$ 1
bilhão por ano. O início dessa
agência, em 1967, marca uma
das histórias mais engraçadas e
bem-sucedidas da publicidade
mundial. Naquele ano, Ed dirigia a criação da Ally & Gargano,
vivia muitíssimo bem, mas queria mais. Ambicionava montar
sua própria agência mas para
isso precisava de clientes. Soube que a Perdue Chicken, na
época uma espécie de pequena
Sadia norte-americana, procurava uma agência.
Ed conseguiu uma reunião
com Frank Perdue, dono da
empresa, e percebeu na hora
que o homem se parecia com
um frango, tinha cara de frango. Resolveu dizer isso a ele, argumentando que ninguém melhor do que um sujeito com cara de frango para vender o próprio frango. Convenceu Frank
Perdue a ser o garoto-propaganda do seu produto.
A campanha foi um estouro,
a Perdue Chicken se transformou numa potência mundial, e
Frank Perdue estrelou seus comerciais durante anos e anos. A
Scali, McCabe, Sloves também
foi um estouro, acabou conquistando outras grandes contas, como a Volvo e a Maxwell, e
Ed McCabe virou milionário.
Conheci Frank Perdue em
dezembro de 2004, quando o
Museu da School of Visual Arts,
em Nova York, inaugurou a exposição "The Masters Series",
em homenagem a Ed McCabe.
Frank Perdue estava lá. Na época, o homem já estava com cara
de frango velho. Morreu em
abril de 2005.
Talento para empobrecer
Frank Perdue morreu, mas
Ed McCabe continua mais vivo
e menos milionário do que
nunca. Fato nada surpreendente pra quem, desde 1986, quando vendeu a agência e ficou bilionário, tem feito o possível e o
impossível para morrer pobre.
Só como retrospecto: no mesmo 1986, Ed se separou da segunda mulher e começou a namorar uma modelo francesa.
Dizia que sua principal intenção era aprender francês para
fazer o rali Paris-Dacar, mas eu,
que conheci a moça pessoalmente, posso garantir que seu
interesse por ela não era meramente lingüístico.
Namorou também Denise
Brown, a irmã mais bonita de
Nicole Brown Simpson, mulher
do astro do futebol americano
O.J. Simpson, e chegou até a
prestar depoimento durante as
investigações sobre o misterioso assassinato de Nicole.
Teve quatro barcos em diferentes países e naufragou com
dois em perigosas aventuras.
Ficou noivo de uma artista de
rua do Soho e quase casou com
ela. Só desistiu porque, um
pouquinho antes do casamento, a moça se declarou preferencialmente lésbica, fato que
ele comentava com os amigos
às gargalhadas. Enfim, Ed
McCabe aprontou feito louco e
torrou milhões de dólares.
Mas, antes disso e no auge da
fama e da fortuna, Ed conseguiu, como sonhava, ser o primeiro norte-americano a fazer
o rali Paris-Dacar, tendo como
co-pilota uma outra bonita namorada: a fotógrafa de moda
Carolyn Jones. No Paris-Dacar,
chegou a ocupar o sexto lugar
durante dois dias, mas encalhou numas dunas e só não
morreu abandonado porque foi
salvo pelo campeoníssimo e experiente Jacky Ickx.
A aventura do Paris-Dacar é
descrita no seu livro "Against
Gravity", publicado pela Warner Books em 1990.
Hoje, oficialmente aposentado e vivendo entre Nova York,
Marblehead e Anguilla, suas residências oficiais, Edward
McCabe ainda encontra tempo
e dinheiro (por enquanto) para
viajar pelo mundo.
Na última Semana Santa, foi
meu hóspede no Rio de Janeiro, na companhia de sua atual
namorada, a curadora de arte
nova-iorquina Karen Amiel.
Como moro em São Paulo, estive com meu hóspede apenas
três dos dez dias que ele passou
por lá, tempo mais do que suficiente para uma convivência
tão intensa.
Herdeiros
Entre dezenas de telefonemas, perguntas sobre os novos
restaurantes, palpites sobre a
política, as artes, a arquitetura
e o futebol brasileiros, caipirinhas, vinhos e grappas, Ed me
falou apaixonadamente sobre
os seus dois filhos, que refletem, individualmente, algumas
características opostas do pai.
Mark, o mais velho, é o Ed
McCabe doce e generoso. Médico-bombeiro, mora em Seattle e trabalha socorrendo gratuitamente as vítimas de incêndios. Colin, o mais novo, é o Ed
McCabe empreendedor e ambicioso. Criou há poucos anos a
Chop't Creative Salad Company, que está se transformando na Starbucks das saladas.
Ed morre de orgulho dos
dois. Ao Mark, dá seu apoio. Ao
Colin, suas idéias.
A última das idéias surgiu do
fato de que, além de ter as lojas
sempre lotadas, a Chop't Creative Salad tem também um
bem-sucedido serviço de delivery para escritórios. Como
Nova York é uma cidade plana,
esse delivery é feito a pé.
Observando o negócio, Ed
sugeriu ao filho que subvertesse a pergunta "Como estou dirigindo?", tradicionalmente colocada na traseira de veículos, e
mandasse fazer coletes para os
entregadores com a pergunta
"Como estou caminhando?"
impressa nas costas das peças.
A idéia virou moda em Nova
York.
Sorte de Colin McCabe, que,
apesar de não ter cara de salada, periga ficar bilionário com
as idéias do pai do mesmo jeito
que o senhor Frank Perdue,
que tinha cara de frango, ficou.
Este artigo é uma versão reduzida do publicado
originalmente na revista "Experience".
Texto Anterior: Série expõe sociedade de aparências Próximo Texto: Crítica/DVD/"O Conformista": Drama ressalta riqueza estética de Bertolucci Índice
|