Longa de Rachid Bouchareb se passa em Londres, após atentados terroristas

SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA

A vertente argelina na carreira do diretor e roteirista francês Rachid Bouchareb, 50, inclui "Bâton Rouge" (1985), sobre três amigos parisienses que tentam a sorte na Louisianna, "Cheb" (1991), em que um jovem encontra incompreensão ao retornar à Argélia, e "Dias de Glória" (2006), sobre soldados argelinos que lutaram pela França na Segunda Guerra Mundial.
Filmes de intenso caráter político, eles se baseiam no princípio do deslocamento, com personagens fora do seu lugar ou em busca de qual seria ele.
São assim como os que Bouchareb fez em sintonia com a África negra: "Little Senegal" (2001) e, agora, "London River", que valeu o prêmio de melhor ator no Festival de Berlim deste ano a Sotigui Kouyaté.
Nascido no Mali e criado no Burkina Fasso, em região pertencente ao antigo Império Mandinga, Kouyaté é um "griot", ou "senhor da palavra", segundo o próprio ator, com o papel de transmitir a genealogia do continente ao povo.
Ele integra, desde 1983, o Centro Internacional de Pesquisa e Criação Teatral, dirigido em Paris por Peter Brook. Em "Little Senegal" (2001), a presença simbólica de Kouyaté está a serviço de um senegalês que vai aos EUA em busca dos descendentes da família, capturados na África e levados como escravos à América 300 anos antes.
"London River" o traz como um pai que vai da França para a Inglaterra em busca de notícias sobre o filho.
Em Londres, o acaso o aproxima de uma viúva britânica (Brenda Blethyn) que, por sua vez, procura a filha, também desaparecida. A perambulação de ambos ocorre em julho de 2005, logo depois dos atentados terroristas à cidade.
Com a "guerra ao terror" como pano de fundo, Bouchareb examina em toada humanista como as diferenças escondem similaridades, e como a tolerância se tornou um valor a preservar, hoje, com afinco.