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PATRIMÔNIO
Angela Gutierrez doou 162 peças
Ouro Preto ganha museu de oratórios
CARLOS HENRIQUE SANTIAGO
da Agência Folha, em Belo Horizonte
O primeiro museu do mundo especializado em oratórios acaba de
abrir as portas em Ouro Preto
(MG). Com a participação de Milton Nascimento, a inauguração
aconteceu na última sexta-feira, na
igreja do Carmo.
O museu funciona na casa onde o
maior artista do barroco mineiro,
Aleijadinho (Antônio Francisco
Lisboa, 1738-1814), morou no século 19.
A colecionadora Angela Gutierrez, 48, doou seu acervo de 162 oratórios brasileiros e mais de 300
imagens para o museu, além de
gastar R$ 1 milhão para instalar o
prédio. Oficialmente, a coleção já
pertence ao Iphan (Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional).
Mas a colecionadora vai continuar administrando o museu, por
meio do recém-criado Instituto
Cultural Flávio Gutierrez.
Os oratórios foram encontrados
por Angela em fazendas e povoados de vários Estados brasileiros.
A maior parte do acervo é composta de peças feitas por artistas anônimos dos séculos 18 e 19, em Minas Gerais. Há desde oratórios feitos para serem levados no bolso até
uma ermida (pequena capela) com
3,20 metros de altura.
A pintura que decora um dos
oratórios é atribuída ao maior pintor brasileiro do período colonial,
Manoel da Costa Athaide.
Angela explica que os oratórios
são uma tradição ibérica, raramente encontrada fora dos países
ibero-americanos. O primeiro que
chegou ao Brasil teria vindo na caravela de Pedro Álvares Cabral.
Com o início da colonização, artistas brasileiros se dedicaram à
produção de oratórios, alguns
mais toscos e populares, outros seguindo os moldes europeus.
"O território era muito grande e
deserto, as estradas eram de difícil
acesso e as primeiras cidades muito distantes, o que tornou o oratório um objeto de fé necessário."
O acervo será distribuído nos
três andares da casa. No subsolo,
ficarão os oratórios de viagem,
usados por tropeiros, viajantes e
pedintes.
No térreo, o público poderá conhecer os oratórios feitos por artistas populares, na maioria de ascendência negra, que fundiram a
tradição religiosa européia com os
ritos trazidos pelos escravos da
África.
Os oratórios eruditos -mais luxuosos e bem-acabados, além de
decorados com ouro e prata- ficarão no segundo andar da casa.
O nome do instituto cultural é
uma homenagem ao pai de Angela,
o empresário e colecionador Flávio Gutierrez, que presenteou a filha, aos 14 anos, com a primeira
peça da coleção: um oratório mineiro esculpido há mais de 200
anos em um tronco de goiabeira,
com a imagem de Santana Mestra.
A idéia de criar o museu surgiu
depois que Angela expôs seu acervo na sede da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) em Paris.
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