São Paulo, segunda, 2 de novembro de 1998

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PATRIMÔNIO
Angela Gutierrez doou 162 peças
Ouro Preto ganha museu de oratórios

CARLOS HENRIQUE SANTIAGO
da Agência Folha, em Belo Horizonte

O primeiro museu do mundo especializado em oratórios acaba de abrir as portas em Ouro Preto (MG). Com a participação de Milton Nascimento, a inauguração aconteceu na última sexta-feira, na igreja do Carmo.
O museu funciona na casa onde o maior artista do barroco mineiro, Aleijadinho (Antônio Francisco Lisboa, 1738-1814), morou no século 19.
A colecionadora Angela Gutierrez, 48, doou seu acervo de 162 oratórios brasileiros e mais de 300 imagens para o museu, além de gastar R$ 1 milhão para instalar o prédio. Oficialmente, a coleção já pertence ao Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).
Mas a colecionadora vai continuar administrando o museu, por meio do recém-criado Instituto Cultural Flávio Gutierrez.
Os oratórios foram encontrados por Angela em fazendas e povoados de vários Estados brasileiros. A maior parte do acervo é composta de peças feitas por artistas anônimos dos séculos 18 e 19, em Minas Gerais. Há desde oratórios feitos para serem levados no bolso até uma ermida (pequena capela) com 3,20 metros de altura.
A pintura que decora um dos oratórios é atribuída ao maior pintor brasileiro do período colonial, Manoel da Costa Athaide.
Angela explica que os oratórios são uma tradição ibérica, raramente encontrada fora dos países ibero-americanos. O primeiro que chegou ao Brasil teria vindo na caravela de Pedro Álvares Cabral.
Com o início da colonização, artistas brasileiros se dedicaram à produção de oratórios, alguns mais toscos e populares, outros seguindo os moldes europeus.
"O território era muito grande e deserto, as estradas eram de difícil acesso e as primeiras cidades muito distantes, o que tornou o oratório um objeto de fé necessário."
O acervo será distribuído nos três andares da casa. No subsolo, ficarão os oratórios de viagem, usados por tropeiros, viajantes e pedintes.
No térreo, o público poderá conhecer os oratórios feitos por artistas populares, na maioria de ascendência negra, que fundiram a tradição religiosa européia com os ritos trazidos pelos escravos da África.
Os oratórios eruditos -mais luxuosos e bem-acabados, além de decorados com ouro e prata- ficarão no segundo andar da casa.
O nome do instituto cultural é uma homenagem ao pai de Angela, o empresário e colecionador Flávio Gutierrez, que presenteou a filha, aos 14 anos, com a primeira peça da coleção: um oratório mineiro esculpido há mais de 200 anos em um tronco de goiabeira, com a imagem de Santana Mestra.
A idéia de criar o museu surgiu depois que Angela expôs seu acervo na sede da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) em Paris.



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