São Paulo, segunda, 2 de novembro de 1998

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Evento exibe noite dedicada ao rock

do enviado a Los Angeles

Nada mais justo que abrir uma noite dedicada aos documentários de rock com os Beatles cantando "Get Back" num telhado. Era a volta, sim, daquelas imagens míticas à tela grande, de onde jamais deveriam ter saído. Instantaneamente, na noite da última quarta, um breve trecho de "Let It Be" bastou para transformar o imponente teatro Samuel Goldwyn, da academia, numa catedral pagã.
Era só o começo. O tom nostálgico contaminou o resto do programa, dividido em quatro partes (Os Famosos, Festivais, Performances e Da Guitarra ao Grunge).
No primeiro grupo, eis um pistoleiro sendo rendido entre o público de um show dos Stones em "Gimme Shelter". Jimi Hendrix tacando fogo literalmente na guitarra em "Monterey Pop". Nico e Lou Reed submetidos à câmera lisérgica de Andy Warhol. Os Sex Pistols satirizando o jubileu de prata da rainha Elizabeth com uma versão punk para "God Save the Queen".
Entre as ternas pausas, destaca-se o deslumbrante "close" de Joan Baez, que embala ao violão a escrita de um jovem e posudo Bob Dylan. Há ainda o reverendo Jesse Jackson, antes da política, apresentando o carismático Isaac Hayes ("Wattstax"). Ou Michael Ritchie mostrando que o encanto de Bette Midler um dia exigiu as dimensões épicas do Panavision.
Mas nem só de prazer vive o homem. Na quinta, foi a vez do poder. Dessa vez o programa foi dedicado a mostrar que o documentário não se limitou a registrar a história deste século do cinema -ajudou a mudá-la.
Betsy A. McLane, diretora-executiva do IDC3, selecionou 14 trechos. "Esses filmes representam o poder do documentário como meio de comunicação", sustentou.
Os clipes foram divididos em cinco grupos. O primeiro reunia os pioneiros: Edison do cinejornal nos EUA, Shub do filme de compilação na URSS, Vertov do experimentalismo também na URSS.
A segunda parte demonstrou a guerra publicitária, a favor e contra o nazismo. Corajosamente, reconheceu-se o talento, nefasto mas inegável, de Leni Riefenstahl.
A luta pelos direitos humanos nos EUA dos anos 60 foi lembrada por dois registros cinejornalísticos. Seguiram-se dois clássicos sobre o Vietnã e dois poderosos filmes de denúncia da corrida atômica. O engajamento do documentário na campanha de alerta para a epidemia de AIDS fechou a noite. Tese provada, mas não havia nostalgia aqui a celebrar. (AL)



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