São Paulo, sábado, 02 de dezembro de 2000

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Editora Cosac & Naify lança coleção em capa dura de textos em prosa exemplares

Por que ler os clássicos?

V.G.Chertkov/Divulgação
O escritor russo leon Tolstói (1828-1910), que terá dois livros, "O Diabo e Outras Histórias" e "Padre Sérgio", na coleção Prosa do Mundo, em foto feita no início do século




Série, feita de obras pouco difundidas no Brasil, começa com contos de Tolstói e romance de dinamarquês


CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL

O escritor Italo Calvino lançou a pergunta em um ensaio dos anos 70. Ao que tudo indica, enquanto houver livros ela vai continuar flanando em busca de novas respostas: por que ler os clássicos?
O paraense Samuel Titan Jr. foi um dos muitos que encontraram a pergunta voando em sua frente. E, antes que ela fugisse, o tradutor e ensaísta tratou de dar a sua resposta do melhor modo possível: com clássicos.
Eles estão chegando às livrarias. Na próxima quarta, as estantes devem receber os dois primeiros títulos da coleção Prosa do Mundo, primeiro lançamento literário da prestigiada editora Cosac & Naify, que vinha trabalhando apenas com artes plásticas desde sua criação (leia abaixo).
Os livros da série coordenada por Titan Jr., que tem como conselheiros editoriais os críticos e professores da USP Davi Arrigucci Jr. e Augusto Massi, vão seguir o padrão gráfico usual da editora: papel cuchê e capa dura, raros em volumes nacionais de literatura.
A boa impressão, porém, não é a que fica em primeiro plano. O "impressionante" da coleção é a escolha dos títulos, muitos deles clássicos inéditos em português, o uso de prefácios e apêndices de categoria inconteste e a aposta em alguns dos tradutores mais destacados do país, trabalhando só com a língua original dos textos.
Os dois primeiros exemplares da série são "O Diabo e Outras Histórias", do russo Leon Tólstoi, e "Niels Lyhne" (R$ 35 cada), a primeira obra em português do maior romancista dinamarquês do século 19, Jens Peter Jacobsen, do qual só havia traduções de contos, como uma para a série Mar de Histórias.
Essa coleção de contos, dirigida por Aurélio Buarque de Holanda e Paulo Rónai, é, por sinal, um dos modelos nos quais se baseia a série Prosa do Mundo.
"A coleção pretende sanar a falta de boas traduções e lançar clássicos nunca publicados em português, livros de autores centrais em outras tradições", diz Titan Jr..
De acordo com Massi, a série pretende ter "uma certa organicidade". "Não queremos só antigos, nem só modernos. Também buscamos contemplar nela todos os grandes gêneros da ficção ocidental. Há representantes do picaresco, do conto filosófico, do realismo do século 19, do romance histórico, da narrativa breve."
Entre os mais de 20 títulos em fase de produção para a série, estão, por exemplo, "O Asno de Ouro", de Apuleio (séc. 1 a.C.), que está sendo traduzido do latim por João Angelo Oliva, e "Fim de Partida" (leia trecho inédito), peça de Samuel Beckett (1906-1989).
"Como o nome da coleção indica, a idéia é trazer narrativas de diversas partes do mundo", conta Titan Jr.. "O grande problema para ampliarmos esse espectro tanto quanto gostaríamos é a falta de bons tradutores para alguns idiomas. Não traduziremos por tabela. Só do original."
Se a coleção tem obras sendo traduzidas do italiano, alemão, russo, francês e inglês, é do espanhol a obra que vem como uma das grandes apostas da coleção.
"Vamos publicar pela primeira vez em português os grandes "Contos Fantásticos", de Felisberto Hernández, um excelente escritor", vibra Massi, que diz ter passado por uma "novela" para conseguir os direitos da obra.
Como tradutor, o uruguaio nascido em 1902 e morto em 1964 terá o outro conselheiro da coleção, o prestigiado crítico literário Davi Arrigucci Jr., que não assina um grande projeto de tradução desde 1974, quando transpôs "Prosa do Observatório", de Julio Cortázar.
"É preciso alertar que não queremos dizer que os clássicos nunca foram bem traduzidos e que nós chegamos para mostrar como é que se faz", diz Massi.
Em tempo, Samuel Titan Jr. responde à pergunta de Calvino com uma frase de Jorge Luis Borges. Clássicos são os livros lidos por gerações anteriores com prévio fervor e misteriosa lealdade. Por isso merecem ser lidos.


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