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MPB/CRÍTICA
CD "Falando de Amor - Famílias Caymmi e Jobim Cantam Antonio Carlos Jobim" traz raridades e descobertas
Clãs Caymmi e Jobim fazem belo tributo a Tom
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Se não bastassem o entrosamento de décadas entre as
duas famílias e delas com a música de Tom, o CD "Falando de
Amor -°Famílias Caymmi e Jobim
Cantam Antonio Carlos Jobim"
também é mais do que um mero
tributo graças a algumas jóias verdadeiramente novas.
Uma delas é "Bonita Demais".
Elianne Jobim, nora de Tom, descobriu recentemente a letra até
então inédita feita por Vinicius de
Moraes para "Bonita", como a
música é conhecida. Só se sabia da
versão (em inglês) de Gene Lees e
Ray Gilbert, que tanto dinheiro
ganharam às custas de Tom e Vinicius. A letra é linda, e Daniel Jobim a interpreta bem.
Outra jóia é "Para Não Sofrer
(Velho Riacho)", que estava esquecida em dois discos antigos,
mas não fora gravada por Tom,
autor da melodia e da letra. Interpretada por Paulo Jobim e Dori
Caymmi, a composição é simples,
para os padrões jobinianos, mas
de comovente delicadeza.
E a melhor surpresa que traz o
CD é "Canção para Michelle", que
Tom compôs em 1985 para a minissérie "O Tempo e o Vento"
-trilha que está sendo relançada
agora, aliás-, mas que não tinha
letra. Ronaldo Bastos, que foi parceiro do maestro naquele projeto,
fez neste ano os versos e os entregou a Nana Caymmi.
"Eu torturei o Ronaldo durante
16 anos por causa dessa letra. Mas
valeu a pena. Receber agora foi
apenas o máximo", comemora
Nana, que a canta com a perfeição
habitual, acompanhada apenas
do piano de Daniel.
Autoria
Idealizadora do projeto, Nana é
a estrela do CD. Faz um bom dueto com o irmão Danilo em "Falando de Amor", um ótimo com
Paulo Jobim em "Foi a Noite" e
engole o disco em canções que
nasceram para que ela as gravasse: "As Praias Desertas", "Esperança Perdida", "Esquecendo Você", "Outra Vez" e "Só em Teus
Braços", em especial as três primeiras, mais lentas, de amor mais
rasgado.
"Esse disco eu considero leve,
não é para as pessoas chorarem. É
fundo musical de motel perto do
que eu quero fazer com a obra do
Tom. Eu quero gravar um para tirar sangue", promete ela, que já
fez isso com as obras de Dolores
Duran e do pai, Dorival.
As duas famílias não associam o
novo disco ao histórico "Caymmi
Visita Tom (e Leva seus Filhos
Nana, Dori e Danilo)", de 1964. E
fazem bem, já que não há nenhuma relação, seja no clima ou no
repertório. "Tom não está mais
aqui. E papai não está mais cantando", resume Nana.
Até por fugir de marcas do passado, soam melhores no CD as
músicas que ganharam novos
ares, como as já citadas e "Anos
Dourados", parceria de Tom e
Chico Buarque que Dori Caymmi
cantou e arranjou de modo bem
próprio -e leve.
"Desafinado" (com Paulo Jobim), "Eu Sei que Vou te Amar"
(com Danilo Caymmi), "Corcovado" (com Daniel Jobim), "Samba do Avião" (com todos) e "Piano na Mangueira" (com os quatro
homens) são escolhas um tanto
óbvias.
Mas são interpretadas com
enorme conhecimento de causa
por gente que conhece a obra de
Tom até pelo avesso. Acompanhados de ótimos músicos (Jorge
Helder, Paulo Braga, Paulo Guimarães), os clãs rendem bela homenagem ao patriarca dos Jobim.
Falando de Amor - Famílias Caymmi e Jobim Cantam Antonio Carlos Jobim
Lançamento: Sony BMG
Quanto: R$ 27, em média
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