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Audioslave vai a Cuba sem política
MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DA REPORTAGEM LOCAL
Visitar Cuba nos áureos tempos
da União Soviética, que sustentava financeiramente a ilha, e do sonho socialista era, mais que turismo, um atestado ideológico.
Mas a visita que a banda Audioslave fez à ilha em junho passado (a primeira de um grupo norte-americana de rock), para gravar seu primeiro DVD ao vivo,
não teve o objetivo de ser uma
pregação política pró-regime cubano, afirma o vocalista Chris
Cornell em entrevista à Folha. De
qualquer modo, uma viagem de
um grupo dos EUA ao país governado por Fidel Castro nunca é um
simples passeio turístico.
O Departamento do Tesouro
norte-americano precisou aprovar a viagem, o que não foi simples. "Eles implicaram com a
questão dos gastos para o show na
ilha, queriam saber para onde iria
o dinheiro. Implicaram com o fato de tirar dinheiro dos EUA para
Cuba -o que é proibido-, com
o fato de um vídeo feito em Cuba
ser vendido comercialmente... tudo era um problema, não podíamos gastar mais do que US$ 70 ou
algo assim por dia, uma quantia
que mal dava para comer, porque
eles não queriam que deixássemos dinheiro americano lá", explica Cornell.
O show do grupo que ascendeu
das cinzas do Soundgarden (de
onde veio o vocalista Chris Cornell) e do Rage Against the Machine (de onde vieram Tom Morello
com a guitarra, Tim Commerford
com o baixo e Brad Wilk com a
bateria) foi realizado sem cobrança de ingressos, em Havana, para
mais de 60 mil pessoas.
"Nossa ida à Cuba teve a ver
com a música, pagamos para ir
tocar em um lugar que não tem a
chance de ver uma banda de rock
como a nossa, basicamente porque nosso país não deixa ninguém ir para lá. Conseguimos
romper isso e acho que fomos recebidos não como pessoas que
concordam com a política cubana
ou como representantes da política norte-americana, mas como
músicos que foram lá mostrar
suas canções", afirma Cornell.
No quesito "canções", a propósito, a banda aproveitou para
mostrar não apenas as músicas de
seus dois discos (incluindo hits
como "Like a Stone" e "Cochise")
como também para investir no
repertório dos dois grupos que
lhe deram origem. Do Rage
Against entraram a explosiva
"Bulls on Parade" (sem vocais) e
"Sleep Now in the Fire". Do
Soundgarden, tocaram "Outshined", primeiro hit da banda.
"[Tocar músicas antigas] É algo
que temos feito bastante, se tornou uma das nossas partes favoritas dos shows", diz o vocalista.
O rock foi banido de Cuba (como de boa parte do mundo socialista, que o considerava um veículo do capitalismo) em 1972, quando o cantor e compositor cubano
Silvio Rodrigues foi preso por
protestar contra o governo. Sete
anos depois, o ritmo voltou a ser
tocado nas rádios, mas a ilha continuava fora do circuito de bandas
internacionais.
Ainda que o Audioslave tenha
perdido o título de primeira banda de rock estrangeira a tocar em
Cuba -os galeses do Manic
Street Preachers estiveram por lá
em 2001-, o grupo ostenta orgulhosamente o fato de ser a primeira banda norte-americana de
rock a por os pés na ilha. O DVD
tem ainda o documentário "Out
of Exile", que mostra as andanças
da banda pelo país.
Audioslave Live in Cuba
Lançamento: Universal
Quanto: R$ 55, em média
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