São Paulo, sexta-feira, 02 de dezembro de 2005

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Audioslave vai a Cuba sem política

MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DA REPORTAGEM LOCAL

Visitar Cuba nos áureos tempos da União Soviética, que sustentava financeiramente a ilha, e do sonho socialista era, mais que turismo, um atestado ideológico.
Mas a visita que a banda Audioslave fez à ilha em junho passado (a primeira de um grupo norte-americana de rock), para gravar seu primeiro DVD ao vivo, não teve o objetivo de ser uma pregação política pró-regime cubano, afirma o vocalista Chris Cornell em entrevista à Folha. De qualquer modo, uma viagem de um grupo dos EUA ao país governado por Fidel Castro nunca é um simples passeio turístico.
O Departamento do Tesouro norte-americano precisou aprovar a viagem, o que não foi simples. "Eles implicaram com a questão dos gastos para o show na ilha, queriam saber para onde iria o dinheiro. Implicaram com o fato de tirar dinheiro dos EUA para Cuba -o que é proibido-, com o fato de um vídeo feito em Cuba ser vendido comercialmente... tudo era um problema, não podíamos gastar mais do que US$ 70 ou algo assim por dia, uma quantia que mal dava para comer, porque eles não queriam que deixássemos dinheiro americano lá", explica Cornell.
O show do grupo que ascendeu das cinzas do Soundgarden (de onde veio o vocalista Chris Cornell) e do Rage Against the Machine (de onde vieram Tom Morello com a guitarra, Tim Commerford com o baixo e Brad Wilk com a bateria) foi realizado sem cobrança de ingressos, em Havana, para mais de 60 mil pessoas.
"Nossa ida à Cuba teve a ver com a música, pagamos para ir tocar em um lugar que não tem a chance de ver uma banda de rock como a nossa, basicamente porque nosso país não deixa ninguém ir para lá. Conseguimos romper isso e acho que fomos recebidos não como pessoas que concordam com a política cubana ou como representantes da política norte-americana, mas como músicos que foram lá mostrar suas canções", afirma Cornell.
No quesito "canções", a propósito, a banda aproveitou para mostrar não apenas as músicas de seus dois discos (incluindo hits como "Like a Stone" e "Cochise") como também para investir no repertório dos dois grupos que lhe deram origem. Do Rage Against entraram a explosiva "Bulls on Parade" (sem vocais) e "Sleep Now in the Fire". Do Soundgarden, tocaram "Outshined", primeiro hit da banda.
"[Tocar músicas antigas] É algo que temos feito bastante, se tornou uma das nossas partes favoritas dos shows", diz o vocalista.
O rock foi banido de Cuba (como de boa parte do mundo socialista, que o considerava um veículo do capitalismo) em 1972, quando o cantor e compositor cubano Silvio Rodrigues foi preso por protestar contra o governo. Sete anos depois, o ritmo voltou a ser tocado nas rádios, mas a ilha continuava fora do circuito de bandas internacionais.
Ainda que o Audioslave tenha perdido o título de primeira banda de rock estrangeira a tocar em Cuba -os galeses do Manic Street Preachers estiveram por lá em 2001-, o grupo ostenta orgulhosamente o fato de ser a primeira banda norte-americana de rock a por os pés na ilha. O DVD tem ainda o documentário "Out of Exile", que mostra as andanças da banda pelo país.


Audioslave Live in Cuba
Lançamento:
Universal
Quanto: R$ 55, em média


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