São Paulo, terça, 2 de dezembro de 1997.




Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Gonzaguinha

da Reportagem Local

O cantor e compositor Luiz Gonzaga Jr. -ou, mais popularmente, Gonzaguinha- (1946-91) é desses artistas que a indelicadeza e o boca-a-boca espontâneo mandariam logo classificar como "chato".
Tal tornaria ocioso o esforço da gravadora EMI, que relança em CD toda a obra do artista gravada sob seus domínios -são 13 discos. Por que logo ele, se há tantos perdidos naqueles mesmos porões?
Mas chamá-lo de "chato" seria simplismo; recriminar a gravadora -que mais uma vez leva a sério um projeto e entrega produto de qualidade técnica irrepreensível- pela opção seria tendencioso.
O fato é que Gonzaguinha, apesar de artista de porte mediano, gozou de imensa popularidade no Brasil -é o que o presente pacotão vem flagrar.
Os discos iniciais -fase 73-75- nem fariam suspeitar o que viria. São profundamente influenciados pela delicadeza mineira de Milton Nascimento -nunca brilhantes, quase sábias de tão despojadas.
A transição se deu em "Começaria Tudo Outra Vez..." (76), provável ápice do autor, de belas canções como "Chão, Pó. Poeia" e "Espere por Mim, Morena".
Tal período se reduziria a pó se comparado à explosão de sucesso que estava por vir -e que Maria Bethânia potenciou com seu afeto musical por Gonzaguinha, fragilizando sua própria carreira.
Vieram vindo "O Preto Que Satisfaz" (79), "Grito de Alerta" (80), "Sangrando" (80), "Eu Apenas Queria Que Você Soubesse" (81), "O Que É, o Que É?" (82), "Nem o Pobre, Nem o Rei" (84), "O Lindo Lago do Amor" (84). Todas estão no cardápio.
No transcurso, seu canto só foi piorando, e uma marca se estabeleceu: quis, até o fim da vida (morreu em 91, aos 45, num acidente), falar sobre -e para- o povo. Podia ser impulso sincero, mas hinos de otimismo infundado como "O Que É, o Que É?" não permitem chegar a tal conclusão.
Ele parecia, antes, estar na eterna busca de compor uma canção que se comparasse a "Nos Bailes da Vida", de Milton -mas já com todos os seus próprios cacoetes. Nunca conseguiu; seja como for, o povo foi conquistado. (PAS)

Coleção: Gonzaguinha (13 CDs) Artista: Gonzaguinha Lançamento: EMI Quanto: R$ 250, a caixa, em média; R$ 18, cada CD avulso, em média


Texto Anterior | Próximo Texto | Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.