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DANÇA
A mais tradicional academia de balé do mundo vai instalar, em Joinville (SC), sua primeira filial
Bolshoi chega ao Brasil para fazer história
CRISTIAN AVELLO CANCINO
enviado especial a Joinville (SC)
Passaram-se 224 anos, alguns
czares e czarinas, várias guerras e
tempestades, uma revolução comunista. Nesse tempo, dois incêndios lavraram com força a casa mágica do balé russo, o Teatro
Bolshoi que, após secular resistência, abre uma casa em Joinville
(SC).
No dia 17 de março, inaugura-se
a primeira filial fora da Rússia da
mais respeitada escola de balé do
planeta, cuja história remonta a
1776. À época, a escola de dança
Bolshoi foi criada para ser um
corpo de baile de crianças carentes.
Em Joinville, a história, em parte, se repetirá. Das cerca de 300
vagas que a escola Bolshoi vai oferecer, 80 serão para estudantes da
rede pública de ensino entre 7 e 10
anos de idade. Eles não pagarão
nada para frequentar o curso, que
terá duração de oito anos, e ainda
receberão, conforme disse à Folha o prefeito da cidade, Luiz
Henrique da Silveira, alimentação, uniformes e sapatilhas para
dançar.
Na inauguração, o diretor do
Teatro Bolshoi, o bailarino Vladimir Vasiliev, há alguns anos fora
dos palcos, deverá se apresentar
para a platéia inchada de aspirantes a Mikhail Gabochiev, Ekaterina Geltser, Sofya Golovkina, Alexei Ermolayev ou Olga Lepeshinskaya, para citar apenas alguns dos
bailarinos que fizeram -e fazem- história representando o
Bolshoi pelo mundo.
Sobre a escolha de Joinville, que
concorria com Tóquio para sediar a escola -depois de acertado
que o Bolshoi faria sua escola no
Brasil, Joinville passou a concorrer com outras duas cidades brasileiras de outros Estados-, Jô
Braska Negrão, professora de
dança que será coordenadora-geral do projeto, explica que houve
dois motivos fortes.
"O primeiro é que Joinville saiu
na frente nas negociações, e tínhamos uma representação bastante
forte lá na Rússia defendendo a cidade. Mas o principal é que nós
brasileiros temos um caráter muito parecido com o do povo russo.
Enfrentamos, como eles, o que for
preciso, nos emocionamos muito
também. E há ainda a crença de
que o brasileiro é naturalmente
ritmado."
Além disso, a cidade sedia desde
1983 um dos principais eventos de
dança do país, o Festival de Joinville, que já trouxe, entre outras
atrações, Fernando Bujones e Jeniffer Gelland (USA), Ballet Lolita
(França), Ballet de Câmara Ballarcis (Chile), Jânia Batista, do Ballet
Béjart Lausanne (Suíça), e o Balé
Nacional de Cuba.
É uma cidade familiarizada com
a dança, mas, ainda assim, detectou no processo de escolha dos futuros dançarinos um preconceito
bastante arraigado ao "caráter"
brasileiro: o de que balé é assunto
unicamente para meninas. E muito pai de crianças que tentaram
uma chance de bolsa na escola
Bolshoi também tinha essa impressão.
Sobre isso, a solista do Bolshoi,
Galina Bogatyziova, diz: "Quando
estive pela primeira vez no Brasil
já percebi isso. Mas as pessoas parecem não ver que, quando o menino faz balé, seu corpo fica bonito, forte -indícios de masculinidade-, porque o balé exige essas
qualidades. É um preconceito que
deve ser enfrentado".
Galina deverá ficar no Brasil por
um ano. Em dezembro passado,
quando aconteceu a última etapa
de seleção das crianças, foi uma
das juradas. Ela será professora
residente da inédita escola do
Bolshoi fora da Rússia.
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