São Paulo, Segunda-feira, 03 de Janeiro de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

DANÇA
A mais tradicional academia de balé do mundo vai instalar, em Joinville (SC), sua primeira filial
Bolshoi chega ao Brasil para fazer história

CRISTIAN AVELLO CANCINO
enviado especial a Joinville (SC)

Passaram-se 224 anos, alguns czares e czarinas, várias guerras e tempestades, uma revolução comunista. Nesse tempo, dois incêndios lavraram com força a casa mágica do balé russo, o Teatro Bolshoi que, após secular resistência, abre uma casa em Joinville (SC).
No dia 17 de março, inaugura-se a primeira filial fora da Rússia da mais respeitada escola de balé do planeta, cuja história remonta a 1776. À época, a escola de dança Bolshoi foi criada para ser um corpo de baile de crianças carentes.
Em Joinville, a história, em parte, se repetirá. Das cerca de 300 vagas que a escola Bolshoi vai oferecer, 80 serão para estudantes da rede pública de ensino entre 7 e 10 anos de idade. Eles não pagarão nada para frequentar o curso, que terá duração de oito anos, e ainda receberão, conforme disse à Folha o prefeito da cidade, Luiz Henrique da Silveira, alimentação, uniformes e sapatilhas para dançar.
Na inauguração, o diretor do Teatro Bolshoi, o bailarino Vladimir Vasiliev, há alguns anos fora dos palcos, deverá se apresentar para a platéia inchada de aspirantes a Mikhail Gabochiev, Ekaterina Geltser, Sofya Golovkina, Alexei Ermolayev ou Olga Lepeshinskaya, para citar apenas alguns dos bailarinos que fizeram -e fazem- história representando o Bolshoi pelo mundo.
Sobre a escolha de Joinville, que concorria com Tóquio para sediar a escola -depois de acertado que o Bolshoi faria sua escola no Brasil, Joinville passou a concorrer com outras duas cidades brasileiras de outros Estados-, Jô Braska Negrão, professora de dança que será coordenadora-geral do projeto, explica que houve dois motivos fortes.
"O primeiro é que Joinville saiu na frente nas negociações, e tínhamos uma representação bastante forte lá na Rússia defendendo a cidade. Mas o principal é que nós brasileiros temos um caráter muito parecido com o do povo russo. Enfrentamos, como eles, o que for preciso, nos emocionamos muito também. E há ainda a crença de que o brasileiro é naturalmente ritmado."
Além disso, a cidade sedia desde 1983 um dos principais eventos de dança do país, o Festival de Joinville, que já trouxe, entre outras atrações, Fernando Bujones e Jeniffer Gelland (USA), Ballet Lolita (França), Ballet de Câmara Ballarcis (Chile), Jânia Batista, do Ballet Béjart Lausanne (Suíça), e o Balé Nacional de Cuba.
É uma cidade familiarizada com a dança, mas, ainda assim, detectou no processo de escolha dos futuros dançarinos um preconceito bastante arraigado ao "caráter" brasileiro: o de que balé é assunto unicamente para meninas. E muito pai de crianças que tentaram uma chance de bolsa na escola Bolshoi também tinha essa impressão.
Sobre isso, a solista do Bolshoi, Galina Bogatyziova, diz: "Quando estive pela primeira vez no Brasil já percebi isso. Mas as pessoas parecem não ver que, quando o menino faz balé, seu corpo fica bonito, forte -indícios de masculinidade-, porque o balé exige essas qualidades. É um preconceito que deve ser enfrentado".
Galina deverá ficar no Brasil por um ano. Em dezembro passado, quando aconteceu a última etapa de seleção das crianças, foi uma das juradas. Ela será professora residente da inédita escola do Bolshoi fora da Rússia.


Texto Anterior: Fernando Gabeira: O ano 2000 entrou e não doeu quase nada
Próximo Texto: Escola não fará "adaptações"
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.