São Paulo, terça-feira, 03 de janeiro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CINEMA

"Missão Impossível 3" e "Instinto Selvagem 2" disputam atenção do público com adaptação de "O Código Da Vinci"

Seqüências dominam lançamentos de 2006

PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA

Os números "2" e "3" acompanham os títulos de pelo menos sete dos maiores lançamentos cinematográficos de 2006. "Missão Impossível 3", "X-Men 3", "Piratas do Caribe 2", "A Era do Gelo 2", "Garfield 2" e até "Instinto Selvagem 2" e "Bambi 2" compõem a lista dos candidatos a "blockbuster" deste ano.
Outros grandes lançamentos, sem números no título, soam no mínimo familiares, como "Poseidon", "Profecia 666", "Miami Vice" e "Superman - O Retorno". Ou seja: Hollywood ainda está apostando suas mais preciosas fichas nas franquias, "remakes" e versões para cinema de séries de TV, sem medo de aprofundar um certo desgaste que já se faz sentir no abuso das fórmulas.
Na outra ponta da indústria, aquela que costuma despontar primeiro no circuito dos festivais, filmes assinados por nomes de peso estão em fase de finalização e, provavelmente, disputarão os prêmios de Cannes (maio) ou Veneza (agosto). David Lynch termina o ainda enigmático "Inland Empire", em que volta a dirigir a estrela de "Coração Selvagem" Laura Dern; Pedro Almodóvar dá os toques finais em "Volver", que estréia na Espanha em abril; Nanni Moretti já rodou seu filme anti-Berlusconi "Il Caimano"; Brian De Palma finaliza sua versão para o romance policial de toques autobiográficos "Dália Negra", de James Ellroy.
Sofia Coppola já lançou na internet o "teaser trailer" de "Marie Antoinette", com Kirsten Dunst brincando de corte francesa ao som de New Order; Raoul Ruiz recriou pedaços da vida do pintor Klimt, que surge na pele de John Malkovich; e Michael Moore termina sua visão sobre o sistema de saúde norte-americano em seu novo documentário, "Sicko".
Os cinco anos dos atentados de 11 de Setembro serão devidamente lembrados por dois filmes de orçamento médio, que enfim ousam tocar diretamente no tema e não apenas por meio de metáforas veladas. Oliver Stone está em plena filmagem de "WTC", narrativa dramática sobre um bombeiro (Nicolas Cage) que fica preso nos escombros do World Trade Center, enquanto Paul Greengrass empresta seu estilo realista-histérico para "Vôo 93", recriação ficcional dos acontecimentos do vôo da United Airlines, seqüestrado na manhã dos atentados.
Ou seja: 2006 desenha-se como um ano em que Hollywood testará mais uma vez os limites de seu gigantismo orçamentário (as revistas especializadas da indústria comentam que vários orçamentos dos estúdios estouraram a marca de US$ 200 milhões), enquanto um imenso universo paralelo de filmes menores procura aumentar suas vias de expressão.
Do lado das continuações, por exemplo, algumas parecem trazer riscos comerciais pesados. Como funcionará, por exemplo, "Instinto Selvagem 2", em que Sharon Stone retoma o papel de Catherine Tramell 13 anos depois da cruzada de perna mais reveladora da história do cinema? Que não se espere da continuação a mesma ousadia do original. O cinema mudou bastante de 1992 para cá -ficou mais careta, sobretudo. E depois de ter passado pelas mãos do próprio Paul Verhoeven e de David Cronenberg, esse projeto de continuação acabou nas mãos de Michael-Caton Jones, de "Memphis Belle" e "Rob Roy".
No extremo oposto, como o público vai reagir a uma continuação de "Bambi", 63 anos depois? Em plena era da animação digital, os estúdios Disney resolveram retomar um de seus clássicos eternos usando técnicas de computador para reproduzir fielmente o desenho original. O termo "eterno", aqui, deve ser lido literalmente: a história do novo filme recupera o personagem como se o tempo praticamente não tivesse passado. Bambi, agora, tenta superar o trauma da perda da mãe acertando as contas com o pai.
Das outras franquias, o público não deve esperar muito mais do que o esperável. Como o primeiro filme de Garfield fez sucesso inesperado no Brasil, o segundo vai trazer de bônus para as platéias brasileiras uma participação especial de Ronaldinho Fenômeno. "A Era do Gelo 2", por sua vez, marca a promoção do brasileiro Carlos Saldanha (co-diretor do primeiro filme) ao posto de diretor-titular. E a bem-sucedida adaptação de quadrinhos "X-Men" saiu das mãos de Bryan Singer, diretor dos dois primeiros filmes, e passou para Brett Ratner.
Mas Singer não ficou sem emprego. Foi recrutado para assumir a reabertura da franquia "Superman", que volta aos cinemas a partir de julho com um superlançamento mundial via Warner.
A lista de apostas no que parece certo se completa com "O Código Da Vinci", adaptação do best-seller de Dan Brown que traz Tom Hanks e um megaelenco internacional sob a batuta do trivial Ron Howard. Enquanto isso, a filha de Ron Howard, Bryce Dallas Howard, segue seu caminho bem mais arriscado e interessante, voltando a estrelar um filme de M. Night Shyamalan. Em "A Dama na Água", a atriz surge no fundo de uma piscina para trazer algum encantamento ao cotidiano de um supervisor de condomínio, Paul Giamatti. É esperar para ver.


Texto Anterior: Mônica Bergamo
Próximo Texto: Música: CCBB Rio apresenta a geografia do samba nas terças de janeiro
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.