São Paulo, terça-feira, 03 de janeiro de 2006

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FOTOGRAFIA

Livro reúne mais de 200 imagens pinçadas do acervo de 20 mil imagens do repórter-fotográfico de "O Cruzeiro"

Obra mostra Medeiros como um anjo do olhar

TONI PIRES
EDITOR DE FOTOGRAFIA

Um dos maiores nomes da fotografia brasileira, José Medeiros (1921-1990) chega às prateleiras das livrarias em uma obra de referência para a história da fotografia e da cultura brasileira. Publicado pela Aprazível Edições, o livro "Olho da Rua: O Brasil nas Fotos de José Medeiros", uma edição com mais de 200 imagens resgatadas do acervo de 20 mil fotografias que hoje fazem parte do acervo do Instituto Moreira Salles, tem a apresentação de Arnaldo Jabor e textos de Leonel Kaz.
Medeiros nasceu no Piauí e, aos dez anos, ganhou do pai, também fotógrafo, uma câmera Fox-Kodak. Começava então a ensaiar seus primeiros olhares -lapidados entre 1946 e o início dos anos 60, quando foi repórter-fotográfico da revista "O Cruzeiro".
Levado pelo amigo Jean Manzon, Medeiros traçou em "O Cruzeiro" seu perfil de observador do cotidiano, característica que incentivou em seu trabalho o consórcio entre a sensibilidade social, a provocação surrealista e o senso estético. Suas imagens e a percepção que temos do mundo através delas nos levam às palavras de Fernando Pessoa: "Viajar! Perder países!/ Ser outro constantemente,/ Por a alma não ter raízes/ De viver de ver somente!".
O trabalho de Medeiros se revelou, à época e ainda hoje, um importante meio de educação do olhar para a modernidade. Sua fotografia olhava a sociedade na sua modernidade e lhe oferecia a possibilidade de nela se rever.
"O Cruzeiro" vivia seu auge, e seus fotógrafos tinham status de artistas. Todos queriam ser fotografados pela equipe da revista, porque isso seria certeza de visibilidade, e Medeiros, um operador da imagem, sóbrio e preciso, sempre soube tirar proveito desses momentos.
Transitava facilmente na alta sociedade carioca dos anos 50, registrava em suas lentes políticos importantes e também enveredou para o Brasil mais profundo. Visitou os índios do Xingu, mostrou de maneira imparcial, quase antropológica, os cultos do candomblé. Nesse trabalho, fica clara a influência das escolas francesas de documentação.
A antologia de imagens de "Olho da Rua", edição elegante e sem o corte dramático utilizado pela revista "O Cruzeiro", mostra Medeiros como um anjo impertinente do olhar, que aproveitava o prestígio de ser fotógrafo de uma grande revista e testemunhava, à distância, as emoções e os impasses de uma época.
Suas fotografias são puros instantâneos, sem concessões nem floreios. Glauber Rocha dizia que Medeiros sabia fazer uma luz brasileira, adorava seu teatro abstrato das formas recortadas em luz e sombra, seu enquadramento de rigor formal. Medeiros, por sua vez, costumava dizer que "fotógrafos todos somos, quando saímos ao olho da rua e capturamos nossa ração de ar".
Ao deixar "O Cruzeiro", no início dos anos 60, Medeiros se aventurou, pela primeira vez, no cinema. Estreou como diretor de fotografia no longa-metragem "A Falecida" (1965), de Leon Hirszman.


Olho da Rua: O Brasil nas Fotos de José Medeiros
Editora:
Aprazível Edições
Autor: José Medeiros (fotos)
Quanto: R$ 130 (228 págs.)


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