São Paulo, terça-feira, 03 de janeiro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TV PAGA

Robocop luta e Hellboy curva-se ao sistema

PAULO SANTOS LIMA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Em "Robocop - O Policial do Futuro" (Telecine Cult, 22h), de Paul Verhoeven, temos Murphy, um policial "ressuscitado" graças à ciência, que faz dele um robô com partes humanas. A idéia é que ele agora sirva aos propósitos de uma empresa, a OCP.
Estamos na cidade de Detroit, assolada por uma criminalidade oceânica, um projeto elitista ignóbil de revitalização da cidade e uma megacorporação que administra a polícia e um punhado de outras coisas que antes eram da alçada do Estado.
Uma cena que não parece herdada da ficção, pelo contrário. O mundo, naquele ano (1987), acelerava seus passos para o neoliberalismo, uma política econômica que, podemos dizer, entende a história não pelo indivíduo ou por grupos sociais, mas sim pelas empresas e seus negócios.
E nesse ambiente tão "numérico", Murphy vai atrás de sua história, para se manter vivo como sujeito histórico, com personalidade e memória.
Um filme de reação, ao contrário de "Hellboy" (HBO, 23h30), de Guillermo Del Toro, obra de aceitação desta ordem mundial do século 21. Aqui, o herói, um homem-demônio, já nasce esquisito e é acolhido quando bebê pelo FBI. Sua história confunde-se, então, com sua função naquele órgão federal, que é caçar monstros pela cidade, numa bizarra prestação de serviços nata.
Apesar de algumas escapadinhas, Hellboy mantém-se conformado à idéia de viver escondido, com identidade desconhecida. Uma situação horrenda -menos porque Hellboy só existe como parte do FBI e mais porque estamos num universo que só aceita os diferentes se estes forem um bocado úteis para o sistema.
Sua luta será para ser aceito (mesmo com suas diferenças) pela história. Ao contrário de Robocop, rebelde ao sistema que batalha para permanecer parte da história. De fato, são outros os tempos do filme de Paul Verhoeven.


Texto Anterior: TV: Vida de Lilian Gonçalves dá "molho" a "JK"
Próximo Texto: Artes cênicas: Publicação capta os traços efêmeros da dança
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.