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A White Devil lança
álbuns do condenado
pela morte da atriz
Sharon Tate; `Ele
sempre nos respeitou',
diz à Folha o diretor
da gravadora
Assassino de Sharon Tate grava três CDs e vira cult
MARCELO REZENDE
da Reportagem Local
Em julho de 1969, o norte-americano Charles Manson, ex-ladrão
de carros que escrevia canções ao
estilo de Bob Dylan, participou da
morte de sete pessoas em um bairro luxuoso de Los Angeles.
Manson -condenado a prisão
perpétua por assassinato, cumpre
pena no presídio de Corcoran, na
Califórnia- entrou para a cultura
dos EUA como um bárbaro e psicopata.
Mas pode terminar o século no
papel de ídolo, pela ação da gravadora White Devil Records (algo
como "Discos Diabo Branco"),
que pretende lançar no mercado
quase 100 horas de sua música, palavra e ``filosofia''.
Cristo
``Charles Manson tem recebido
a culpa por coisas que não fez.
Após 25 anos de prisão ilegal, tem
sido acusado de possuir poderes
sobrenaturais ou de poder levar
pessoas a cometerem assassinato.
Ele é único. Apenas duas pessoas
no mundo receberam crédito por
terem revivido os mortos: Manson
e Jesus Cristo.''
A fala é de Alik J. Hidell, um jovem que tem menos anos de vida
do que o de Manson na prisão. Hidell, 24, é diretor de comunicação
da White Devil. Em entrevista por
e-mail à Folha, falou sobre o projeto da empresa ``dedicada à música
de Charles Manson''.
``Nos temos em nosso arquivos
um grande material de Manson,
que será inteiramente lançado. A
intenção da empresa é conseguir o
maior número de ouvintes possível. Estamos aptos a fornecer CDs
para todas as partes do mundo.''
Até agora, três trabalhos já foram lançados: ``I'm on Fire'',
``The Hallways of the Always'' e
``Manson Speaks''.
Bizarro
Uma espécie de símbolo do lado
mais doentio e violento da era psicodélica da Califórnia, um hippie
que enlouqueceu, Manson se tornou, nas últimas duas décadas, um
dos mais bizarros produtos culturais dos EUA.
Cada vez que programas de TV
norte-americana tratam de sua
história, a audiência sobe.
Algumas de suas letras foram
musicadas por Evan Dando, da
banda Lemmonheads; e Axel Rose,
do Guns N' Roses (que também
gravou Manson), já foi fotografado com uma reprodução do rosto
de Manson em uma camiseta.
No território do delírio, a dupla
Exotic Man e Meatboy, artistas
performáticos, faz ``intervenções'', com carne de vaca sobre
seus corpos, numa série que batizaram de ``Flaming Love Tunnel
Show''. A idéia, dizem eles, é ``materializar Manson''.
Por mais paradoxal, perturbador
ou mórbido que possa ser, Manson é sempre o nome mais citado
para o extravagante título de ``assassino mais querido da América''.
Fitas
A maioria das fitas foi feita entre
1980-1984. Outras gravações são da
década de 70, quando ele era o líder da ``Família Manson'', que
reuniu perto de 40 jovens.
Eram pessoas recém-saídas da
adolescência que acreditavam na
paz, no amor, no LSD, nas facas,
nas armas de fogo e em duas verdades incontestáveis: Manson era
Jesus; e uma revolução feita pelos
negros -para exterminar os brancos- tomaria os EUA.
Manson envia o novo material
para a White Devil sempre pelo
correio ou entregando a algum enviado da gravadora; discute por telefone a melhor maneira de editar
o que qualifica de ``um som rural
de fortes influências folclóricas''.
Em seus discursos, continua culpando ``os burgueses'' e os ``judeus'' por sua situação. Continua,
para os médicos que fazem avaliação de seu estado mental na prisão,
completamente doido.
``Eu já falei muitas vezes com
Manson pelo telefone e trocamos
cartas. Ele sempre me tratou com
muito respeito e cortesia'', conta
Hidell.
Manson diz gostar dos Beach
Boys -o grupo gravou uma de
suas canções no álbum ``20/20''-
e odiar Elvis e Frank Zappa.
Já os Beatles são um caso particular. Segundo informações publicadas pela imprensa na época (negadas por seus seguidores), os assassinatos em Los Angeles aconteceram porque Manson ouvia mensagens secretas na canção ``Helter
Skelter'', de Lennon e McCartney.
Manson adorava os Beatles. Talvez esta seja a única coisa que o
aproxima do resto de sua geração.
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