São Paulo, segunda, 3 de fevereiro de 1997.

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A White Devil lança álbuns do condenado pela morte da atriz Sharon Tate; `Ele sempre nos respeitou', diz à Folha o diretor da gravadora
Assassino de Sharon Tate grava três CDs e vira cult

MARCELO REZENDE
da Reportagem Local


Em julho de 1969, o norte-americano Charles Manson, ex-ladrão de carros que escrevia canções ao estilo de Bob Dylan, participou da morte de sete pessoas em um bairro luxuoso de Los Angeles.
Manson -condenado a prisão perpétua por assassinato, cumpre pena no presídio de Corcoran, na Califórnia- entrou para a cultura dos EUA como um bárbaro e psicopata.
Mas pode terminar o século no papel de ídolo, pela ação da gravadora White Devil Records (algo como "Discos Diabo Branco"), que pretende lançar no mercado quase 100 horas de sua música, palavra e ``filosofia''.
Cristo
``Charles Manson tem recebido a culpa por coisas que não fez. Após 25 anos de prisão ilegal, tem sido acusado de possuir poderes sobrenaturais ou de poder levar pessoas a cometerem assassinato. Ele é único. Apenas duas pessoas no mundo receberam crédito por terem revivido os mortos: Manson e Jesus Cristo.''
A fala é de Alik J. Hidell, um jovem que tem menos anos de vida do que o de Manson na prisão. Hidell, 24, é diretor de comunicação da White Devil. Em entrevista por e-mail à Folha, falou sobre o projeto da empresa ``dedicada à música de Charles Manson''.
``Nos temos em nosso arquivos um grande material de Manson, que será inteiramente lançado. A intenção da empresa é conseguir o maior número de ouvintes possível. Estamos aptos a fornecer CDs para todas as partes do mundo.''
Até agora, três trabalhos já foram lançados: ``I'm on Fire'', ``The Hallways of the Always'' e ``Manson Speaks''.
Bizarro
Uma espécie de símbolo do lado mais doentio e violento da era psicodélica da Califórnia, um hippie que enlouqueceu, Manson se tornou, nas últimas duas décadas, um dos mais bizarros produtos culturais dos EUA.
Cada vez que programas de TV norte-americana tratam de sua história, a audiência sobe.
Algumas de suas letras foram musicadas por Evan Dando, da banda Lemmonheads; e Axel Rose, do Guns N' Roses (que também gravou Manson), já foi fotografado com uma reprodução do rosto de Manson em uma camiseta.
No território do delírio, a dupla Exotic Man e Meatboy, artistas performáticos, faz ``intervenções'', com carne de vaca sobre seus corpos, numa série que batizaram de ``Flaming Love Tunnel Show''. A idéia, dizem eles, é ``materializar Manson''.
Por mais paradoxal, perturbador ou mórbido que possa ser, Manson é sempre o nome mais citado para o extravagante título de ``assassino mais querido da América''.
Fitas
A maioria das fitas foi feita entre 1980-1984. Outras gravações são da década de 70, quando ele era o líder da ``Família Manson'', que reuniu perto de 40 jovens.
Eram pessoas recém-saídas da adolescência que acreditavam na paz, no amor, no LSD, nas facas, nas armas de fogo e em duas verdades incontestáveis: Manson era Jesus; e uma revolução feita pelos negros -para exterminar os brancos- tomaria os EUA.
Manson envia o novo material para a White Devil sempre pelo correio ou entregando a algum enviado da gravadora; discute por telefone a melhor maneira de editar o que qualifica de ``um som rural de fortes influências folclóricas''.
Em seus discursos, continua culpando ``os burgueses'' e os ``judeus'' por sua situação. Continua, para os médicos que fazem avaliação de seu estado mental na prisão, completamente doido.
``Eu já falei muitas vezes com Manson pelo telefone e trocamos cartas. Ele sempre me tratou com muito respeito e cortesia'', conta Hidell.
Manson diz gostar dos Beach Boys -o grupo gravou uma de suas canções no álbum ``20/20''- e odiar Elvis e Frank Zappa.
Já os Beatles são um caso particular. Segundo informações publicadas pela imprensa na época (negadas por seus seguidores), os assassinatos em Los Angeles aconteceram porque Manson ouvia mensagens secretas na canção ``Helter Skelter'', de Lennon e McCartney.
Manson adorava os Beatles. Talvez esta seja a única coisa que o aproxima do resto de sua geração.

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