RONALDO EVANGELISTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Se, em fins dos anos 50, a bossa nova surgiu como uma resposta à sisudez extremada dos sambas-canção da época, havia também um outro mundo correndo em paralelo, de intenções parecidas, mas resultados radicalmente diferentes. Ed Lincoln, Djalma Ferreira e Waldir Calmon eram músicos modernos, mas não faziam música de apartamento, e sim de clubes. Não para ouvir, mas para dançar.
E Orlandivo talvez seja o principal desses nomes, compositor de incontáveis hits semidesconhecidos, cantor de banda de bailes por 45 anos, autor de discos altamente cult. Agora, depois de 30 anos sem pisar em um estúdio, Orlandivo volta às lojas com álbum novo, o quinto de sua carreira, "Sambaflex". Há pouco tempo, os três primeiros (de 62, 63 e 64) foram relançados na Inglaterra, e o quarto (de 76, com arranjos de João Donato), no Brasil.
Ele resume 40 anos em um parágrafo: "Comecei a cantar no fim dos anos 50 e entrei para o conjunto de baile de Ed Lincoln em 1962. Em 1980 ele parou de tocar e fiz uma outra banda com os mesmos músicos, chamada Ipanema Dance. Fiquei com essa banda de 1980 a 2004, tocando quase toda semana, principalmente de sábado, em clubes pelo Rio. De dois anos pra cá, resolvi partir para minha carreira solo novamente".
Lançando inéditas e clássicos do próprio repertório, com sua tradicional voz anasalada, no disco novo Orlandivo é puro balanço, mesmo quando dá espaço a participação de rap ou ameaçando um drum'n'bass acústico -estão lá seus sonoros vocais cantando coisas como "toff toff", "tuplec tuplin", "zum zum zum", "samba blim", "paralelo-lelo".
Nascido como um projeto do produtor Henrique Cazes com a gravadora Deckdisc, Orlandivo espera que o novo disco traga bons resultados -quem sabe um show em São Paulo, onde não se apresenta há mais de 20 anos. Aos quase 70 anos, Orlandivo continua com pique de adolescente, querendo tirar todo mundo da cadeira. "Tem cantor que não gosta que ninguém dance, né? Quer que ouça, sentado, quieto. Mas meu negócio é diferente: se não dançar, é uma merda."

Sambaflex
   
Artista: Orlandivo
Lançamento: Deckdisc
Quanto: R$ 30, em média