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Ruy Guerra apresenta musical datado e chatice de 80 minutos
MARILENE FELINTO
da Equipe de Articulistas
Dois filmes do cineasta Ruy
Guerra chegam às locadoras: ``A
Bela Palomera'' e ``Ópera do Malandro'' (que é na verdade um relançamento). O primeiro é baseado em uma história de Gabriel
García Márquez, ``O Amor no
Tempo do Cólera''.
Já o musical ``Ópera do Malandro'' (1986) é adaptação da peça
de mesmo nome, que Chico Buarque escreveu em 1978 -inspirada
na ópera (``dos Três Vinténs'', de
Brecht) da ópera (``do Mendigo'',
de John Gay, 1728).
Na história de Chico Buarque, o
mendigo é um malandro -Max
(Edson Celulari)- que vive no
Rio, durante a Segunda Guerra.
O anti-herói Max sobrevive de
contrabando e da exploração de
sua amante Margot (Elba Ramalho), prostituta empregada no cabaré de um cafetão alemão.
Em represália ao papel dos alemães na guerra, Max arma uma
briga que acaba por destruir o cabaré. Para se vingar do malandro,
o alemão demite Margot. Max, em
contrapartida, investe na conquista de Ludmilla (Claudia Ohana), filha do alemão.
Não é de todo estranha a idéia de
fazer um musical de cinema com
o tema da malandragem brasileira. Afinal, há música na dança
desses personagens-tipos sociais,
no seu modo de existir e se relacionar com as convenções.
São os vadios, os marginais e
suas festas, suas influências, seus
compadrios, como diria Antonio
Candido sobre a malandragem do
Rio já do século passado.
Com um misto de orgulho da
própria marginalidade e de perpétua sujeição à necessidade é que se
dá a relação entre o malandro e o
policial corrupto Tigrão, vivido
por Ney Latorraca.
Essa ``dialética da malandragem'' tem no centro um pícaro. O
malandro é o pícaro, e o pícaro
dança. ``Ao pícaro é dado espiar o
avesso das instituições e dos homens: o seu aparente cinismo não
é mais que defesa entre vilões encasacados.'' (Bosi)
A linguagem do musical cairia
como uma luva. Mas algo saiu errado e tudo soa datado no filme de
Ruy Guerra: a Segunda Guerra
vista daqui, o malandro dos anos
40 e o próprio tom do musical,
inspirado no modelo americano.
Parte do problema está na atuação apática dos atores, que não
sustentam os papéis de cantores e
dançarinos.
Além da ``Ópera do Malandro'',
Guerra e Buarque escreveram
juntos o musical ``Calabar'', nos
anos 70. Atualmente Guerra filma
o romance ``Estorvo'', de Chico.
Parceria estranha é a que Ruy
Guerra fez com Gabriel García
Márquez para o obscuro ``A Bela
Palomera'', filme ralo de conteúdo, sem ritmo e de som ruim.
Trata-se da história da paixão
proibida entre um poderoso fabricante de cachaça da cidade de
Parati (Ney Latorraca) e uma mulher casada (Claudia Ohana).
O fato ocorre em 1892, no âmbito da novidade da República, leve
pano de fundo histórico para o
realismo fantástico que dá centro
ao resto. Mas o resto não passa das
tentativas de comunicação dos
amantes proibidos -por intermédio de pombas mensageiras,
80 minutos de pura chatice.
Vídeo: Ópera do Malandro
Produção: Bra/Fra, 1986, 103 min.
Direção: Ruy Guerra
Com: Edson Celulari, Claudia Ohana
Lançamento: Paris (011/872-4404)
Vídeo: A Bela Palomera
Produção: Bra/Esp, 1985, 78 min.
Direção: Ruy Guerra
Com: Ney Latorraca, Claudia Ohana
Lançamento: Paris
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