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DIREITOS AUTORAIS
Chefe da sucursal de São Paulo do órgão faz desafio a artistas; secretário aponta "terrorismo"
Ecad acusa Praia Grande de sonegação
LUÍS PEREZ
enviado especial a Praia Grande
O Ecad (Escritório Central de
Arrecadação e Distribuição) acusa
a Prefeitura de Praia Grande (SP)
de não pagar direitos autorais dos
artistas que fazem shows na praia
nesta época do ano.
"Segundo eles, não precisam
pagar, porque os eventos são gratuitos. Pagam cachê e têm grandes
patrocinadores. Mas nenhum
show recolhe os direitos", diz Antero dos Santos Salgado, 38, chefe
da sucursal paulista do órgão.
Por lei, 10% da bilheteria ou do
cachê de shows deve ser revertido
ao escritório, que controla execuções públicas em todo o país.
Salgado lançou ainda um desafio. "O artista deveria solicitar a
guia de recolhimento ao Ecad e dizer: 'Se aqui não pagam direitos
autorais, não canto'. Seria a moralização do direito autoral no país."
A Folha acompanhou, no último
sábado à noite, um dos shows do
projeto O Show do Verão É Você,
na Praia Grande (litoral sul de São
Paulo), que reuniu na praia do Boqueirão o público recorde de 250
mil pessoas -70 mil a mais que a
população da cidade-, debaixo
de chuva, para acompanhar a
apresentação de Zezé Di Camargo
& Luciano.
O desafio do Ecad causou polêmica entre prefeitura, artistas e
produção do evento. Zezé Di Camargo não cogitou deixar de cantar. "Como você vai chegar na
frente de 250 mil pessoas e dizer
que não vai ter show? Você tem
que respeitar esse público", diz o
artista, que é um dos que mais arrecadam direitos autorais no país.
"O público não quer saber o que
é Ecad, se pagaram ou não. Para
fazer uma interferência dos artistas, é preciso haver uma negociação. E com todos. Não dá pra chegar na hora e fazer isso."
O cantor diz ainda que "até poderia aceitar o desafio, se fosse
uma coisa previamente elaborada.
O artista fica entre a cruz e a espada. Ou seja, a coisa continua mal
direcionada".
"Terrorismo"
O secretário de Esportes, Cultura e Turismo da cidade, Manoel
Carlos Peres, 53, forneceu à Folha
um parecer da Secretaria de Assuntos Jurídicos segundo o qual a
prefeitura não deve pagar, pois o
evento não possui "intuito de lucro".
"O poder público acha que não
tem de pagar. Há cinco anos eu falo para o Ecad que o caminho é a
Justiça. Eu não sei por que não
procuram a Justiça. Se pelo menos
tivessem procurado, eles não viriam aqui me aborrecer a paciência", diz Peres.
O chefe do Ecad diz que deve entrar na Justiça para cobrar os direitos. Enquanto isso, o secretário
acusa o órgão de "terrorismo".
"É o que eles fazem. Telefonam
para patrocinadores, para a produção, ameaçam embargar
show", afirma Peres. "Só vamos
suspender show com mandado judicial."
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