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OPINIÃO DO CONSELHEIRO
"Weffort deu 'golpe'"
MODESTO CARVALHOSA
da Reportagem Local
O advogado Modesto Carvalhosa, 66, membro do Conselho Consultivo do Iphan, dispôs-se a falar sobre a reestruturação no patrimônio, que acredita estar sendo feita seguindo
interesses da especulação imobiliária. A seguir, os principais
trechos da entrevista.
Folha - Qual a origem dessas
alterações no Iphan?
Modesto Carvalhosa - O Conselho Consultivo do Iphan negou, em sua reunião em dezembro, a autorização para a
construção de um shopping-center e de um parque de diversões em torno da marina da
Glória, um empreendimento
que iria simplesmente arrebentar com o local, desenhado por
Burle Marx e tombado na época com a cláusula "non edificandi". Ou seja, não se pode
construir nada no local.
Folha - O que isso provocou?
Carvalhosa - O prefeito do
Rio de Janeiro, que estava muito interessado, chamou os técnicos do Iphan e disse que o
conselho era constituído por
um grupo de fanáticos e que ele
tinha força junto ao governo federal, porque é do PFL, para
construir na marra o shopping.
E também disse que tomaria
providências contra o conselho
do Iphan.
Folha - E o que mais?
Carvalhosa - Por outro lado, o
Roberto Marinho quer construir um edifício de 30 andares
do lado do Museu de Arte Moderna, sob o pretexto de que,
com a construção, dará dinheiro para manter o museu. Uma
operação parecida com a do
MoMA, de Nova York. Esse
empreendimento também, já
se sabe, o conselho do Iphan
não vai aprovar de maneira alguma, pelo mesmo princípio.
Folha - Qual é a relação com a
reestruturação no ministério?
Carvalhosa - Reação imediata
do Ministério da Cultura, por
evidente pressão dessas duas
figuras: demissão sumária do
presidente do Iphan, Glauco
Campello, que estava no exterior. Segundo: nomeação de
um novo presidente que desconhece completamente o patrimônio histórico na área federal. E que é confessadamente
contra o instituto do tombamento, alegando que é uma
medida do tempo da ditadura
Vargas e que precisa acabar.
Folha - O arquiteto Carlos
Henrique Heck?
Carvalhosa - Um presidente
que não tem, absolutamente,
condições. O ministro reestruturou o Iphan transferindo a
organização para o nível estadual e municipal e prometendo
mandar, provavelmente, uma
medida provisória alterando a
legislação para acabar com o
tombamento.
Folha - Isso é possível?
Carvalhosa - É só neutralizar
a figura, criar dificuldades para
o tombamento. Mantendo talvez o nome, mas tornando-o
inócuo. Pressões políticas levaram a esse verdadeiro golpe de
Estado do Ministro da Cultura
dentro do Iphan. O discurso
dos 60 anos do Iphan termina
dizendo: "os governos passam,
o Iphan permanece". É uma
instituição da República que já
sofreu, no tempo do Collor, o
mesmo tipo de golpe de Estado.
Mas vai resistir de qualquer
maneira para impedir que interesses de caráter de especulação imobiliária de grande
monta levem a instituição a seu
desaparecimento, como parece
ser claramente a intenção do
ministro Francisco Weffort.
Folha - Qual é a função do
Conselho Consultivo?
Carvalhosa - O conselho consultivo aprova os tombamentos. Só quem pode tombar é o
conselho. É o órgão máximo do
Iphan. Tem o nome consultivo,
mas é deliberativo.
Folha - Como o presidente do
Iphan poderá interferir nesse
trabalho?
Carvalhosa - Ele pode não
convocar o conselho, e então
não se tomba mais nada. Enquanto não houver medida
provisória, ele não convoca o
conselho. É como um presidente da República, que tem o
direito constitucional de convocar o Congresso, não convoca e comanda por decretos-lei.
Ele é um interventor lá no
Iphan. E o ministério simplesmente vai acabar com os escritórios regionais que defendem
o patrimônio, entregando, ao
que parece, a fiscalização do
patrimônio histórico nacional
aos Estados e municípios.
Folha - Qual o problema?
Carvalhosa - Os Estados não
têm capacidade para defender
o patrimônio nacional, mal
têm para defender o estadual. E
entregar isso aos municípios é
simplesmente entregar o galinheiro à raposa. Tudo isso por
influência da especulação imobiliária. É a razão dessa reestruturação, o que o ministro confessa que vai fazer. O neoliberalismo chegou ao patrimônio
histórico. É claro que o Iphan
sempre incomodou e continua
incomodando a especulação
imobiliária. E dessa vez é muito
claro que o ministro vai ceder.
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