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NETVOX
Teletrabalho, ouro virtual e jogos caribenhos
MARIA ERCILIA
Colunista da Folha
Um cassino no Caribe, onde só
se aposta a peso de ouro. Podia
ser cenário de filme do 007, se não
fosse por um detalhe: o cassino é
na Internet, portanto está fora de
questão encontrar morenas lânguidas e bandidos internacionais
pelo caminho.
O que não tira a aura de aventura do The Gold Casino (www.thegoldcasino). Não é a primeira casa de jogo na Internet que instalou sua sede no Caribe, para fugir
da legislação americana. Mas é o
primeiro onde só se joga ouro: é
baseado numa moeda virtual, o e-gold (www.egold.com), que permite que se transfira dinheiro pela
Internet com muito mais rapidez
e simplicidade que em pagamentos com cartão de crédito.
As importâncias depositadas
numa conta de e-gold precisam
ser transferidas por "wire" ou ordem de crédito, são lastreadas em
ouro e podem ser transferidas pela Internet em segundos, sem interferência de bancos ou operadoras de cartão de crédito.
Os jogos são os de sempre: pôquer, blackjack etc. Uma reportagem na "Wired News" (www.wired.com) informa que o cassino
vai bem e que os jogadores gostam do fato de que podem transferir o dinheiro quase imediatamente para suas contas.
Tudo muito exótico. Mas eu,
que detesto baralho, não jogo
nem dadinho e tenho um tremendo azar em todos os jogos de azar,
só me interessei por esse cassino
porque ele foi desenhado por um
brasileiro. O ilustrador Tom B., de
São Paulo, fez o projeto gráfico e
desenhou os jogos.
Tom conheceu o programador
que criou os jogos do cassino numa lista de discussão que frequenta há dois anos e inclui gente
da Suécia, Estados Unidos, Inglaterra e outros lugares do mundo.
Nunca viu nenhum deles.
"Mas rola um lance muito forte
de amizade. Como você só se comunica por escrito, não tem enrolação, você é obrigado a ser objetivo em tudo", diz ele.
O parceiro de Tom, J.P., é um
americano que mora no Caribe e
produz um programa chamado
Casino Pak. "O terceiro programador, Mike, é americano também, mas ninguém sabe onde está", diz Tom. "Quer dizer, talvez o
J.P. saiba."
Quanto à empresa que contratou o trabalho dos dois, é mais
misterioso ainda. "Eles fazem
questão de sigilo total, porque o
governo americano está querendo reprimir esses cassinos na Internet", diz Tom. Toda a comunicação entre eles era criptografada.
Tom se sente vivendo na "Terceira Onda" de Alvin Toffler.
"Tem muita gente assim por aí,
meio nômade, pegando trabalho
na Internet. Estou pensando em
me mudar, vi que o que faço não
depende mais de onde estou."
Segundo ele, no teletrabalho "o
tempo e o espaço fluem diferente.
O cara com quem você está trabalhando fica mais presente para
você que as coisas que estão ao
seu redor. Aqui em São Paulo
muitas vezes você perde um tempão numa reunião em que as pessoas nem sabem direito o que estão falando e poderiam resumir
tudo num e-mail de 2k."
Tom já fez um segundo cassino
com J.P. (www.owncasino.com),
e começa a trabalhar num simulador em Flash para mostrar os produtos de uma loja. Segundo ele,
ganha "muito bem" por esses trabalhos -recebe, claro, em e-gold.
Na reportagem da Wired sobre o
cassino, foi chamado de "brilhante empresa de design tom-b.com"
(www.tom-b.com/).
Há décadas se discute o trabalho à distância, dinheiro virtual
etc., mas a gente só percebe que o
que era "tendência" já virou realidade quando encontra alguém
que diz assim, casualmente: "Estou desenhando um cassino em
Anguilla com um programador
que eu conheci numa lista de discussão e sou pago com dinheiro
virtual lastreado em ouro".
E-mail: ercilia@bol.com.br
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