São Paulo, sexta-feira, 03 de março de 2000


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NETVOX
Teletrabalho, ouro virtual e jogos caribenhos

MARIA ERCILIA
Colunista da Folha

Um cassino no Caribe, onde só se aposta a peso de ouro. Podia ser cenário de filme do 007, se não fosse por um detalhe: o cassino é na Internet, portanto está fora de questão encontrar morenas lânguidas e bandidos internacionais pelo caminho.
O que não tira a aura de aventura do The Gold Casino (www.thegoldcasino). Não é a primeira casa de jogo na Internet que instalou sua sede no Caribe, para fugir da legislação americana. Mas é o primeiro onde só se joga ouro: é baseado numa moeda virtual, o e-gold (www.egold.com), que permite que se transfira dinheiro pela Internet com muito mais rapidez e simplicidade que em pagamentos com cartão de crédito.
As importâncias depositadas numa conta de e-gold precisam ser transferidas por "wire" ou ordem de crédito, são lastreadas em ouro e podem ser transferidas pela Internet em segundos, sem interferência de bancos ou operadoras de cartão de crédito.
Os jogos são os de sempre: pôquer, blackjack etc. Uma reportagem na "Wired News" (www.wired.com) informa que o cassino vai bem e que os jogadores gostam do fato de que podem transferir o dinheiro quase imediatamente para suas contas.
Tudo muito exótico. Mas eu, que detesto baralho, não jogo nem dadinho e tenho um tremendo azar em todos os jogos de azar, só me interessei por esse cassino porque ele foi desenhado por um brasileiro. O ilustrador Tom B., de São Paulo, fez o projeto gráfico e desenhou os jogos.
Tom conheceu o programador que criou os jogos do cassino numa lista de discussão que frequenta há dois anos e inclui gente da Suécia, Estados Unidos, Inglaterra e outros lugares do mundo. Nunca viu nenhum deles.
"Mas rola um lance muito forte de amizade. Como você só se comunica por escrito, não tem enrolação, você é obrigado a ser objetivo em tudo", diz ele.
O parceiro de Tom, J.P., é um americano que mora no Caribe e produz um programa chamado Casino Pak. "O terceiro programador, Mike, é americano também, mas ninguém sabe onde está", diz Tom. "Quer dizer, talvez o J.P. saiba."
Quanto à empresa que contratou o trabalho dos dois, é mais misterioso ainda. "Eles fazem questão de sigilo total, porque o governo americano está querendo reprimir esses cassinos na Internet", diz Tom. Toda a comunicação entre eles era criptografada.
Tom se sente vivendo na "Terceira Onda" de Alvin Toffler. "Tem muita gente assim por aí, meio nômade, pegando trabalho na Internet. Estou pensando em me mudar, vi que o que faço não depende mais de onde estou."
Segundo ele, no teletrabalho "o tempo e o espaço fluem diferente. O cara com quem você está trabalhando fica mais presente para você que as coisas que estão ao seu redor. Aqui em São Paulo muitas vezes você perde um tempão numa reunião em que as pessoas nem sabem direito o que estão falando e poderiam resumir tudo num e-mail de 2k."
Tom já fez um segundo cassino com J.P. (www.owncasino.com), e começa a trabalhar num simulador em Flash para mostrar os produtos de uma loja. Segundo ele, ganha "muito bem" por esses trabalhos -recebe, claro, em e-gold. Na reportagem da Wired sobre o cassino, foi chamado de "brilhante empresa de design tom-b.com" (www.tom-b.com/).
Há décadas se discute o trabalho à distância, dinheiro virtual etc., mas a gente só percebe que o que era "tendência" já virou realidade quando encontra alguém que diz assim, casualmente: "Estou desenhando um cassino em Anguilla com um programador que eu conheci numa lista de discussão e sou pago com dinheiro virtual lastreado em ouro".

E-mail: ercilia@bol.com.br


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