São Paulo, sexta-feira, 03 de março de 2000


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INTERNET
Passeio pela rede em busca de livros indica que a superespecialização resulta em títulos inusitados como "Platão, Não Prozac!"
Estranhas leituras para o novo milênio

FERNANDO MORGADO
especial para a Folha

O novo milênio está chegando, sabe Deus o que vem por aí, o que permanece e o que acaba. O livro, espera-se, não deve sair de moda, seja para ler, seja apenas como presente. Mas não custa tentar se integrar aos novos tempos em que, muitos garantem, o convencional, o previsível, os Tom Clancy, os Grisham, as Daniele Steel, os Sidney Sheldon e outros vão virar peças de museu ou, na melhor das hipóteses, exemplares de alguma cápsula do tempo.
Provavelmente em nenhuma outra época, como agora, surge no exterior tanto livro diferente, inusitado, esquisito. Essa tendência, cada vez mais comum, parece indicar que a palavra de ordem será a superespecialização. Ou falta de assunto. A especialidade pode ser, quem sabe, a chave para uma nova era de conhecimentos úteis e inúteis, nosso passaporte atualizado para um futuro e um diferente mundo de leituras. Se elas são compensadoras, dignas da nossa atenção e paciência, já é outra coisa.
Seja o que for, eis a seguir uma seleção do que de mais diferente pode ser encontrado nas livrarias tradicionais ou virtuais do mundo. São todos estrangeiros, originais no mínimo, inúteis no máximo, e podem satisfazer as necessidades de quem exige mais, muito mais, ou menos, muito menos. Depende de cada um. Todos podem ser encontrados na Internet (amazon.com, barnesandnoble.com ou encomendados na Livraria Cultura em São Paulo (livcultura.com.br).

Insultos e espaço
Digamos que você seja pessoa refinada, de cultura clássica e profunda, mas, como todo mundo, é vítima do estresse da vida moderna e para desabafar precisa, vez por outra, soltar alguns palavrões contra o vento ou contra terceiros. Nenhum problema, não precisa perder a fleuma e a elegância. Seu livro é "How to Insult, Abuse & Insinuate in Classical Latin", de M. Lovrice N.D. Madras, que como explica o título ensina a soltar cabeludos insultos e palavrões extraídos dos clássicos de Ovídio, Cícero e Horácio.
Quem anda mal na vida profissional, vítima, não das próprias limitações, mas da inveja, ciúmes e perseguição do patrão ou dos colegas, pode achar a solução em "Does Someone at Work Treats You Badly?" (Alguém no Trabalho Trata Mal Você?). Útil e volumoso manual com dicas para enfrentar e botar nos devidos lugares essa gentinha que não nos deixa em paz. Mais radical é "Sue the Bastards!" (Processe os Bastardos!), que vai direto ao ponto, indicando como resolver disputas, por bem ou por mal, achar o advogado certo e só ir ao tribunal para ganhar a causa.
No terreno do sobrenatural e do espacial, títulos e conteúdos podem abalar almas mais impressionáveis e fazer rir cínicos e incrédulos. "Coincidências: Chance ou Destino", de K. Anderson, procura analisar e, de vez em quando, até tenta achar explicação para as coisas sem explicação, com exemplos da vida real. Um deles, a da mulher que ganhou uma bolada nas corridas de cavalo e o dinheiro serviu para pagar seu imposto de renda, de soma exatamente igual.
James Randles aborda com pragmatismo e didatismo os mistérios do espaço profundo. Ele é da linha "discos voadores ao alcance de todos" e em seu livro, "Ufos and How To See Them" (Objetos Voadores Não Identificados e Como Vê-los), oferece aos curiosos dicas sobre como identificá-los e onde e quando aparecem. Já James Randi fez carreira e fama entre os americanos exatamente com o oposto: desmascarando o que outros não conseguem explicar, em "Enciclopédia de Certezas, Fraudes e Golpes do Oculto e Sobrenatural".
Enganadores, também, são os americanos George H. Scherr e Jim Glenn. Ou melhor, são e não são enganadores. Não tentam esconder o que pretendem em "Jornal de Resultados Irreproduzíveis".
O subtítulo do livro já revela que o conteúdo é pura tolice: "Continuando Um Legado de Circunlocução e Coisas Sem Sentido". O objetivo, os autores asseguram, é divertir e também gozar e desmistificar o linguajar complicado e pedante de intelectuais e falsos intelectuais que pontificam em todos os ramos de atividade: ciência, sociologia, artes, matemática, lingüística, medicina, meio ambiente etc.
No campo do sexo, então, as coisas estranhas abundam. Que tal "O Kama Sutra Gay", que dispensa maiores explicações? Ou "Talk Dirty To Me", que traduzido livremente seria "Fale Sujeira Para Mim".

Auto-ajuda
Mas é no território em que os americanos são pródigos, a auto-ajuda, que as obras esquisitas surgem em maior profusão. Entre elas, "Como Sair Vivo do Hospital", "Como Desaparecer Completamente e Nunca Mais Ser Encontrado" e "Como Localizar Qualquer Um, Em Qualquer Lugar, Sem Sair de Casa", "Como Se Lembrar de Piadas, Com 101 Delas Para Começar", "Como Abrir Qualquer Porta, Qualquer Fechadura" e "Platão, Não Prozac!"
Em esquisitice e surpresa, porém, poucos ganham da coletânea organizada por Carl Japikse, com escritos de um dos pais da pátria americana, cuja sabedoria, integridade e seriedade serviram, e ainda servem, de exemplo para toda a humanidade. Pois saiba que este monumento da política, da filosofia e da ciência tinha o seu lado pilantra e cínico, capaz de escrever ensaios do tipo "Como Escolher Uma Amante" e, pior ainda, sobre assunto tão chulo, que todos nós, na medida do possível, tentamos esconder ou disfarçar a qualquer custo. Preparado, caro leitor? Aí vai: o autor é Benjamin Franklin, e o título do livro, "Fart Proudly", isto é, "Peide Com Orgulho".


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