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INTERNET
Passeio pela rede em busca de livros indica que a superespecialização resulta em títulos inusitados como "Platão, Não Prozac!"
Estranhas leituras para o novo milênio
FERNANDO MORGADO
especial para a Folha
O novo milênio está chegando,
sabe Deus o que vem por aí, o que
permanece e o que acaba. O livro,
espera-se, não deve sair de moda,
seja para ler, seja apenas como
presente. Mas não custa tentar se
integrar aos novos tempos em
que, muitos garantem, o convencional, o previsível, os Tom
Clancy, os Grisham, as Daniele
Steel, os Sidney Sheldon e outros
vão virar peças de museu ou, na
melhor das hipóteses, exemplares
de alguma cápsula do tempo.
Provavelmente em nenhuma
outra época, como agora, surge
no exterior tanto livro diferente,
inusitado, esquisito. Essa tendência, cada vez mais comum, parece
indicar que a palavra de ordem
será a superespecialização. Ou falta de assunto. A especialidade pode ser, quem sabe, a chave para
uma nova era de conhecimentos
úteis e inúteis, nosso passaporte
atualizado para um futuro e um
diferente mundo de leituras. Se
elas são compensadoras, dignas
da nossa atenção e paciência, já é
outra coisa.
Seja o que for, eis a seguir uma
seleção do que de mais diferente
pode ser encontrado nas livrarias
tradicionais ou virtuais do mundo. São todos estrangeiros, originais no mínimo, inúteis no máximo, e podem satisfazer as necessidades de quem exige mais, muito
mais, ou menos, muito menos.
Depende de cada um. Todos podem ser encontrados na Internet
(amazon.com, barnesandnoble.com ou encomendados na Livraria Cultura em São Paulo (livcultura.com.br).
Insultos e espaço
Digamos que você seja pessoa
refinada, de cultura clássica e profunda, mas, como todo mundo, é
vítima do estresse da vida moderna e para desabafar precisa, vez
por outra, soltar alguns palavrões
contra o vento ou contra terceiros. Nenhum problema, não precisa perder a fleuma e a elegância.
Seu livro é "How to Insult, Abuse
& Insinuate in Classical Latin", de
M. Lovrice N.D. Madras, que como explica o título ensina a soltar
cabeludos insultos e palavrões extraídos dos clássicos de Ovídio,
Cícero e Horácio.
Quem anda mal na vida profissional, vítima, não das próprias limitações, mas da inveja, ciúmes e
perseguição do patrão ou dos colegas, pode achar a solução em
"Does Someone at Work Treats
You Badly?" (Alguém no Trabalho Trata Mal Você?). Útil e volumoso manual com dicas para enfrentar e botar nos devidos lugares essa gentinha que não nos deixa em paz. Mais radical é "Sue the
Bastards!" (Processe os Bastardos!), que vai direto ao ponto, indicando como resolver disputas,
por bem ou por mal, achar o advogado certo e só ir ao tribunal
para ganhar a causa.
No terreno do sobrenatural e do
espacial, títulos e conteúdos podem abalar almas mais impressionáveis e fazer rir cínicos e incrédulos. "Coincidências: Chance
ou Destino", de K. Anderson,
procura analisar e, de vez em
quando, até tenta achar explicação para as coisas sem explicação,
com exemplos da vida real. Um
deles, a da mulher que ganhou
uma bolada nas corridas de cavalo e o dinheiro serviu para pagar
seu imposto de renda, de soma
exatamente igual.
James Randles aborda com
pragmatismo e didatismo os mistérios do espaço profundo. Ele é
da linha "discos voadores ao alcance de todos" e em seu livro,
"Ufos and How To See Them"
(Objetos Voadores Não Identificados e Como Vê-los), oferece aos
curiosos dicas sobre como identificá-los e onde e quando aparecem. Já James Randi fez carreira e
fama entre os americanos exatamente com o oposto: desmascarando o que outros não conseguem explicar, em "Enciclopédia
de Certezas, Fraudes e Golpes do
Oculto e Sobrenatural".
Enganadores, também, são os
americanos George H. Scherr e
Jim Glenn. Ou melhor, são e não
são enganadores. Não tentam esconder o que pretendem em "Jornal de Resultados Irreproduzíveis".
O subtítulo do livro já revela que
o conteúdo é pura tolice: "Continuando Um Legado de Circunlocução e Coisas Sem Sentido". O
objetivo, os autores asseguram, é
divertir e também gozar e desmistificar o linguajar complicado e
pedante de intelectuais e falsos intelectuais que pontificam em todos os ramos de atividade: ciência, sociologia, artes, matemática,
lingüística, medicina, meio ambiente etc.
No campo do sexo, então, as
coisas estranhas abundam. Que
tal "O Kama Sutra Gay", que dispensa maiores explicações? Ou
"Talk Dirty To Me", que traduzido livremente seria "Fale Sujeira
Para Mim".
Auto-ajuda
Mas é no território em que os
americanos são pródigos, a auto-ajuda, que as obras esquisitas surgem em maior profusão. Entre
elas, "Como Sair Vivo do Hospital", "Como Desaparecer Completamente e Nunca Mais Ser Encontrado" e "Como Localizar
Qualquer Um, Em Qualquer Lugar, Sem Sair de Casa", "Como Se
Lembrar de Piadas, Com 101 Delas Para Começar", "Como Abrir
Qualquer Porta, Qualquer Fechadura" e "Platão, Não Prozac!"
Em esquisitice e surpresa, porém, poucos ganham da coletânea organizada por Carl Japikse,
com escritos de um dos pais da
pátria americana, cuja sabedoria,
integridade e seriedade serviram,
e ainda servem, de exemplo para
toda a humanidade. Pois saiba
que este monumento da política,
da filosofia e da ciência tinha o seu
lado pilantra e cínico, capaz de escrever ensaios do tipo "Como Escolher Uma Amante" e, pior ainda, sobre assunto tão chulo, que
todos nós, na medida do possível,
tentamos esconder ou disfarçar a
qualquer custo. Preparado, caro
leitor? Aí vai: o autor é Benjamin
Franklin, e o título do livro, "Fart
Proudly", isto é, "Peide Com Orgulho".
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