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MEMÓRIA
Título inédito do pesquisador marxista britânico, morto no último dia 24, será lançado no Brasil em agosto
"Christopher Hill iluminou um século", diz Hobsbawm
SYLVIA COLOMBO
EDITORA-ADJUNTA DA ILUSTRADA
"Era um historiador repleto de
humanismo, discernimento e
charme". Foi com essas palavras
que o também historiador inglês
Eric Hobsbawm, 85, descreveu o
colega Christopher Hill (1912-2003), morto no último dia 24 de
fevereiro, aos 91 anos.
Em entrevista à Folha, por e-mail, Hobsbawm disse que os estudos e as opiniões de Hill influenciaram a historiografia inglesa e o comportamento político
dos intelectuais de sua geração.
"De um ponto de vista amplo,
Christopher Hill foi, junto com
Maurice Dobb [1900-1976], a figura mais importante na formação
da escola de pensamento marxista dentro da historiografia britânica. Os debates que levaram à
constituição do influente Grupo
de Historiadores do Partido Comunista (composto por mim,
Hill, Rodney Hilton, E.P.Thompson , V.G.Kiernan e outros) começou com seu pequeno ensaio
"The English Revolution" ["A Revolução Inglesa de 1640]", publicado em 1940. Hill era um pouco
mais velho que o restante do nosso grupo, e, por isso, se tornou
nosso líder. Também fundou e
presidiu nosso periódico, "Past &
Present'", diz Hobsbawm.
No Brasil, a obra de Hill, que só
contava com dois títulos traduzidos ("O Eleito de Deus" e "O
Mundo de Ponta-Cabeça", ambos
editados pela Companhia das Letras), ganha em agosto um reforço. A Record lança "A Bíblia Inglesa e a Revolução do Século 17".
No livro, Hill analisa o impacto
que a Bíblia exerceu na sociedade
de seu país no período, enfatizando sua utilização com propósitos
políticos e literários e sua influência nas colonizações.
Em geral, os estudos de Hill se
ocuparam em fazer uma revisão
da história da Inglaterra no século
17. O historiador via o período entre os anos de 1640 e 1660 como
impregnados de um espírito revolucionário e atacava a idéia tradicional de que a Revolução Inglesa havia sido uma espécie de
aberração dentro do processo histórico pelo qual passava o país.
"Do ponto de vista exclusivamente britânico, Christopher Hill
foi o maior historiador da Inglaterra no século 17 e do que eram
constituídas as ideologias revolucionárias do protestantismo puritano. Transformou a idéia geral
que se fazia do país durante o período que chamou de "O século da
Revolução", quando a Inglaterra
julgou e executou o seu rei -a
primeira vez que algo do gênero
acontecia na Europa- transformando-o, pouco depois, em uma
República", explica Hobsbawm.
A Revolução Inglesa teve lugar
durante o reinado da dinastia
Stuart, no século 17, em que uma
grave crise de poder entre o rei e o
Parlamento levou o país a uma
guerra civil e, logo depois, ao fim
do absolutismo. Entre os trabalhos de Hill sobre o período, destaca-se também uma biografia do
líder antimonarquista Oliver
Cromwell (1599-1658).
No teatro
Para Hobsbawm, o mais influente livro de Hill é "O Mundo
de Ponta-Cabeça" (1972). Curiosamente, a obra fez tanto sucesso
que chegou a ser adaptada para o
teatro e fez temporada no tradicional National Theatre de Londres, algo pouquíssimo usual para um ensaio acadêmico.
"Trata-se de um amplo e completo estudo sobre os ultra-radicais e os utópicos da Revolução
Inglesa. Na época, lembro-me de
que Hill recebeu inspiração do radicalismo estudantil que havia no
meio universitário dos anos 60.
Diferente de outros marxistas de
minha geração, ele manteve contato e seguiu interessado no radicalismo de 1968", diz Hobsbawm.
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