São Paulo, sábado, 03 de março de 2007

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Crítica/aventura

"A Fragata Surprise" comprova talento de escritor britânico

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

Em uma citação hoje de praxe, a série Aubrey-Maturin de romances escrita por Patrick O'Brian (1914-2000) foi descrita como os "melhores romances históricos já escritos" pelo escritor e editor Richard Snow, em uma resenha de capa do suplemento literário do jornal "The New York Times" em 1991.
Até então, O'Brian era um autor conhecido por poucos. Só começou a fazer sucesso de público em 1990, quando os livros da série foram reeditados nos Estados Unidos. Ele tinha então 75 anos e era celebrado por uma minoria de fãs, basicamente britânicos.
Pouco se sabia sobre ele até praticamente sua morte, em 2000. Fazia pouco que se descobrira que seu nome real era Richard Patrick Russ, e que ele era inglês, não irlandês. Tinha mudado de nome e de vida, largando a primeira mulher com dois filhos. Vivia semi-recluso no sul da França.
A série narra as aventuras de um capitão da Marinha Real, Jack Aubrey, e seu amigo médico e espião, Stephen Maturin.
O'Brian escreveu 20 romances entre 1970 e 1999 com os personagens (um 21º, incompleto, foi publicado postumamente em 2004). Dois deles serviram de base ao filme de Peter Weir de 2003, "Mestre dos Mares - O Lado Mais Distante do Mundo", com Russell Crowe no papel de Jack Aubrey.
"A Fragata Surprise" é o terceiro livro da série e é passado em boa parte em mares asiáticos. Aubrey recebe o comando do navio que praticamente durará o resto da série, uma fragata pequena, menos poderosa que navios maiores dos vários inimigos encontrados, franceses, espanhóis e também americanos. Ironicamente, no filme de Weir os americanos do livro tornam-se franceses; não dá pra imaginar um filme de Hollywood com americanos no papel de bandidos.
A ação, o combate naval, é o que menos interessa. A série é basicamente sobre relacionamentos humanos, centrada na amizade entre dois personagens bem diferentes, que rende bons momentos de humor sutil. Não são livros fáceis de traduzir. A linguagem da marinha a vela é difícil de entender em qualquer idioma.
Como declarou um biógrafo de O'Brian, Dean King, o fato de serem romances históricos excelentes, com perfeita caracterização de época e de linguagem, impedia que os críticos vissem que eram de fato literatura de primeira qualidade.
Como o próprio O'Brian escreveu em um livro de ensaios, "Patrick O'Brian: Critical Essays and a Bibliography" (Patrick O'Brian: ensaios críticos e uma bibliografia), "o romance histórico, como descobri com alguma preocupação depois de ter escrito dois ou três, pertence a um gênero desprezado". Os fãs não ligam. O ator Charlton Heston escreveu um texto elogioso, publicado nesse livro de ensaios e reproduzido no final da edição brasileira de "A Fragata Surprise". "O espanto é que os talentos de O'Brian tenham demorado tanto para ser adequadamente reconhecidos", escreveu o ator.


A FRAGATA SURPRISE     
Autor: Patrick O'Brian
Tradução: Alves Calado
Editora: Record
Quanto: R$ 44,90 (416 págs.)

Leia o primeiro capítulo


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