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"O Profeta" inaugura gênero carcerário francês
Produção de Jacques Audiard foi vista por 1,2 milhão de espectadores em seu país e bateu Michael Haneke no Bafta
Filme mostra a "educação criminal" de um imigrante e revela que, também na França, atividades ilegais são comandadas da cadeia
DA REPORTAGEM LOCAL
Ao atender, por telefone, a
reportagem da Folha, o diretor
francês Jacques Audiard, de 58
anos, foi menos formal do que
costumam ser seus conterrâneos. Não conteve a curiosidade. "Queria muito saber como
vocês, brasileiros, receberão o
filme. É um tema que vocês conhecem muito bem. A minha
cadeia te convenceu?"
Audiard, que ficou conhecido no circuito de arte brasileiro
pelo thriller "De Tanto Bater
Meu Coração Parou" (2005),
admite que, de alguma maneira, "Carandiru" e "Pixote - a Lei
do Mais Fraco", de Hector Babenco, serviram de inspiração à
sua história carcerária.
"O Profeta", que estreia no
Brasil em 30 de abril, pode ser
definido como um filme sobre
a "educação criminal" de um
jovem. Pela primeira vez, somos levados para dentro de
uma cadeia francesa. Lá, como
aqui, é detrás das grades que alguns homens comandam as
atividades criminosas. Lá, diferentemente daqui, as cadeias
não parecem masmorras. Mas
não deixam de ser "escolas" para o aprendizado da violência e
do exercício de poder.
Vencedor do Grande Prêmio
no Festival de Cannes, em
2009, o filme conquistou, no
último sábado, nove troféus no
César, o mais importante prêmio do cinema francês, e vendeu mais de 1,2 milhão de ingressos no país. No próximo
domingo, disputará o Oscar de
melhor filme estrangeiro. Nessa mesma categoria, Audiard
bateu, há duas semanas, "A Fita Branca", de Michael Haneke,
no Bafta, o Oscar inglês.
"Isso tudo nos mostra que o
filme tem alguma força", diz o
cineasta. "O cinema francês
não faz filmes de prisão. Não
conhecemos esse gênero e
tampouco conhecemos nosso
sistema carcerário, salvo por
alguns documentários. O imaginário carcerário de um francês é, sobretudo, o imaginário
construído pelo cinema norte-americano."
Além da narrativa complexa,
que vai do drama social ao suspense, "O Profeta" chama a
atenção pelo elenco composto,
sobretudo, por rostos desconhecidos. "Estava decidido a
trabalhar com caras novas. Se
reconhecessem o ator logo que
o filme começasse, os espectadores já não se sentiriam tão
dentro da cadeia." Ele misturou então não atores e atores
de teatro a uma figuração composta por ex-presidiários.
O protagonista, Malik El Djebena, é um jovem de 19 anos
que ascende "socialmente" naquele sistema. "Não sabemos o
que teria acontecido a ele caso
não tivesse ido parar na prisão.
Será que teria descoberto sua
inteligência da mesma maneira?", pergunta.
Pouco sabemos
da história de Djebena antes de
sua chegada, com ar tímido, à
cadeia de leis incógnitas. É por
meio dele que esse mundo se
revela ao espectador. "Ele deve
tudo o que tem à prisão."
Audiard diz que, apesar de
ter causado certo espanto no
país, o filme foi bem recebido
nas cadeias. "Os diretores das
prisões, por exemplo, ficam felizes pelo fato de terem sido representados, dessa história ter
vindo a público. É como se eles
tivessem passado a existir."
(ANA PAULA SOUSA)
Acompanhe a cobertura
completa Oscar
http://www.folha.com.br/1003213
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