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MÚSICA
Crítica/ "Berg & Beethoven Violinkonzerte"
Jovem violinista alemã faz gravação impecável em CD
Arabella Steinbacher interpreta músicas de Berg e Beethoven com virtuosismo
SIDNEY MOLINA
CRÍTICO DA FOLHA
Foi o compositor Robert
Schumann (1810-1856)
quem escreveu que "a
estética de uma arte é a das outras; só o material é diferente".
No meio do segundo movimento do "Concerto para Violino",
de Alban Berg (1885-1935), depois do ponto culminante, a linguagem atonal dá lugar a uma
citação, totalmente instrumental, do coral "Es ist Genug" (já
basta), extraído da "Cantata"
BWV 60, de Johann Sebastian
Bach (1685-1750). A partitura
traz um preciosismo: abaixo de
cada nota, Berg coloca também
o texto do coral, como se a intenção das palavras pudesse
ecoar através da melodia.
Com o "Concerto para Violino" op. 61 de Beethoven (1770-1827), a obra integra o CD da jovem violinista alemã Arabella
Steinbacher à frente da Orquestra Sinfônica WDR de Colônia, sob a direção do maestro
letão Andris Nelsons.
O aforismo de Schumann comenta a construção (típica do
século 19) de um "sistema das
artes", para o qual uma essência comum, a "Poesia", poderia
transcender a especificidade
das diferentes linguagens.
Que o "Concerto" de Berg,
escrito em 1935 -entre as ruínas de uma guerra e a premonição de outra- tentasse juntar a
seu modo os cacos do romantismo com o dodecafonismo
(técnica desenvolvida nos anos
1920 por Schoenberg, que consiste em ordenar as 12 notas da
escala em uma série que serve
de estrutura para a construção
da peça) é um paradoxo que
não foi bem aceito pelos formalismos dos anos 40 e 50. Alheio
a essas discussões, o "Concerto" foi um sucesso já na estreia.
A interpretação que Arabella
Steinbacher faz dele também é
impecável. Seu som não perde a
beleza nas passagens virtuosísticas, e a maturidade que demonstra faz lembrar o violinista Isaac Stern (1920-2001), responsável pela lendária gravação do concerto de Berg sob a
regência de Leonard Bernstein.
No trecho do coral de Bach
(faixa 2, a partir de 7m20) ela
encontra recursos expressivos
adicionais, e parece preferir enfrentar com delicadeza a crise
entre o verbal e o puro som,
sem tentar forçar o indizível. O
"Concerto" de Beethoven merece igual atenção, e soa mais
leve do que de costume ao seguir -na inversão cronológica
proposta pelo disco- o de Berg.
Filha de uma cantora japonesa e do pianista da Bayerische
Staatsoper, Steinbacher nasceu
em Munique em 1981, e começou a estudar violino aos três
anos, pelo método desenvolvido pelo grande educador japonês Shinichi Suzuki (1898-1998). Sua discografia tem crescido com rapidez, e um CD com
obras de Dvorák e Szymanowski foi lançado praticamente
junto com este. Nos dois trabalhos ela utiliza um espetacular
Stradivarius de 1716.
Seria impossível que o álbum
atingisse essa qualidade sem a
competência do jovem regente
Andris Nelsons com a Sinfônica WDR: além do rigor com as
dinâmicas e a homogeneidade
entre os naipes, ele sabe oferecer, generosamente, todo o espaço necessário para abrigar a
arte de Arabella Steinbacher.
BERG & BEETHOVEN VIOLINKONZERTE
Artista: Arabella Steinbacher / WDR
Sinfonieorchester Köln / Andris Nelsons
Lançamento: Orfeo
Quanto: R$ 97, em média
Avaliação: ótimo
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