São Paulo, segunda-feira, 03 de abril de 2000


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DOCUMENTÁRIO

"Rap" canta parabéns para o Brasil

do enviado a Recife

"O Rap do Pequeno Príncipe contra as Almas Sebosas", o já tão falado filme da nova cinematografia nacional, está para o cinema brasileiro recente assim como o CD "Sobrevivendo no Inferno", do grupo de rap paulistano Racionais MCs, está para a música jovem do país.
A produção pernambuco-carioca de 75 minutos foi finalizada a tempo para ganhar sua avant-première na noite de sábado no festival de Recife, como grande atração de encerramento do evento, fora da competição de longas-metragens.
O filme estréia, apenas em Recife, até junho. Em agosto, deve "descer" para São Paulo e Rio. Antes, porém, "Rap" será exibido nas duas capitais no festival de documentários É Tudo Verdade, nos próximos dias.
Contundente, seco e estiloso, o documentário de Paulo Caldas (co-diretor de "Baile Perfumado") e Marcelo Luna narra capítulos do Brasil que certamente não integram a lista de histórias a serem contadas nas comemorações dos 500 anos.
Tal qual o trabalho dos Racionais, "Rap" nasceu para incomodar. O papel do filme é lembrar que bem ao redor dos grandes centros urbanos que organizam festivais de cinema em geral existe uma terra largada, habitada por excluídos, lugar sem lei, sem regra social, em uma guerra de sobrevivência que em geral só há perdedores.
Fazendo arte em cima desse status quo infeliz, o talentoso Paulo Caldas e seu parceiro Luna imprimem cinema autoral na real história de jovens "heróis" do violento bairro Camaragibe.
O ideal de ambos, um músico e um matador, é salvar a comunidade da guerrilha urbana com as próprias mãos. Na mão de Garnisé está a força da percussão. Ele é baterista do Faces do Subúrbio, um dos quase 50 grupos de rap que dão som à região, movimento que, segundo o protagonista, tira a juventude local da violência, em direção à integração pela música.
Na mão de Helinho, um rapaz com uma impressionante face de anjo, está um revólver, instrumento de limpeza que "higieniza" Camaragibe dos estupradores e daqueles que fazem "mal" à comunidade do bairro. Helinho, o príncipe do filme, confessou mais de 44 assassinatos, mas o número informal chega a 65. Em pouco menos de três anos.
"Rap" é feito da busca pela justiça por Garnisé e Helinho, como eles a entendem. Tudo à luz da habilidade dos diretores do filme. Tanto atrás da câmera como diante dela, é tudo verdade. (LR)


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