São Paulo, segunda-feira, 03 de abril de 2000


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BALANÇO
Baudrillard participou do evento no Sesc Vila Mariana
Seminário faz relação entre violência e crise de visibilidade

CAMILA VIEGAS
especial para a Folha

O seminário internacional Imagem e Violência realizado de 28 a 31 de março no Sesc Vila Mariana atraiu 726 inscritos. O evento foi organizado pelos professores Dietmar Kamper, da Universidade Livre de Berlim, e Norval Baitello, diretor da Faculdade de Comunicação e Filosofia da PUC-SP, e surgiu a partir do diagnóstico obtido num workshop realizado na Casa das Culturas do Mundo em Berlim, em 1999, o qual relacionava a violência com a crise da visibilidade do mundo moderno.
Os professores abriram o seminário na última terça à noite falando respectivamente sobre o imaginário como relação humana com seu próprio corpo e sobre a cultura humana que se funda no princípio de devoração do acervo de informações já existentes para a criação de um novo imaginário.
A palestra mais esperada do evento foi a de Jean Baudrillard, professor da Universidade de Paris, que trouxe um estudo sobre a fotografia como mídia do desaparecimento.
Logo no início de sua conferência, ele citou Nietzsche que dizia que nós extinguimos juntamente com o mundo do real o mundo das aparências. Para Baudrillard, o universo perdido das aparências, entretanto, não deixa espaço para a um mundo objetivo. Para demonstrar a idéia mostrou diversas fotografias de sua autoria e auto-retratos do pintor espanhol contemporâneo Nebreda
"A reprodução das fotos na parede não estava muito boa e não sei se as pessoas entenderam a mensagem", disse. Baudrillard explicou que está acostumado a falar para grupos mais restritos, normalmente de estudiosos, e que num seminário dessas proporções acaba ficando com uma sensação ambígua de sucesso.
As alemãs Cristina von Braun, da Universidade de Humboldt, e Gerburg Treush-Dieter, da Universidade Livre de Berlim, foram surpresas positivas do seminário. Cristina, que é também diretora de filmes e teórica de história cultural, disse que hoje em dia até a orelha "pensa" com os olhos e usou como exemplo a ópera. Gerburg, por sua vez, é professora de sociologia do sexo e discutiu a identificação histórica feminina do "sacrifício das mulheres". Segundo ela, esse sacrifício, proibido nos discursos oficiais das culturas, encontrou expressão nos mitos e nos contos de fadas e usou como referência as histórias da criação e do apocalipse.
A conferência do professor Edgar de Assis Carvalho criticou o antropocentrismo e a maneira como os humanos lidam com conflitos por meio da violência. Como contraposição, citou a sociedade dos macacos bonobos, nossos primos, que resolvem seus conflitos por meio do sexo.
As conferências dos brasileiros foram, em geral, muito bem recebidas, especialmente a do médico psicoterapeuta José Angelo Gaiarsa, que falou sobre a história natural da agressão e a crueldade do homem por meio de imagens e de maneira mais direta e acessível ao público geral.


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