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CULTURA JAPONESA
Cem discípulos de Nenpuku Sato (1898-1979) tentam manter viva tradição dos poemas de três versos
Mestre do haicai ganha homenagem
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
das Regionais
Quando Nenpuku Sato quis deixar o Japão, aos 29 anos, para tentar a vida no interior de São Paulo,
em 1927, o mestre de poesia Kyoshi
Takahama deu a ele um mandamento: "Vá e semeie o haicai (poema japonês) na nova terra".
Enquanto esteve vivo, Sato morou no Brasil e cumpriu o mandamento de Takahama, um dos principais mestres do haicai (haiku) japonês -poema "instantâneo", de
apenas três versos.
Hoje, passados 20 anos da morte
de Sato, em 1979 na cidade de Bauru (SP), os frutos que o haicaísta
dos trópicos plantou permanecem
inacessíveis aos brasileiros.
Pior: dos cerca de 6.000 discípulos que ele amealhou no Brasil, calcula-se que apenas mil se mantêm
em atividade. A maior parte deles
tem mais de 70 anos.
Amanhã cem discípulos de Sato
se reúnem em um pequeno clube
da Liberdade -bairro com maior
concentração de japoneses em São
Paulo- para iniciar as comemorações dos 20 anos de sua morte
(conforme manda a tradição budista) e dos 40 anos da morte de
Takahama (1874-1959).
É uma tentativa de manter vivo o
trabalho do poeta. No Brasil, no
auge de sua "pregação", Sato chegou a viajar por quatro Estados, visitando as colônias e ensinado sua
técnica. "Mas isso está acabando. É
uma arte restrita aos velhos, pois
os filhos dos imigrantes não se interessam muito pelo assunto e os
brasileiros não conhecem a língua", diz o poeta Gyudoshi Sato,
80, irmão de Nenpuku e organizador do encontro.
Apesar de ter produzido muito
-pelo menos 10 mil haicais-, Sato só publicou dois livros. Um no
início dos anos 50 e outro nos anos
60. O próprio poeta e tradutor Haroldo de Campos, um dos principais estudiosos do haicai no Brasil,
diz ter pouco conhecimento da
obra de Sato, apesar de reconhecer
sua importância.
Para o Brasil, esses haicais são
um tesouro que permanece praticamente inédito. "O haicai é como
uma máquina fotográfica, que registra um instante. A obra dele revela muito do Brasil", diz o poeta e
tradutor Maurício Arruda Mendonça, de Londrina (PR), que pesquisa o tema desde 1988.
Mendonça defende a inclusão de
Sato numa antologia de poesia no
Brasil. "Ele escreveu em japonês,
mas produziu com base no que viveu aqui", afirma ele, que já traduziu 40 poemas de Sato.
Nesses haicais estão registradas
as impressões dos imigrantes sobre a nova terra, sua natureza exótica e o trabalho árduo na lavoura.
A obra também marca a ascensão do haicai verdadeiramente nipônico no Brasil. Até então, predominava por aqui o haicai que já havia sido traduzido para o francês.
Encontros
Os encontros dos haicaístas
ocorrem pelo menos duas vezes
por ano. A tradição foi criada pelo
próprio Nenpuku Sato, há 40 anos,
para homenagear o primeiro aniversário da morte de Takahama.
Entre um ritual e outro, os participantes da celebração de amanhã,
na Associação dos Imigrantes da
Província de Iwate, passarão o dia
escrevendo haicais com base em
um tema ligado à natureza.
Segundo Gyudoshi, haicaístas japoneses do Paraná, Mato Grosso e
interior de São Paulo, além dos da
capital paulista, participarão do
encontro. Ao final, os melhores
trabalhos serão premiados.
Outro encontro será realizado
em outubro, mês da morte de Sato.
No ano passado, os encontros
marcaram o centenário de nascimento do poeta.
O encontro vai começar às 9h e é
gratuito. A associação fica na rua
Tomaz Gonzaga, 95. Liberdade.
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