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CRÍTICA
Autor faz um elogio à diversidade da percepção
SERGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA
Pesa contra o crítico o duplo
estigma de ser aquele que, em
poucas horas de trabalho, pode
inviabilizar meses de criação e,
por outro lado, ao se pautar apenas por parâmetros consagrados,
ter uma espécie de cegueira sistemática diante do inovador. Por isso, há uma certa expectativa irônica quando uma coletânea de
críticas é publicada: saindo do reino do efêmero, do jornal que embrulha o peixe no fim do dia, a crítica se torna alvo da crítica. É chegado o momento de checar, com
o distanciamento no tempo, o
quanto se errou ou se acertou nos
diagnósticos e prognósticos.
O interesse é maior quando esse
crítico tem a importância de Sábato Magaldi, cuja polivalência fica clara nesse "Depois do Espetáculo", antologia de críticas e palestras organizada por temas e
não cronologicamente. Superando a mera atribuição de valores, o
crítico se situa "depois do espetáculo", livre da obrigação de recomendar ou não a montagem.
Sábato se mostra então seguro
não só na apreciação crítica de autores consagrados como Goldoni,
Beckett e Brecht, além dos brasileiros Plínio Marcos, Maria Adelaide Amaral e seus colegas imortais da Academia Brasileira de Letras, mas ao traçar retratos de atores, de Duse a Fernanda Montenegro, assim como ao fazer a crítica dos críticos -de Léautaud, crítico francês do começo do 19, a
Anatol Rosenfeld e Decio de Almeida Prado- ou dando dedicação especial à cenografia de Santa
Rosa, Aldo Calvo ou dos tchecos
Svoboda e Vychodil.
Lado a lado, as críticas de Magaldi revelam a sua meticulosidade. Não raro cita parágrafos inteiros do texto analisado, o que tem
larga função didática. Não se reduza porém sua importância a
uma prudência acadêmica.
Quando desafiado, sabe se mostrar um polemista vigoroso. A polêmica com José Celso Martinez
Corrêa, em torno de "Gracias Señor", que fecha o volume, supera
o anedótico quando o obriga a explicitar o princípio que o norteia:
o elogio à diversidade.
Enquanto ao artista se perdoa
previamente a defesa apaixonada
de uma linha de pesquisa particular, o crítico deve se manter sempre aberto a qualquer estética, cobrando apenas coerência interna.
Assim, seguindo o princípio do
mestre Decio de Almeida Prado,
de "acreditar no Destino com os
gregos", louva em Brecht a luta
contra a opressão tanto quanto
em Ionesco a defesa do individualismo. E assume, entre o orgulho e
a humildade, o direito de errar do
crítico. Cabe agora ao leitor julgar
o quando acertou Magaldi.
Avaliação:
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