|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MÚSICA
Banda escocesa inicia série de apresentações em SP e lança coletânea
Com show e disco, Teenage Fanclub traz seu lirismo pop
LÚCIO RIBEIRO
COLUNISTA DA FOLHA
Parte boa da fantástica história
da juventude sônica que fez de
1991 um dos anos mais importantes do pop será contada no Brasil
nesta semana. E não só pela ilustre visita dos americanos Pixies.
O adorado grupo indie escocês
Teenage Fanclub dá seqüência à
turnê que começou sábado em
Recife, passa de amanhã a quinta
por São Paulo e vai acabar na sexta no Paraná, quando a banda fecha o primeiro dia do Curitiba
Pop Festival, injustamente conhecido (apenas) como o "festival
dos Pixies".
Não só. Para coincidir com a
chegada do Fanclub está saindo
no Brasil a coletânea "Four Thousand Seven Hundred & Sixty Six
Seconds", compilação que explica
por que o máximo de ternura no
rock escocês não é idéia exclusiva
do Belle & Sebastian.
"Temos esse "pacote Brasil" com
o qual esperamos corrigir o erro
de nunca termos tocado aí", disse
o vocalista Norman Blake à Folha, de sua casa em Glasgow.
Quarteto desenhado no final
dos 80, o TF explodiu junto com
tudo o que explodiu na música jovem naquele início dos 90. Quando em 91 o pop estava contaminado pelo espírito teen agressivo do
Nirvana, o TF soltava seu segundo álbum pelo selo Creation. E a
banda ousou cometer algumas
"heresias" involuntárias.
Não apenas foram escolhidos a
dedo pelos próprios Pixies para
abrir shows de sua turnê britânica, mas também foram eleitos autores do disco do ano (o fantástico
"Bandwagonesque") pela revista
americana "Spin", o que foi considerado "traição" inadmissível no
ano do lançamento de "Nevermind", do Nirvana.
"Essa história foi mesmo engraçada, mas normal para a época.
Naquele ano, as coisas aconteceram muito intensamente na música", lembra Blake. "Existiam
bandas boas por todos os lados, o
som eletrônico começava a ser
manipulado em clubes, revistas
foram lançadas, os CDs eram vendidos numa quantidade absurda.
A cabeça de quem vivia de música
pop estava a mil por hora. Gostar
de Nirvana, Teenage Fanclub e indie-dance era coisa normal."
E o que o TF oferecia vinha exatamente na contramão da energia
promovida pelo Nirvana. Eram
canções de amor singelas carregadas de guitarras estridentes, mas a
serviço do rock clássico, simples,
até banal de tão normal.
Os shows que SP começa a ver
no Sesc Pompeia amanhã trazem
uma banda que vive de... shows.
Desativada desde o finalzinho de
1999, o Teenage Fanclub se reúne
de quando em quando para fazer
lembrar para seu fã-clube eternamente adolescente como a banda
construiu sólida carreira na cena
independente botando de um jeito ou de outro a palavra "love" em
quase todas as linhas de todas as
letras de todas as músicas.
"Era o que nos movia, era o que
a gente sabia e ainda sabe fazer",
fala Blake. "De um modo natural,
nossa idéia sempre foi juntar rock
clássico com letras que falassem
de amor pela nossas garotas, por
nossos amigos, pelos nossos pais,
pelas montanhas da Escócia."
Sobre o "erro de nunca ter tocado no Brasil" a que Blake se referia lá em cima, o vocalista explica:
"Nossos amigos de Glasgow, do
Belle & Sebastian e do Mogwai,
criaram em nós uma expectativa
enorme sobre tocar no Brasil. Todos comparam a tocar no Japão."
"Então acho que perdemos
muito tempo longe do Brasil. Toda vez que tocamos no Japão, nos
sentimos estrelas pop pela atenção exagerada do público de lá. Se
no Brasil nossa música tiver a metade dessa recepção, nós vamos
nos sentir os Beatles."
TEENAGE FANCLUB. Onde: Sesc
Pompéia (r. Clélia, 93, SP, tel. 0/xx/11/
3871-7795). Quando: amanhã, quarta e
quinta, às 20h30. Quanto: R$ 35.
FOUR THOUSAND SEVEN HUNDRED &
SIXTY SIX SECONDS. Artista: Teenage
Fanclub. Lançamento: Sony. Quanto: R$
30, em média.
Texto Anterior: Música: Em novo disco, Morrissey ataca desafetos Próximo Texto: Literatura / crítica: Aos 70, "Castelo" de Wilson mantém-se em pé Índice
|