São Paulo, segunda-feira, 03 de maio de 2004

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MÚSICA

Banda escocesa inicia série de apresentações em SP e lança coletânea

Com show e disco, Teenage Fanclub traz seu lirismo pop

LÚCIO RIBEIRO
COLUNISTA DA FOLHA

Parte boa da fantástica história da juventude sônica que fez de 1991 um dos anos mais importantes do pop será contada no Brasil nesta semana. E não só pela ilustre visita dos americanos Pixies.
O adorado grupo indie escocês Teenage Fanclub dá seqüência à turnê que começou sábado em Recife, passa de amanhã a quinta por São Paulo e vai acabar na sexta no Paraná, quando a banda fecha o primeiro dia do Curitiba Pop Festival, injustamente conhecido (apenas) como o "festival dos Pixies".
Não só. Para coincidir com a chegada do Fanclub está saindo no Brasil a coletânea "Four Thousand Seven Hundred & Sixty Six Seconds", compilação que explica por que o máximo de ternura no rock escocês não é idéia exclusiva do Belle & Sebastian.
"Temos esse "pacote Brasil" com o qual esperamos corrigir o erro de nunca termos tocado aí", disse o vocalista Norman Blake à Folha, de sua casa em Glasgow.
Quarteto desenhado no final dos 80, o TF explodiu junto com tudo o que explodiu na música jovem naquele início dos 90. Quando em 91 o pop estava contaminado pelo espírito teen agressivo do Nirvana, o TF soltava seu segundo álbum pelo selo Creation. E a banda ousou cometer algumas "heresias" involuntárias.
Não apenas foram escolhidos a dedo pelos próprios Pixies para abrir shows de sua turnê britânica, mas também foram eleitos autores do disco do ano (o fantástico "Bandwagonesque") pela revista americana "Spin", o que foi considerado "traição" inadmissível no ano do lançamento de "Nevermind", do Nirvana.
"Essa história foi mesmo engraçada, mas normal para a época. Naquele ano, as coisas aconteceram muito intensamente na música", lembra Blake. "Existiam bandas boas por todos os lados, o som eletrônico começava a ser manipulado em clubes, revistas foram lançadas, os CDs eram vendidos numa quantidade absurda. A cabeça de quem vivia de música pop estava a mil por hora. Gostar de Nirvana, Teenage Fanclub e indie-dance era coisa normal."
E o que o TF oferecia vinha exatamente na contramão da energia promovida pelo Nirvana. Eram canções de amor singelas carregadas de guitarras estridentes, mas a serviço do rock clássico, simples, até banal de tão normal.
Os shows que SP começa a ver no Sesc Pompeia amanhã trazem uma banda que vive de... shows. Desativada desde o finalzinho de 1999, o Teenage Fanclub se reúne de quando em quando para fazer lembrar para seu fã-clube eternamente adolescente como a banda construiu sólida carreira na cena independente botando de um jeito ou de outro a palavra "love" em quase todas as linhas de todas as letras de todas as músicas.
"Era o que nos movia, era o que a gente sabia e ainda sabe fazer", fala Blake. "De um modo natural, nossa idéia sempre foi juntar rock clássico com letras que falassem de amor pela nossas garotas, por nossos amigos, pelos nossos pais, pelas montanhas da Escócia."
Sobre o "erro de nunca ter tocado no Brasil" a que Blake se referia lá em cima, o vocalista explica: "Nossos amigos de Glasgow, do Belle & Sebastian e do Mogwai, criaram em nós uma expectativa enorme sobre tocar no Brasil. Todos comparam a tocar no Japão."
"Então acho que perdemos muito tempo longe do Brasil. Toda vez que tocamos no Japão, nos sentimos estrelas pop pela atenção exagerada do público de lá. Se no Brasil nossa música tiver a metade dessa recepção, nós vamos nos sentir os Beatles."


TEENAGE FANCLUB. Onde: Sesc Pompéia (r. Clélia, 93, SP, tel. 0/xx/11/ 3871-7795). Quando: amanhã, quarta e quinta, às 20h30. Quanto: R$ 35.

FOUR THOUSAND SEVEN HUNDRED & SIXTY SIX SECONDS. Artista: Teenage Fanclub. Lançamento: Sony. Quanto: R$ 30, em média.



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