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MOSTRA
Até o dia 21, o CCBB exibe 20 filmes, como "Cidadão Kane", "Gritos e Sussurros" e "O Leopardo"
Ciclo explora o papel da fotografia no cinema
CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA
Todo mundo vai ao cinema para "ver" filmes, e muitos, depois,
quando gostam, justificam sua escolha com o argumento: "A fotografia é linda!".
Por trás da tarefa de agradar os
olhos do público, está um dos
profissionais mais importantes na
produção de um filme.
Ao lado dos roteiristas e dos
montadores, os fotógrafos constituem o grupo de técnicos mais indispensável na execução de um
trabalho coletivo cujas glórias
muitas vezes terminam apenas
nas mãos do diretor.
A mostra "Arte em Movimento
- A Fotografia no Cinema", em
exibição de hoje até o dia 21 de
maio no Centro Cultural Banco
do Brasil de São Paulo, traz, em 20
filmes, um histórico bastante esclarecedor dessa simbiose que,
quando perfeita, acaba em obras-primas.
Como muita gente já aprendeu,
o cinema não é só fotografia, pois
um filme visualmente "lindo" não
é necessariamente um bom filme.
Muitos artistas, aliás, dispensam
tanto tempo na elaboração visual
que podem se esquecer de outros
aspectos tão essenciais quanto a
direção de atores, a encenação ou
mesmo o ritmo.
Mas, quando o trabalho do fotógrafo é executado de maneira a se
conjugar com os outros desempenhos técnicos e artísticos, o que se
vê projetado na tela é bem próximo da perfeição.
O trabalho do fotógrafo só ganha total significado no cinema
quando se encontra em simbiose
com as intenções do diretor,
quando as imagens criadas encontram um equilíbrio orgânico
com a expressão de idéias e de
emoções propostas pelo maestro
dessa arte coletiva.
Alguns desses resultados perfeitos ou quase compõem a seleção
da mostra no CCBB, e sua visão
permite conhecer algo da história
do cinema e entender por que esses filmes hoje fazem parte do cânone da arte cinematográfica.
É o que se pode conferir no trabalho feito por Edgar Brasil no
mítico "Limite", permitindo a
Mário Peixoto transferir para a tela suas imagens mentais. Ou no
papel de Gregg Toland na criação
de significados a partir de manipulação do espaço e da luz em
"Cidadão Kane", de Orson Welles. Ou ainda a câmera-personagem proposta por Raoul Coutard
para as liberdades narrativas de
Jean-Luc Godard em "Acossado".
Outro é o papel assumido por
Sven Nykvist, acentuando através
de cores as angústias bergmanianas em "Gritos e Sussurros". Nesse ramo, da pura exploração pictórica, não faltam mestres, como
se pode ver na dramatização da
paleta de cores criada por Giuseppe Rotunno para Visconti em "O
Leopardo" e na captação das
nuances de figurino oferecida por
Christopher Doyle para os devaneios temporais de Wong Kar-wai em "Amor à Flor da Pele".
Nem sempre de cor, aliás, vive a
fotografia. Usar o preto-e-branco
como veículo para enfatizar significados foi uma forma inventada
pelo expressionismo, mas que teve inúmeros e geniais seguidores.
A prova está na luz árida inventada por Ricardo Aronovich para
Ruy Guerra em "Os Fuzis" ou nos
contrastes acentuados de luz e
sombra feitos por Michael Chapman para tornar ainda mais doloroso o sacrifício de um Cristo do
boxe retratado por Martin Scorsese em "Touro Indomável".
Diante desse conjunto de filmes,
torna-se fácil entender que a arte
do fotógrafo é muito mais do que
produzir uma imagem bonita.
Com ele, aquilo que não passa de
imaginação passa a brilhar diante
de muitos olhos como imagem
em ação.
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