São Paulo, segunda-feira, 03 de junho de 2002

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Tá Russo


Oca, em São Paulo, recebe no domingo "500 Anos de Arte Russa", com 350 obras do acervo do Museu Russo de São Petersburgo


FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

O arquiteto Oscar Niemeyer ganha uma homenagem especial em "500 Anos de Arte Russa", que será inaugurada no próximo domingo. Pela primeira vez, desde sua reabertura, em 2000, a Oca, sede da mostra, projetada pelo arquiteto brasileiro, recebe uma encenação que não esconde o esplendor do edifício.
"A Oca é uma obra-prima da arquitetura. Decidimos deixar suas estruturas visíveis não só pelas suas qualidades, mas também para criar um diálogo entre a mostra russa e a trajetória comunista de Niemeyer", afirma Felipe Tassara, que assina a cenografia junto com Daniela Thomas.
A idéia da exposição partiu da direção do Museu Russo, em São Petersburgo, que cede as 350 obras que estarão em exposição na Oca: "Estávamos organizando a itinerância da Mostra do Redescobrimento, programada para dezembro de 2003, no Hermitage, e tivemos a proposta de expor aqui parte do acervo do Museu Russo, que, por estar em reforma, poderia nos ceder muitas obras", diz Edemar Cid Ferreira, presidente da associação BrasilConnects, que organiza o evento. Segundo Ferreira, o custo da mostra é de U$ 2 milhões.
Para retratar os 500 anos de arte russa, a curadoria optou por cinco cortes estéticos: arte religiosa, simbolismo, vanguarda, realismo socialista e arte contemporânea. Na Oca, eles não seguem uma ordem cronológica. Mas o indicado é iniciar o percurso pelo segundo andar, onde estão os ícones dos séculos 15 a 18.
"Os ícones apresentam uma pintura altamente simbólica, com um significado complexo, que não é realista; mostramos aqui as várias escolas e técnicas, das Províncias, em geral mais simplificadas, às das grande igrejas", afirma Irina Soloviova, chefe do departamento de arte antiga do Museu Russo. A instituição tem em seu acervo 6.000 ícones, todos confiscados pelo regime soviético. "Foi uma forma de conservação das obras. Atualmente temos devolvido algumas, quando há solicitação, ou fazemos cópias; a religiosidade, que ficou por muitos anos no subsolo, está aumentando muito", diz Soloviova.
Se a sequência seguisse uma ordem cronológica, o correto seria então visitar o térreo, onde se encontram as obras do simbolismo, período em torno da virada para o século 20. "A união das artes tem início nesse movimento, cuja figura central é o produtor Sierguéi Diaghilev; foi ele quem trouxe ao Ocidente esse conceito", conta o curador Nelson Aguilar. Para representar tal importância, está exposto o retrato realizado por León Bakst de Diaghliev. "Bakst é significativo dos artistas do período, em geral grandes retratistas", afirma Aguilar. Outro destaque é o pano de boca do balé "Armide", também de Bakst.
No primeiro andar, está um dos conjuntos mais impressionantes da exposição: o da vanguarda russa. "Não há na história da arte um trabalho em grupo tão significativo de artistas que se confundiu com a vanguarda política", diz Aguilar. Além de militantes da revolução socialista de 1917, vários dos artistas expostos, como Malévitch, Chagall, Rodchenko, Tátlin e Kandinsky, "são criadores do próprio paradigma da arte moderna", segundo Aguilar.
Uma das obras mais significativas no módulo é "Contra Relevo", de Vladimir Tátlin, que adianta o conceito de instalação ao ligar duas paredes por cordas e objetos. Há ainda o lirismo de Chagall, que ganhou uma remontagem de sua casa, com móveis originais, quando vivia em Vitbesk.
Após tal choque de modernidade, impossível não constatar quão datadas são as obras do realismo socialista. A cenografia estilizou, no subsolo da Oca, uma parada. Arquibancadas foram montadas à frente de imensas pinturas épicas e os cartazes de filmes, a verdadeira arte para a massa, estão dispostos em mesas que formam uma foice e um martelo. A valorização da mulher no trabalho também é destaque nas pinturas.
Finalmente, na saída da Oca estão os artistas contemporâneos, grupo que exprime "cinismo contra a cooptação da vanguarda e o realismo pelo sistema", segundo Aguilar. Assim, a arte sai-se bem na mostra.

500 ANOS DE ARTE RUSSA - mostra com 350 obras do acervo do Museu Russo. Curadoria: Nelson Aguilar, Jean-Claude Marcadé, Evguénya Petrova e Joseph Kiblitsky. Quando: abertura domingo, às 19h (para convidados); de ter. a sex., das 9h às 21h; sáb., das 10h às 22h. Até 7/7. Onde: Oca (parque Ibirapuera, São Paulo, tel. 0/xx/ 11/3253-5300). Quanto: ainda a definir.


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