Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"REFORMA AGRÁRIA" NO DIREITO AUTORAL
Mentor do Creative Commons diz que proposta é ideal de sociedades livres
Para Lessig, "esperança está no Brasil"
DA REPORTAGEM LOCAL
Jamais houve um período na
história em que nossa cultura foi
tão controlada como hoje. A principal causa disso, afirma Lawrence Lessig, professor de direito da
universidade Stanford, é a lei.
Autor do recém-lançado "Free
Culture: How Big Media Uses
Technology and the Law to Lock
Down Culture and Control Creativity" (Cultura Livre: Como a
Grande Mídia Usa a Tecnologia e
a Lei para Obstruir a Cultura e
Controlar a Criatividade), Lessig
está no Brasil para discutir a implementação do Creative Commons, do qual é um dos criadores.
A obra pode ser baixada gratuitamente em www.free-culture.cc.
De acordo com sua licença, "Free
Culture" pode ser redistribuído,
copiado e até reutilizado em outros livros, desde que para fins
não-comerciais e que, ainda, o
nome de Lessig seja citado.
(DA)
Folha - Que mudança a internet
trouxe no modo como a cultura é
produzida atualmente?
Lawrence Lessig - A tecnologia
digital, não só a internet, possibilitou às pessoas produzirem cultura de uma maneira nova. A possibilidade de samplear conteúdo e
remixá-lo, fazer colagens. E, por
ser tão barata, mais pessoas podem participar criativamente.
Folha - O que você quer dizer
quando se refere a "cultura livre"?
Lessig - Devemos pensar cultura
livre como expressão livre, mercado livre ou sociedade livre. Não
significa que não haja propriedade, mas que os limites da propriedade estejam balanceados por valores importantes de acesso e democratização de conteúdo. É um
ideal que a maioria das sociedades livres respeita. Os Estados
Unidos certamente respeitaram
por muito tempo, mas acho que
perdemos isso recentemente.
Folha - Dá para detectar o momento em que os EUA deixaram de
ser uma cultura livre?
Lessig - Não tenho certeza. É como o sapo colocado em uma panela de água fervendo. Ele nunca
percebe até que seja tarde demais.
Estamos vendo isso acontecer. Já
faz parte de nossa segunda natureza pensar que você precisa de
permissão para fazer qualquer
coisa com a cultura. E essa é a característica mais perigosa do sistema legal que está nascendo.
Folha - No livro, você afirma que a
inovação técnica prevaleceu sobre
os monopólios no passado. A internet não está conseguindo?
Lessig - Há duas coisas acontecendo. Uma é a atitude com a propriedade. Estamos mais céticos a
respeito do poder que o copyright
dá aos monopólios. A segunda é
que esse poder está mais forte
agora do que jamais foi. Ele é mais
invasivo e cobre todas as áreas.
Folha - As gravadoras continuam
processando quem baixa músicas
ilegalmente. O que o faz esperar
que isso mude em curto prazo?
Lessig - Acho que a indústria já
venceu a batalha no curto prazo.
Escrevo para alertar as pessoas do
porquê de esse resultado ser algo
com que deveriam se preocupar.
Folha - Você tem esperança?
Lessig - Não. Quero dizer, em
certo contexto. Quando vou ao
Brasil e vejo o que Gil está fazendo, acho que isso pode funcionar
como uma mensagem alternativa
ao governo dos EUA. É um grande motivo para ficar esperançoso.
Vamos ver as conseqüências.
Folha - Como convenceria um artista a adotar o Creative Commons?
Lessig - No momento, dou a ele a
chance de experimentar. Ver se
ajuda a divulgar e vender sua música e encorajar outras inovações
criativas em torno da obra. Se a
experiência for ruim, vá tentar alguma outra coisa. Não deve haver
uma ideologia que pregue um
único modo de produzir e distribuir música e que quem se desviar
disso passe a ser um criminoso.
Texto Anterior: "Reforma agrária" no direito autoral Próximo Texto: Mônica Bergamo Índice
|