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LITERATURA
Poeta, que participa das Rodas de Leitura, no CCBB do Rio, diz que situação política no país ainda é instável
Pávlovitch retrata melancolia sérvia
DA SUCURSAL DO RIO
Nos 13 anos (1987-2000) em que
ficou no poder, Slobodan Milosevic levou a Sérvia a guerras na
Croácia, na Bósnia, em Kosovo,
ordenando crueldades e genocídios. O poeta sérvio Miodrag Pávlovitch, 76, que está no Rio para
lançar o livro "Bosque da Maldição" (Editora da UnB) e participar hoje (às 18h30) das Rodas de
Leitura, no Centro Cultural Banco
do Brasil, diz que esse passado recente não permite a ninguém ver
seu povo como vilão.
"Na época, vários escritores falaram uma série de verdades sobre a situação do país. Mas ninguém, no mundo ocidental, nos
deu apoio. Ninguém deu suporte
à oposição na Sérvia", conta ele,
que, mesmo com o fim da era Milosevic, não chega a transbordar
de otimismo.
"A situação política na Sérvia
não é clara, transparente. Todos
dizem que devemos esperar algo
muito melhor, depois de tudo o
que se passou. Eu penso que haverá uma nova crise política."
Pávlovitch fala de política em
termos genéricos. Lembra que
nunca pertenceu a nenhum partido e que é apenas "alguém que está acompanhando os temas". Não
fosse a insistência da imprensa,
dificilmente falaria alguma coisa
sobre o assunto. Ele reconhece
que a política interfere na cultura
muitas vezes, mas prefere preservar, tanto quanto possível, a arte
dessas interferências.
"Eu penso que a poesia é política, mas não deve ser explicitamente política. A linguagem poética é oblíqua. Nunca deve ser direta. Se você quer ser direto, escreva artigos para jornais", diz ele,
admitindo, no entanto, que "não
podemos evitar a política". "Ela
tem se tornado uma forma muito
importante de revelação humana,
mas nem sempre a melhor."
Foi sob o impacto da ocupação
de seu país pela Alemanha nazista
durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) que Pávlovitch
começou a escrever. Os primeiros
poemas eram majoritariamente
sombrios, característica que se
manteve nos primeiros anos do
regime comunista na então Iugoslávia. Com a relativa abertura
do país a partir da década de 1950,
sua poesia também mudou.
"Fiquei mais esperançoso. Minha expressão poética se desenvolveu. E se tornou mais otimista
em contraste com o início", relembra.
Desenvolveu-se tanto que ele foi
logo alçado à condição de um dos
maiores poetas sérvios, ao lado de
Vasko Popa e Stevan Raítchkovitch. Sua obra tem imagens fortes, com muitas referências à natureza e beirando o surrealismo.
Os poemas são carregados de
símbolos, parte deles ligada a tradições da Sérvia, eslavas e também ligadas à cultura helênica,
uma das paixões do poeta.
"Muitos dos meus personagens
têm temperamentos melancólicos, não são bons em felicidade.
Eles precisam de símbolos para
não cair em desespero", explica
ele, cristão que já escreveu vários
poemas dedicados a Jesus Cristo.
Médico que se tornou editor (já
editou uma antologia de poesia
brasileira em sérvio) e escritor,
Pávlovitch vive em Belgrado e
tem se dedicado, nos últimos
anos, a escrever textos autobiográficos. Está voltando ao início e
recordando sua vida sob a ocupação nazista, entre outros momentos. "Venho fazendo isso porque
não vou viver para sempre e estou
buscando um certo final para minha obra", justifica.
(LUIZ FERNANDO VIANNA)
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