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TEATRO
"A Musa Carrancuda" aborda as relações do dramaturgo com a intelectualidade e com o Estado Novo
Livro analisa Nelson Rodrigues dos 40
CRISTINA GRILLO
da Sucursal do Rio
Nos anos 40,
após sua estréia
como dramaturgo com a peça "Vestido de
Noiva", Nelson
Rodrigues tornou-se um
"vanguardista maldito", visto
como responsável pela modernização do teatro brasileiro e por isso admirado pela intelectualidade.
A imagem do Nelson dos anos 40
era bastante diferente da que o autor tinha no final dos 60, quando
era considerado reacionário por
seu apoio ao regime militar.
As relações do autor com a intelectualidade dos anos 40 e com o
Estado Novo são o tema do livro
"A Musa Carrancuda", de Victor
Hugo Adler Pereira, que será lançado na próxima semana pela editora Fundação Getúlio Vargas.
"Quando "Vestido de Noiva'
estreou (em dezembro de 1943),
Nelson ainda não tinha noção do
papel que poderia ocupar. Depois,
percebeu que, para estar entre os
intelectuais, teria que desprezar o
público, como qualquer artista de
vanguarda faria", diz o autor.
Daí, explica Adler Pereira, surgem declarações de Nelson referindo-se a seu pouco interesse pela
platéia, como a frase "público é
com o bilheteiro".
Na análise feita em seu livro, ele
afirma que a dramaturgia de Nelson Rodrigues representava, para
os intelectuais, uma espécie de
versão teatral para o que havia
acontecido com outras manifestações culturais a partir da Semana
de Arte Moderna de 1922.
"Nelson se transformou em
uma espécie de musa do modernismo teatral e, por sua imagem
de maldito, virou uma musa carrancuda", afirma Adler Pereira.
Até a montagem de "Vestido de
Noiva" (dirigida por Ziembinsky e
encenada pelo grupo Os Comediantes), o teatro brasileiro seguia
a linha das comédias de costume,
desprezadas pela intelectualidade.
Em seu livro, Adler Pereira avalia que, se por um lado o surgimento da dramaturgia de Nelson
Rodrigues renovou o teatro brasileiro, por outro pode ter sido prejudicial, por ter levado a uma negação de toda a história anterior.
"A partir de Nelson e do apoio
que teve da intelectualidade, todo
o teatro feito anteriormente passou a ser visto com desprezo profundo. O teatro se transformou em
uma arte das elites", afirma.
A partir desse ponto, surge outro
paradoxo da obra de Nelson.
"Musa" do "teatro sério" proposto pelos modernistas, o autor
que tinha problemas com a censura era também incentivado pelo
governo a produzir suas peças.
"Ele era considerado uma referência para todos os "modernistas' que haviam sido cooptados
pela política cultural do Estado
Novo, na época gerida pelo então
ministro Gustavo Capanema
(Educação e Saúde)", diz.
Assim, a polêmica montagem de
"Vestido de Noiva" em 1943 só foi
possível graças à subvenção do Estado.
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