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ARTES PLÁSTICAS
Miguel Rio Branco vasculha suas obsessões
Miguel Rio Branco/Reprodução
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'Hanging Ghost', obra de Rio Branco exposta na galeria Camargo Vilaça
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EDER CHIODETTO
Editor-adjunto de Fotografia
O pretérito no presente é o futuro mais-que-perfeito que o artista
plástico e fotógrafo Miguel Rio
Branco, 51, nos reserva a partir de
hoje em 19 fotografias na galeria
Camargo Vilaça, em São Paulo.
São fotos feitas na academia de
boxe Santa Rosa, no bairro de
Santa Teresa, no Rio de Janeiro,
onde ele mora. Não há lutas, porém, em nenhuma das imagens.
Mesmo os atletas aparecem apenas como vultos. O enfoque de Rio
Branco é a poética da permanência e da passagem do tempo.
Correspondente no Brasil da mítica agência Magnum, Rio Branco
é cultuado pela crítica como um
dos melhores fotógrafos do mundo no uso da cor. No momento,
prepara uma instalação para a
próxima Bienal de São Paulo e o
"Livro do Silêncio", com lançamento previsto para novembro.
Leia a seguir entrevista feita durante a montagem da exposição.
Folha - Porque você escolheu a
academia de boxe para fotografar?
Miguel Rio Branco - Pelo fato de
ser perto da minha casa (risos). Na
verdade não me importa o tema, o
objeto fotografado. Me importa
como eu consigo projetar num determinado cenário o meu olhar.
Folha - Então você é um fotógrafo sem temas?
Rio Branco - Mais ou menos. Há
coisas que sempre retornam. Uma
certa marginalidade, uma decadência... Não tenho a preocupação
em fazer conotação social, mas um
trabalho mais metafísico. Acho esquisito fazer jornalismo e pendurar na parede de uma galeria.
Folha - O que sempre retorna é
uma obsessão...
Rio Branco - Sim, as obsessões
são minhas, não dos temas.
Folha - Fotografar é registrar a
finitude do tempo. O instante irrecuperável. Toda fotografia é a imagem da morte?
Rio Branco - A morte mesmo
nunca está na imagem. Só a possibilidade dela fica impressa. Como
nessas fotos, feitas num lugar decadente onde as pessoas se encontram e exercitam o físico. É vida e
morte justapostas.
Folha - Você não acha que a produção de imagens tende à banalização pelo excesso?
Rio Branco - Esse é o horror. Eu
tenho uma necessidade enorme de
abstrair. Quero oferecer portas para a abstração. Para não cair na
pasteurização, a única saída é se
autocentrar e tentar ficar imune às
influências. Por vezes, precisamos
nos desinformar.
Folha - Para fotografar hoje é
preciso deseducar o olhar?
Rio Branco - É preciso deseducar o olhar para fazer qualquer coisa. A originalidade está dentro de
nós, não na busca estéril do inédito. Isso é coisa de publicitário.
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