São Paulo, quarta, 3 de junho de 1998

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ARTES PLÁSTICAS
Miguel Rio Branco vasculha suas obsessões

Miguel Rio Branco/Reprodução
'Hanging Ghost', obra de Rio Branco exposta na galeria Camargo Vilaça


EDER CHIODETTO
Editor-adjunto de Fotografia

O pretérito no presente é o futuro mais-que-perfeito que o artista plástico e fotógrafo Miguel Rio Branco, 51, nos reserva a partir de hoje em 19 fotografias na galeria Camargo Vilaça, em São Paulo.
São fotos feitas na academia de boxe Santa Rosa, no bairro de Santa Teresa, no Rio de Janeiro, onde ele mora. Não há lutas, porém, em nenhuma das imagens. Mesmo os atletas aparecem apenas como vultos. O enfoque de Rio Branco é a poética da permanência e da passagem do tempo.
Correspondente no Brasil da mítica agência Magnum, Rio Branco é cultuado pela crítica como um dos melhores fotógrafos do mundo no uso da cor. No momento, prepara uma instalação para a próxima Bienal de São Paulo e o "Livro do Silêncio", com lançamento previsto para novembro.
Leia a seguir entrevista feita durante a montagem da exposição.

Folha - Porque você escolheu a academia de boxe para fotografar?
Miguel Rio Branco -
Pelo fato de ser perto da minha casa (risos). Na verdade não me importa o tema, o objeto fotografado. Me importa como eu consigo projetar num determinado cenário o meu olhar.
Folha - Então você é um fotógrafo sem temas?
Rio Branco -
Mais ou menos. Há coisas que sempre retornam. Uma certa marginalidade, uma decadência... Não tenho a preocupação em fazer conotação social, mas um trabalho mais metafísico. Acho esquisito fazer jornalismo e pendurar na parede de uma galeria.
Folha - O que sempre retorna é uma obsessão...
Rio Branco -
Sim, as obsessões são minhas, não dos temas.
Folha - Fotografar é registrar a finitude do tempo. O instante irrecuperável. Toda fotografia é a imagem da morte?
Rio Branco -
A morte mesmo nunca está na imagem. Só a possibilidade dela fica impressa. Como nessas fotos, feitas num lugar decadente onde as pessoas se encontram e exercitam o físico. É vida e morte justapostas.
Folha - Você não acha que a produção de imagens tende à banalização pelo excesso?
Rio Branco -
Esse é o horror. Eu tenho uma necessidade enorme de abstrair. Quero oferecer portas para a abstração. Para não cair na pasteurização, a única saída é se autocentrar e tentar ficar imune às influências. Por vezes, precisamos nos desinformar.
Folha - Para fotografar hoje é preciso deseducar o olhar?
Rio Branco -
É preciso deseducar o olhar para fazer qualquer coisa. A originalidade está dentro de nós, não na busca estéril do inédito. Isso é coisa de publicitário.



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