São Paulo, Quinta-feira, 03 de Junho de 1999
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CINEMA
Lei do Audiovisual vai ao pelourinho em SC

INÁCIO ARAUJO
enviado especial a Florianópolis

O 3º Seminário de Cinema e Televisão do Mercosul, em Florianópolis, começou na segunda-feira com os participantes colocando em questão a Lei do Audiovisual e, mais amplamente, a ausência de política governamental para o cinema e o audiovisual.
Luís Gleiser, diretor da Globofilme, foi logo às contas. Se um filme custa R$ 2,2 milhões e gasta mais R$ 600 mil no lançamento, precisará fazer 1,9 milhão de espectadores para reembolsar seu custo.
"Ninguém conseguiu chegar perto disso nos anos 90", diz ele. O filme que mais se aproximou desse alvo foi "Simão - O Fantasma Trapalhão", com 1,6 milhão. Como R$ 2,2 milhões é um número conservador (a média dos projetos apresentados ao Programa de Integração Cinema-TV -PIC- Cultura é de R$ 3 milhões, segundo Ivan Isola, diretor do programa), a situação complica-se ainda mais.
Para ele, a única maneira de tornar os filmes nacionais rentáveis consiste em fomentar a exibição e a distribuição, comprometendo esses setores com o cinema produzido no país.
Vera Zaverusha, ex-secretária para o Desenvolvimento do Audiovisual do Minc, sustenta que, com o sistema de "mecenato empresarial" criado para substituir a Embrafilme (a Lei do Audiovisual), o Estado abriu mão de qualquer controle do mercado. Como no seu entender os investidores querem ter vantagens além das concedidas pela lei (leia-se: querem ganhar comissões sobre os valores aplicados), o sistema atual "sai mais caro para o governo do que o subsídio dado até 1990 à Embrafilme".
Zaverucha e Gleiser concordam no que diz respeito ao papel das salas multiplex. Como pertencem majoritariamente a grandes companhias dos EUA, sua implantação no Brasil geraria dois problemas: a) o surgimento de um mercado tomado por salas aptas, tecnologicamente, a acolher os filmes americanos, mas não outros tipos de produtos; b) se antes as companhias remetiam à matriz lucros referentes aos filmes estrangeiros que exibiam, com as salas dominadas por companhias estrangeiras passam a remeter lucros também sobre a exibição dos filmes.
Ivan Isola, diretor do PIC, criticou ainda os orçamentos inflacionados da maior parte dos filmes que procuram co-produção com a TV Cultura, orçados, em média, em R$ 3 milhões. Para Isola, essa média poderia ser reduzida a R$ 1,8 milhão sem prejuízo para o resultado final dos filmes.
Se o recado é dirigido diretamente aos produtores, deixa implícito uma crítica à atual Lei do Audiovisual, que não impõe limites à captação de recursos.
Com isso tudo, espera-se que o coordenador da Secretaria para o Desenvolvimento Audiovisual do Minc, José Francisco Pereira do Vale, venha munido com respostas adequadas a Florianópolis, no dia 4. Até agora, a única unanimidade entre os palestrantes está na constatação de que falta muito, muito mesmo, para o Minc ter algo que se pareça a uma política para o setor.


O colunista José Simão está em férias


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