São Paulo, terça-feira, 03 de julho de 2007

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"Difícil é estar sob a pele do coreógrafo"

Baryshnikov diz se sentir mais livre "pelas coisas que já fez'; para ele, maior desafio após transição ao moderno é "entender as intenções'

Em cena nas três peças que apresenta no país, bailarino diz que ensaia todos os dias e que atuar com nova geração lhe dá "energia"

Sergio Perez - 12.jul.2006/Reuters
Mikhail Baryshnikov, que não dançava no país desde 98


INÊS BOGÉA
CRÍTICA DA FOLHA

Uma das grandes figuras da dança mundial, reconhecido por sua técnica primorosa e grande presença cênica, Mikhail Baryshnikov chega ao Brasil à frente da sua nova companhia, Hell's Kitchen Dance (cozinha do inferno), para apresentações no 25º Festival de Dança de Joinville, no Rio de Janeiro e em São Paulo.
Baryshnikov nasceu em 1948, em Riga (Letônia). Formou-se na escola do Kirov Ballet em 1969, dançando depois com a companhia. Durante uma apresentação no Canadá, em 1974, pediu asilo político. Mais tarde, em 1986, tornou-se cidadão americano.
Dançou com o Royal Ballet e com o Ballet da Ópera de Paris; foi bailarino do American Ballet Theatre e do New York City Ballet, onde George Balanchine (1904-83), grande mestre da dança neoclássica, desenvolveu seu trabalho. Foi também diretor do American Ballet Theatre e ator, estrelando o filme "O Sol da Meia-Noite" (1985) ao lado do dançarino e astro americano Gregory Hines, entre outros.
De 1990 a 2002, tocou o projeto White Oak Dance, com Mark Morris, remontando grandes peças da dança americana do século 20 -como se viu em São Paulo, em 1993.
Do clássico aos modernos e contemporâneos, encantado pelo desafio das diferentes linguagens e pela liberdade do movimento, Baryshnikov dançou coreografias de grandes figuras da modernidade americana, como Merce Cunningham, Yvonne Rainer e Trisha Brown. Na última vez em que dançou no Brasil, em 1998, já estava com 50 anos.
Se com White Oak ele trabalhou essencialmente com a memória viva das peças de dança, a partir de 2005 passou a lidar com a promoção de jovens criadores, ao inaugurar o Baryshnikov Arts Center (BAC), em Nova York. Este projeto levou ao surgimento, em 2006, da Hell's Kitchen Dance, com 14 jovens dançarinos.
O bailarino estará em cena nas três peças, todas de jovens coreógrafos: "Years Later" (2006), de Benjamin Millepied, "Leap to Tall" (2006), de Donna Uchizono, e "Come in" (2006), de Aszure Barton.
No final deste ano, Baryshnikov estreará, no New York Theatre Workshop, quatro peças não-verbais de Samuel Beckett, dirigido por Joanne Akalatis. Outro projeto é o lançamento de um livro com fotografias suas sobre Merce Cunningham: "Merce My Way" (Merce do meu jeito).
Veja abaixo alguns trechos da entrevista que Baryshnikov deu à Folha por telefone.

 

FOLHA - Qual é a grande memória que você tem de bailarino clássico?
MIKHAIL BARYSHNIKOV
- São tantas boas memórias, de parceiros, apresentações, lindos teatros, o glamour, as grandes aulas de balé, uma vida diferente. Mas o processo de transição, de bailarino clássico para as linguagens modernas e contemporâneas, foi natural, pois, enquanto dançava peças clássicas, já trabalhava algumas coreografias modernas.

FOLHA - Qual foi o maior desafio ao dançar os repertórios modernos?
BARYSHNIKOV
- Sempre a dificuldade é estar debaixo da pele do coreógrafo. Especialmente quando não se faz parte da companhia, é preciso realmente entender e aprender o estilo, a intenção do coreógrafo.

FOLHA - Como você faz para manter a sua forma?
BARYSHNIKOV
- Faço aulas de balé todos os dias e depois ensaio. Trabalho de seis a sete horas -e não sigo nenhuma dieta.

FOLHA - Por que não teve continuidade o White Oak? Olhando em retrospecto, quais foram os frutos desse trabalho?
BARYSHNIKOV
- Decidi não fazer mais tantas turnês. Optei por ter mais tempo para minha vida. Foi uma grande experiência, principalmente por trabalhar com muitos coreógrafos, tendo a oportunidade de me apresentar no mundo todo.

FOLHA - Por que a escolha deste nome [Hell's Kitchen Dance] para a companhia?
BARYSHNIKOV
- O BAC fica numa região conhecida por esse nome. Quando os imigrantes irlandeses vieram da Europa, a área habitada por eles em Nova York era chamada de Hell's Kitchen, pela turbulência.

FOLHA - Como se dá a escolha dos integrantes da companhia?
BARYSHNIKOV
- Por meio de audições. Os dançarinos são jovens saídos de universidades. A maioria vem da Juilliard School e da Tisch School of the Arts [New York University]. A companhia é resultado do trabalho desenvolvido no Baryshnikov Arts Center. O programa do BAC oferece bolsas de estudos, residências e espaço para trabalhar, com apoio de mentores artísticos. A verdade é a seguinte: eu gosto de conti- nuar dançando e, por motivos totalmente egoístas, eu crio a companhia.

FOLHA - Que conselho você dá aos novos dançarinos?
BARYSHNIKOV
- Tenho muitas sugestões, mas não um conselho. A decisão de se tornar bailarino é um grande passo na vida. Se é isso que você escolheu ser, sabe de todas as dificuldades, pois deve estudar vários anos. Você deve entender que trabalhará muito na vida. E ninguém pode fazer isso por você. O seu sucesso depende do quanto você deseja dançar.

FOLHA - Como é dançar ao lado dessa nova geração?
BARYSHNIKOV
- Sinto muita energia e prazer. Eu vivo o presente e o futuro. Posso parar amanhã, pode ser depois dessa turnê. Ou não. Nunca faço planos para o futuro.

FOLHA - E como é estar na cena?
BARYSHNIKOV
- Eu penso na peça, nunca sobre o passado. Estou interessado nas pessoas e no trabalho. As coisas que fiz me dão mais liberdade. Penso no que está sendo visto, na qualidade; penso em apresentar algo vivo, que mobilize o espectador. E o mais importante: em como as pessoas se sentem depois da apresentação.

NO 25º FESTIVAL DE DANÇA DE JOINVILLE


Quando: dia 18/7, às 20h
Onde: Centreventos Cau Hansen (av. José Vieira, 315, centro)
Quanto: de R$ 20 a R$ 80 (na bilheteria e pelos sites www.ticketmaster.com.br e www.festivaldedanca.com.br).


NO RIO DE JANEIRO

Quando: dia 20/7, às 20h30
Onde: Teatro Municipal (pça. Floriano, s/nº, centro, tel. 0/xx/21/2299-1643)
Quanto: de R$ 40 a R$ 200


EM SÃO PAULO

Quando: dias 24 e 25/7, às 20h30
Onde: Teatro Municipal (pça. Ramos de Azevedo, s/nº, tel. 0/xx/11/3222-8698)
Quanto: de R$ 50 a R$ 220 (vendas a partir de 9/7)



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