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"Difícil é estar sob a pele do coreógrafo"
Baryshnikov diz se sentir mais livre "pelas coisas que já fez'; para ele, maior desafio após transição ao moderno é "entender as intenções'
Em cena nas três peças que apresenta no país, bailarino diz que ensaia todos os dias e que atuar com nova geração lhe dá "energia"
Sergio Perez - 12.jul.2006/Reuters
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Mikhail Baryshnikov, que não dançava no país desde 98 |
INÊS BOGÉA
CRÍTICA DA FOLHA
Uma das grandes figuras da
dança mundial, reconhecido
por sua técnica primorosa e
grande presença cênica, Mikhail Baryshnikov chega ao
Brasil à frente da sua nova companhia, Hell's Kitchen Dance
(cozinha do inferno), para
apresentações no 25º Festival
de Dança de Joinville, no Rio de
Janeiro e em São Paulo.
Baryshnikov nasceu em
1948, em Riga (Letônia). Formou-se na escola do Kirov Ballet em 1969, dançando depois
com a companhia. Durante
uma apresentação no Canadá,
em 1974, pediu asilo político.
Mais tarde, em 1986, tornou-se
cidadão americano.
Dançou com o Royal Ballet e
com o Ballet da Ópera de Paris;
foi bailarino do American
Ballet Theatre e do New York
City Ballet, onde George Balanchine (1904-83), grande mestre
da dança neoclássica, desenvolveu seu trabalho. Foi também
diretor do American Ballet
Theatre e ator, estrelando o filme "O Sol da Meia-Noite"
(1985) ao lado do dançarino e
astro americano Gregory Hines, entre outros.
De 1990 a 2002, tocou o projeto White Oak Dance, com
Mark Morris, remontando
grandes peças da dança americana do século 20 -como se viu
em São Paulo, em 1993.
Do clássico aos modernos e
contemporâneos, encantado
pelo desafio das diferentes linguagens e pela liberdade do
movimento, Baryshnikov dançou coreografias de grandes figuras da modernidade americana, como Merce Cunningham, Yvonne Rainer e Trisha
Brown. Na última vez em que
dançou no Brasil, em 1998, já
estava com 50 anos.
Se com White Oak ele trabalhou essencialmente com a memória viva das peças de dança, a
partir de 2005 passou a lidar
com a promoção de jovens criadores, ao inaugurar o Baryshnikov Arts Center (BAC), em Nova York. Este projeto levou ao
surgimento, em 2006, da Hell's
Kitchen Dance, com 14 jovens
dançarinos.
O bailarino estará em cena
nas três peças, todas de jovens
coreógrafos: "Years Later"
(2006), de Benjamin Millepied,
"Leap to Tall" (2006), de Donna Uchizono, e "Come in"
(2006), de Aszure Barton.
No final deste ano, Baryshnikov estreará, no New York
Theatre Workshop, quatro peças não-verbais de Samuel Beckett, dirigido por Joanne Akalatis. Outro projeto é o lançamento de um livro com fotografias suas sobre Merce Cunningham: "Merce My Way"
(Merce do meu jeito).
Veja abaixo alguns trechos da
entrevista que Baryshnikov
deu à Folha por telefone.
FOLHA - Qual é a grande memória
que você tem de bailarino clássico?
MIKHAIL BARYSHNIKOV - São tantas boas memórias, de parceiros, apresentações, lindos teatros, o glamour, as grandes aulas de balé, uma vida diferente.
Mas o processo de transição, de
bailarino clássico para as linguagens modernas e contemporâneas, foi natural, pois, enquanto dançava peças clássicas,
já trabalhava algumas coreografias modernas.
FOLHA - Qual foi o maior desafio ao
dançar os repertórios modernos?
BARYSHNIKOV - Sempre a dificuldade é estar debaixo da pele
do coreógrafo. Especialmente
quando não se faz parte da
companhia, é preciso realmente entender e aprender o estilo,
a intenção do coreógrafo.
FOLHA - Como você faz para manter a sua forma?
BARYSHNIKOV - Faço aulas de
balé todos os dias e depois ensaio. Trabalho de seis a sete horas -e não sigo nenhuma dieta.
FOLHA - Por que não teve continuidade o White Oak? Olhando em retrospecto, quais foram os frutos desse trabalho?
BARYSHNIKOV - Decidi não fazer
mais tantas turnês. Optei por
ter mais tempo para minha vida. Foi uma grande experiência, principalmente por trabalhar com muitos coreógrafos,
tendo a oportunidade de me
apresentar no mundo todo.
FOLHA - Por que a escolha deste
nome [Hell's Kitchen Dance] para a
companhia?
BARYSHNIKOV - O BAC fica numa região conhecida por esse
nome. Quando os imigrantes
irlandeses vieram da Europa, a
área habitada por eles em Nova
York era chamada de Hell's
Kitchen, pela turbulência.
FOLHA - Como se dá a escolha dos
integrantes da companhia?
BARYSHNIKOV - Por meio de audições. Os dançarinos são jovens saídos de universidades. A
maioria vem da Juilliard
School e da Tisch School of the
Arts [New York University]. A
companhia é resultado do trabalho desenvolvido no Baryshnikov Arts Center. O programa
do BAC oferece bolsas de estudos, residências e espaço para
trabalhar, com apoio de mentores artísticos. A verdade é a
seguinte: eu gosto de conti-
nuar dançando e, por motivos
totalmente egoístas, eu crio a
companhia.
FOLHA - Que conselho você dá aos
novos dançarinos?
BARYSHNIKOV - Tenho muitas
sugestões, mas não um conselho. A decisão de se tornar bailarino é um grande passo na vida. Se é isso que você escolheu
ser, sabe de todas as dificuldades, pois deve estudar vários
anos. Você deve entender que
trabalhará muito na vida. E
ninguém pode fazer isso por
você. O seu sucesso depende do
quanto você deseja dançar.
FOLHA - Como é dançar ao lado
dessa nova geração?
BARYSHNIKOV - Sinto muita
energia e prazer. Eu vivo o presente e o futuro. Posso parar
amanhã, pode ser depois dessa
turnê. Ou não. Nunca faço planos para o futuro.
FOLHA - E como é estar na cena?
BARYSHNIKOV - Eu penso na peça, nunca sobre o passado. Estou interessado nas pessoas e
no trabalho. As coisas que fiz
me dão mais liberdade. Penso
no que está sendo visto, na qualidade; penso em apresentar algo vivo, que mobilize o espectador. E o mais importante: em
como as pessoas se sentem depois da apresentação.
NO 25º FESTIVAL DE DANÇA DE
JOINVILLE
Quando: dia 18/7, às 20h
Onde: Centreventos Cau Hansen (av.
José Vieira, 315, centro)
Quanto: de R$ 20 a R$ 80 (na bilheteria e pelos sites www.ticketmaster.com.br e
www.festivaldedanca.com.br).
NO RIO DE JANEIRO
Quando: dia 20/7, às 20h30
Onde: Teatro Municipal (pça. Floriano,
s/nº, centro, tel. 0/xx/21/2299-1643)
Quanto: de R$ 40 a R$ 200
EM SÃO PAULO
Quando: dias 24 e 25/7, às 20h30
Onde: Teatro Municipal (pça. Ramos
de Azevedo, s/nº, tel. 0/xx/11/3222-8698)
Quanto: de R$ 50 a R$ 220 (vendas a
partir de 9/7)
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