|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CINEMA/ESTREIAS
Crítica/"Inimigo Público nº 1 - Instinto de Morte"
Cinebiografia empilha eventos de bandido excêntrico
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
"Inimigo Público Nº 1 - Instinto de Morte" sofre de dois
problemas fundamentais (além
do título interminável). O primeiro é a conhecida incompetência do cinema comercial
francês, incapaz, ao filmar uma
biografia, de outra coisa que
não um acumular interminável
de fatos sem substância.
O segundo é que ninguém no
Brasil sabe quem foi Jacques
Mesrine, o inimigo público referido no título.
O primeiro problema é contornável: a cinebiografia de
Edith Piaf fez sucesso apesar de
ter o mesmo tipo de problema.
Mas era Piaf. Não que Mesrine
não mereça ser conhecido. Ele
faz parte da galeria de bandidos
extremamente audazes e imaginativos que a França produz
de tempos em tempos (talvez
seja uma evocação de Arsène
Lupin, o genial ladrão criado
por Maurice Leblanc e hoje lamentavelmente esquecido).
Os feitos de Mesrine são extravagantes. Um deles os representa bem: depois de armar
uma fuga de uma penitenciária
de segurança máxima, no Canadá (graças a sua capacidade
de observação, basicamente),
ele volta com um colega para
tentar livrar mais outros três
presidiários.
Mesrine não é um bandido
social, digamos assim. Veio de
uma família de comerciantes
bem-sucedidos. O essencial de
seu aprendizado criminal parece que se deu na Guerra da Argélia. O filme não esclarece se
seu "instinto de morte" foi adquirido ali. Parece que era violento desde a adolescência (o
filme nada esclarece a esse respeito). Em todo caso, esse é seu
temperamento quando volta da
guerra e logo se associa a um
grupo de gângsters ligados à
OAS, a célebre organização terrorista que pretendia, entre outras, matar De Gaulle.
Armadilha
De volta ao filme: ele começa
bem, valorizado pela presença
carismática de Vincent Cassel e
pela variedade de episódios
(guerra, assaltos a bancos, casamentos, violência contra cafetões, prisões etc.). À medida
que passa o tempo, no entanto,
o filme se ressente de uma ideia
forte que o unifique e se limita a
empilhar acontecimentos, como com Piaf. Para quem conhece sua trajetória, pode até
ser ilustrativo. Para quem não
conhece, significa pouca coisa.
Ou seja, as cinebiografias, assim como os filmes "baseados
em fatos reais", são antes de
mais nada uma armadilha para
cineastas medianos, caso de
Jean-François Richet, que tem
desenvoltura para a imagem,
mas nem tanto para as ideias.
Em tempo, "Instinto de Morte" é a primeira parte da cinebiografia de Mesrine e tem como base principal o livro escrito pelo próprio (quando estava
na cadeia, naturalmente).
INIMIGO PÚBLICO Nº 1 - INSTINTO DE MORTE
Direção: Jean-Francois Richet
Produção: França/ Canadá, 2008
Com: Vincent Cassel, Gerard Depardieu
Onde: a partir de hoje nos cines Cidade Jardim, Cine UOL Lumière, Espaço Unibanco Pompeia e circuito
Classificação: 14 anos
Avaliação: regular
Texto Anterior: Cinema/Estreia/Crítica/"Paris": Longa foca incertezas da maturidade e da solidão Próximo Texto: Cinema: Autópsia confirma asfixia de Carradine Índice
|